De Alberto Caieiro, "em Pessoa":

"Pensar incomoda como andar na chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais"

16/08/2011

ESSA JÁ ERA LEMBRANÇA!

Ao refletir sobre determinada época na qual, ao invés de viver, eu escrevia como era viver, senti-me enraivecido do absurdo daqueles dias, das tantas oportunidades que desperdicei, do quanto (e  quantas vezes!) disfarçadamente me ofereciam tanto e eu, tantas vezes percebendo, algumas não, abri mão. Então, decidi que ter vivido desta forma era completamente errado! Para demonstrar meu incômodo de tanto desperdício de vida trocada por uma compulsiva e exclusiva paixão pelas palavras... Escrevi!

Porque não dormem incólumes aos vícios d´alma
enquanto o poder da palavra entorpece a vida?

Porque despertam sempre tensas, prontas
a fazer perder o doce instante da poesia?

Porque, enquanto caminho tendo adormecido
rancorosas lembranças, vos levantam e vêm de pronto
derrubar a paz e a vulgaridade acariciante em que
ponho minha mente constantemente matizada?

Porque, além de tudo, vosso desfalecimento me comove
a ponto de tomá-las em meu colo e dar-lhes sanidade,
ordem,
em meio a desordem onde ordenam-se meus sentimentos?

Por quê?

Porque não suspendem a pseudoeterna hibernação
que quase sempre me convence da calmaria?
Por quê? Por quê? Se não sei, aguardo a chance!

Quando, um dia, meus atos estabelecerem grilhões
para vossas tão traiçoeiras fugas,
estarei pronto a amar devotamente
louvando e poetisando a vida,
mas com o cálido hálito humano.


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