Última quarta, notícia fartamente
divulgada e comentada, morreu o menino Kevin na Bolívia durante uma partida de
futebol. Episódio lamentável, triste. Porém, não inédito. Em tempos de
campeonatos de futebol rolando - indo propositalmente para o lado do exagero - não passa um mês sem que morra um torcedor de futebol no Brasil por conta do
comportamento e do confronto de torcidas. Muitos episódios restam clara e
evidentemente relacionados com as tais “torcidas organizadas”; de tantos outros
nem se suspeita ou não são tratados assim na cobertura de imprensa. E justamente o não-ineditismo do caso revela o
triste mundo em que vivemos. E, das reflexões que podem ser feitas a partir do acontecido e da onda de informações gerada, duas me saltam aos olhos:
Primeiro: o acontecimento em Oruro, na Bolívia, foi claramente acidental. Fica evidente ao se observar o vídeo que começou a circular no final da tarde de quinta-feira, gravação de TV boliviana (programa “Zona Deportiva”).
Não digo isso para minimizar a gravidade, para circunstancializar,
diminuir ou buscar uma justificativa
pelo acontecido. Ao contrário! Porque, afinal de contas, como é que pode um
jovem, menor de idade (facilmente identificado no vídeo já citado, dispensáveis
as ironias e o tom de dúvida por conta da menor idade) faz uma viagem de
ônibus, por 3 dias, para assistir um jogo; entra num estádio de futebol, de
posse de tal artefato, que, por sinal, simplesmente, NÃO DEVERIA SER
COMERCIALIZADO (não deveria, mesmo
que seja legalizado) e, não bastasse tudo isso, resolve fazer uso do mesmo. Mostrou,
primeiro, que mal sabia o que era aquilo e, segundo, não fazia ideia de como
funcionava.
Quais valores este menino de 17 anos já tem consolidados em sua personalidade? Seriam tais valores exclusividade dele?
Quais valores este menino de 17 anos já tem consolidados em sua personalidade? Seriam tais valores exclusividade dele?
Demonstração do mundo do
vale-tudo. Do mundo onde, mais que acompanhar um time de futebol, o
espírito de grupo incita os piores comportamentos e leva à tamanha inconsequência. Do mundo onde grassa a ignorância
e a indiferença pela aprendizagem que, quando misturada com a prepotência de
saber tudo, transforma-se numa fórmula extremamente perigosa - senão mortal.
Para finalizar este primeiro
aspecto, é triste que todos nós tenhamos que admitir e concordar com o fato de
que apenas as amplas e pesadas punições (ao jovem, à “torcida organizada” e aos
dois clubes) pode remota e dificilmente diminuir a ocorrência de tragédias como
essa. Antes vivêssemos num mundo de outros valores, onde este comportamento em si fosse absoluta exceção - e não completa regra. Ridículo, triste, próximo à barbárie em todos os momentos - além de tudo, triste e trágico, neste caso.
Segundo: a prevalência do ódio. Há
tempos já refleti sobre o quão triste e até asqueroso pode ser o futebol,
esporte tão maravilhoso e de prática deliciosa (http://soexperimentos.blogspot.com.br/2011/07/do-futebol-para-vida.html)
De quarta-feira para hoje, este
quase asco da publicação mencionada se acentuou. Li e vi de colegas, de amigos, de adolescentes imaturos, de idiotas sentados à frente de um computador, de amigos, de adultos conscientes, de indivíduos extremamente bem formados e informados
(bem informados não pela mídia corrupta e sem vergonha que vende opinião), de pessoas evidentemente capazes de reflexões um pouco mais profundas e sérias, das mais variadas formas, ironias, suspeitas, dúvidas, piadinhas e sentenças que destilam pura e irracionalmente ódio contra um time de futebol. Apenas por
coincidência, neste caso (e esta última
menção é inútil para todos os que querem enxergar o clubismo em tudo, àqueles
que continuam defendendo com unhas e dentes os seus “partidos de futebol”, de alguns que tem tanta capacidade de enxergar verdades que pouco quer se mostrar mas que se perdem nesta armadilha quando o assunto é futebol - bom, menos mal que seja assim!),
este é o time para o qual digo torcer.
Em outras ocasiões, em comentários
feitos às notícias originadas por outros assuntos, a minha sensação talvez fosse
de indignação. Não é o caso. O que sinto
é tristeza. E pena em saber que o caminho é o de cada vez mais se afastar do
futebol. Ainda resisto. Ainda assisto. Ainda torço. Mas cada vez menos sei porquê. Afinal, desta vez o Corinthians é o
alvo. Insanamente, inconsequentemente, os vídeos, frases, comentários de notícias e publicações têm um tom que coloca todo corintiano como um
assassino. Como se todos os cidadãos,
crianças, adolescentes, adultos ou idosos que já morreram em conflitos ridículos originados pelo futebol tivessem morrido pelas mãos daqueles que torcem pelo Corinthians.
É uma postura extremamente infeliz. Circunscreve os comportamentos humanos, ou, melhor,
muitos dos péssimos comportamentos humanos, àqueles que torcem pelo
Corinthians. Não querem enxergar os fatos. Querem deixar claro o quanto odeiam os corintianos, no modo mais genérico. E, neste caso, não adianta individualizar o amigo, o primo, o vizinho, o colega de trabalho, o tio, o irmão, etc., como "bons corintianos". Isso não vai
nos tirar da miséria de comportamento donde estamos, não vai nos tirar esta corrida incessante pela volta à barbárie. Apenas obscurece as verdadeiras mazelas da sociedade humana.
Fosse tão simples, para resolver alguns dos problemas do mundo, bastaria decretar morte a todos os corintianos. Acontece que isso é apenas a revelação de tamanho ódio - então, mais um problema a resolver.
(P.S: mais piadinhas e ironias sobre o
título e a última frase serão desconsideradas e sumariamente excluídas).
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