De Alberto Caieiro, "em Pessoa":

"Pensar incomoda como andar na chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais"

14/07/2012

ENQUANTO ISSO, NUM DISTANTE MÊS DE JULHO, 20 ANOS ATRÁS...

O Mesmo Lugar

As crianças sangram
carregando as pedras da pirâmide;
elas não podem se cansar, 
é uma poção de suor e sangue.

Falta o catalisador da lágrima - 
mas elas não podem chorar,
elas não devem gritar, 
valem seus suspiros e olhos fechados.

Nunca ouviram falar em liberdade
pois,
se ouvissem,
as convenceriam que são livres
tanto quanto peixes num aquário.

Os dias surgiam
cada noite caía,
como rochas em telhas de vidro.
Silêncio absoluto, sem gemidos,
sem murmúrios.

Estão cegas, mudas, surdas,
mas sabem tão bem o que acontece,
embora não façam ideia do que acontecerá
na velha sempre nova aurora.

E o mundo as conhece bem
ainda que finja não vê-las!,
porque nada pode ser maior
que a piedade de si mesmo.

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