Vai "Ipsis litteris", com erros e tudo mais...
BATAGUASSU
Sábado, 3:00 h da madrugada. Num ônibus:
— Pessoal, vamos dar uma paradinha aqui
para esticar as pernas, ir ao banheiro, comer alguma coisa... Falô? Por favor,
fechem as janelas porque vão lavar o ônibus. A gente sai em quarenta e cinco
minutos.
Toca descer do ônibus... Essa viagem não
acaba mais!
Vamos ao banheiro, faz-se o que se
precisa, lava-se as mãos e... Onde
enxugá-las? Na porta do banheiro, um senhor: chapéu e cigarro de palha, bem ao
estilo sertanejo. É ele quem nos entrega toalhinhas de papel para enxugarmos as
mãos. Espera pela "caixinha". Poucos contribuem.
Era, com
certeza, alguém de
muita idade. Barba
e cabelos completamente brancos. Trabalhando num banheiro fétido de
restaurante de beira de estrada, provavelmente por uma miséria, quem sabe até
só pela "caixinha"! Num lugar daqueles e numa hora como aquela... Só
pude pensar: que triste...
Lá vai
o ônibus. Chega ao destino, passa
a manhã,
a tarde, e lá vem o ônibus! Corre, cruza o planalto sul-matogrossense
debaixo do céu belíssimo naquela linda noite.
1:00 h da madrugada. Dentro do mesmo
ônibus, pouco menos de 24 horas depois:
— Pessoal, vamos dar uma paradinha aqui
para esticar as pernas, ir ao banheiro, comer alguma coisa... Falô? Por favor,
fechem as janelas porque vão lavar o ônibus. A gente sai em quarenta e cinco
minutos.
(Já ouvi esse discurso antes!)
Desço do ônibus e... Adivinhe! É o mesmo
restaurante!
Entro, vou ao caixa tirar a nota para o meu suco de laranja e vejo lá o alvará de
funcionamento expedido pela prefeitura municipal de Bataguassu, MS. Tomando meu
suco, lembro daquele senhor da madrugada anterior. Vou ao banheiro não pela
lembrança, mas por outros motivos mais óbvios. Entro lá e, a princípio, não o
revejo. Mas ao caminhar para o mictório, encontro-o. Lá está ele, rodo na mão,
tentando limpar os reservados, um a um.
Pude percebê-lo com mais atenção: fraco,
miúdo, encurvadíssimo e impressionantemente magro. Em pé, trabalhando (ou
tentando trabalhar) em plena madrugada, num lugar como aquele e com certeza por
um nada! Um trabalho até pesado, considerando o estado físico aparente de quem
o fazia.
Quanto tempo não fiquei
pensando naquilo? Por quantas vezes a imagem do velhinho não me voltou
nos últimos quinze minutos que passei ali?
Só deixei aquela imagem de lado após vê-la pela última
vez, na forma de um senhor sentado na guia fumando seu cigarrinho de palha, já
pela janela do ônibus. Refleti que existiam inúmeras pessoas procurando
trabalhar ou ganhar dinheiro de formas muito, mas muito mais tristes e feias
que aquela.
Até que me perdi em outras divagações
sobre a cidade de Bataguassu e tudo mais que existia e acontecia naquela noite,
debaixo daquele céu fantástico, até meio esbranquiçado de tanta estrela!
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