De Alberto Caieiro, "em Pessoa":

"Pensar incomoda como andar na chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais"

31/12/2012

Parte 1 - antes que o calendário vire: resenhas, na ordem de leitura. Clube do Filme ("The film club"), David Gilmour

Conversando por telefone com meu amigo e compadre Renê, uns três meses atrás, por uma razão que não recordo exatamente ele citou o autor do livro, David Gilmour. Creio que muitos sabem ser este o nome do "lead guitar" do Pink Floyd, que ingressou definitivamente no grupo pouco antes da paranoia total do quarto fundador, Syd Barret.
Ouvira falar do livro anos atrás, quando do seu lançamento no Brasil. Atingiu a lista dos mais vendidos. Curioso com o tema (pai - David Gilmour, guitarrista do Pink Floyd - "educando" o filho com 3 filmes por semana), várias vezes pensei em comprar o livro. Uma vez, inclusive, uma compra pela internet falhou (lembro porquê não...)
Pois é.
Ao ouvir sobre David Gilmour - autor do livro "Clube do Filme" - comecei digressões e cotejos sobre a obra e o nome do autor com o Renê (que sabe tanto de Pink Floyd e Rock´n´roll quanto eu sei a conjugação do verbo "enrolar" em aramaico), fiz uma rápida pesquisa na superultramaravilha dos tempos modernos - a intelnéte - e percebi que, como dissera o Renê, David Gilmour autor do livro era um cineasta-documentarista canadense.
Dias depois, ele e a Lu, sua companheira, me trouxeram o livro emprestado. Não lembro se num sábado ou domingo.
Comecei a lê-lo no final da tarde de segunda-feira.
Na terça, pouco após do almoço, com muito nó na garganta, terminei a leitura.
Para além de quem seja este Gilmour ou de quais filmes ele tenha utilizado - ótimos, bons, medianos, detestáveis, para o próprio selecionador -, o que me ficou, sendo pai, é o quanto pode ser ao mesmo tempo única e complexa a relação com um filho. E quantas "apostas" fazemos na relação, sempre na expectativa do melhor, mas assumindo riscos que nos levam ao desespero enquanto cada processo não se resolve.
O autor bancou o abandono da escola pelo filho com a tática dos filmes. Viu o garoto quase morrer pelo uso de cocaína - algo que, na indicação da narrativa, aconteceu apenas duas vezes. Mas, de aposta em aposta, a verdade é que tudo deu certo. E a inteligência e perspicácia deste pai, em vários momentos, é que me travou a garganta e enxaguou os olhos: conseguirei eu, diante tantos obstáculos, chegar perto desta sabedoria?
O grande mérito de Gilmour foi o de transparecer a emoção de se ter um filho, educar um filho, amar um filho; de situações que nos levam a transigir, que é o contrário do que faríamos caso não se tratasse da paternidade; e de sermos intransigentes e contraditórios na relação não de graça, mas porque tudo tem seu tempo, tem sua hora, e cada um tem sua individualidade, maturidade, etc.
Difícil.
Mas maravilhoso, razão de viver.
Leitura obrigatória para quem é pai. Mais ainda se pai de filho homem, pela especificidade da história.

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