Eu realmente me desencantei com o futebol. Não tenho mais
dúvidas. Ainda gosto de assistir, mas hoje me limito muito mais aos jogos do
meu time e olha que, se tiver outra coisa pra fazer, não fico “batendo cartão”
na frente da TV, não. A vantagem são as cervejinhas geladinhas e uns “biliscos”
pra acompanhar (sou capaz de dizer que o futebol virou justificativa pra
cerveja).
Por isso, apesar do quase apaixonado incentivo à leitura do
livro pelo meu amigo Renê, meu prazer com a obra não foi tão grande quanto o dele, mas há motivos de sobra para
isso: alguns, por quem ele é, pela história pessoal do sr. Guedes Pereira; e da minha parte, porque teria sido (este prazer) muito maior há uns três anos atrás.
Tenho isso como certo.
Tenho isso como certo.
Mas é difícil não se
divertir, e muito, com a história do torcedor do Arsenal – o próprio Hornby, pois
trata-se de um relato biográfico – que, em um quarto de década, desde os onze anos de idade até a confecção do livro, assistiu
praticamente todos os jogos do time no Highbury, a “casa” dos gunners até a inauguração
do “Emirates Stadium” em 2006, entre pais, madrasta, irmãos, namoradas, amigos, viagens, empregos, desilusões e depressões, sempre eles e os fatos pontuados pela, como ele afirma, obsessão pelo time. E a diversão não vem só pelo fato da narrativa abordar o mais popular esporte do mundo, mas porque Honby consegue fazer isso sem o rigor e tecnicismo jornalístico e ao mesmo tempo com tremenda habilidade para descrever lances, gols, falhas e enredos completos - incluindo os dramas - de uma partida de futebol.
Além de tudo, o muito bom livro liga de imediato a atenção de todos aqueles que efetivamente acompanham o futebol porque, muitas vezes, toca em assuntos que revelam problemas
do futebol inglês nas décadas de 70, 80 e 90 que, acreditem, foram ou são idênticos
a problemas que vivemos no futebol brasileiro. Como exemplos, podemos falar da construção de arenas ou a ampla modernização de estádios que os ingleses procederam a partir da segunda metade da década de 90, e que o Brasil só começou, por uma razão muito específica, nos últimos anos. Assim como nós, eles tinham - e têm - estádios muito antigos, no caso deles centenários (não, não é força de
expressão) e em péssimos estados; ou e dos problemas que os times e as torcidas tiveram quando a TV tomou conta do esporte e marcava, a seu bel prazer, horários estapafúrdios para os jogos; e nem vale apena se estender muito no óbvio, a violência das torcidas, tema que aliás é tratado com muito maior abrangência no ótimo livro do estadunidense Bill Buford, Entre Vândalos (“Among the thugs”), citado no próprio Febre de bola, aliás já lido e futuro tema de resenha, depois de uma releitura - de certa maneira, e creio que inconscientemente, o autor até mesmo cria um clima de suspensa para chegar no lamentável episódio de Hillsborough, deixando-nos aterrorizados ao evidenciar que a situação de Sheffield era comum em todos os estádios ingleses.
Desencantado com o esporte bretão, cansado de suas
negociatas, indignado com tanto permeio de falta de caráter, irritado pela
mercantilização e, consequentemente, tomado por uma “antipaixão” pelo futebol, eu
me diverti demais com a leitura de Hornby pois, se não é bobamente engraçada, certamente
é muito bem humorada - não à toa, ele é o mesmo autor de Alta Fidelidade (“High Fidelity”),
brilhantemente adaptado para o cinema num filme dirigido por Stephen Frears e
estrelado pelo ótimo John Cusack - imagine só como se divertirão aqueles que
ainda se rendem aos encantos do futebol!
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