De Alberto Caieiro, "em Pessoa":

"Pensar incomoda como andar na chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais"

16/12/2011

NENHUMA DIFERENÇA???

Em virtude do episódio parcialmente divulgado pela imprensa, da publicação do livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., vejo mais uma vez pessoas afirmando que não há diferença entre o PSDB e o PT.

Ora!! Isso me irrita e incomoda profundamente!! As diferenças são evidentes, saltam aos olhos. Tal afirmação é típica do cego-que-não-quer-ver! Posso rapidamente listá-las para pontuá-las aos incautos e aos radicais:

1 – A sigla PSDB tem 4 letras -   a sigla PT tem duas;
2 – Apesar de terem, na sigla, a letra “P” de Partido em comum, o complemento de um é da Social-Democracia Brasileira - no de outro é dos Trabalhadores;
3 – Em um, predominam as cores azul, amarela e branca - no outro, a vermelha  e a branca;
4 – O símbolo de um é o animal tucano -  de outro, uma estrela estilizada;
5 – Um atualmente é oposição e já foi governo, na esfera federal – o outro, na mesma esfera, é governo e já foi oposição;
6 – Um recebe mais apoio do empresariado financeiro e da grande imprensa, e um pouco menos de outros setores empresariais – o outro recebe mais apoio do empresariado industrial  e de publicidade, e um pouco menos de outros setores empresariais;
7 – Um aprofundou o know-how da “governabilidade” fisiológica e a praticou -  o outro só praticou, porque o know-how já existia;
8 – O principal líder de um é FHC, Fernando Henrique Cardoso – do outro, é Lula, Luís Inácio da Silva.
9 – O grande aliado de um era o PFL – do outro, o PSB (não vai ninguém me encher com PMDB, né? Alguma semelhança eles tinham que ter!)

´Taí!!! Rapidamente, listei nove diferenças claras e evidentes entre os dois partidos! Como pode algum cidadão ainda ter a audácia de afirmar que "é tudo a mesma coisa"? Que não tem diferença? Que é "cara de um, focinho do outro"? Isso não é justo!!

Agora falando sério, existem realmente muitas semelhanças entre as duas agremiações políticas – semelhanças, repito. A origem, num sentido mais lato, é a mesma. A sigla de um torno-se a vertente ideológica do outro. As atitudes radicais, ora na posição de governo ora na de oposição, se parecem. Mas existem também, evidentemente, diferenças programáticas e ideológicas que infelizmente ficam escondidas debaixo do tapete – junto com a sujeira! Não se valoriza a discussão do projeto de país de cada partido,  justamente porque ambos os grupos, no ilusório sonho de construir tais projetos (diferentes mas sempre servindo a mesma classe social), atuam na política com base no que pode haver de mais negativo e pernicioso na expressão “maquiavélico”, talvez exatamente porque não entendem com a necessária justeza etimológica tal expressão. E assim, cedem espaço ao fisiologismo e tornam-se culpados, no mínimo por conivência, pelo peculato, pela prevaricação, pela concussão e pela advocacia administrativa, nos mais altos padrões (e valores!!), tudo isso em nome da “governabilidade”.

Mas a ironia acima serve principalmente para os defensores ardorosos tanto do PSDB quanto do PT ou qualquer outro partido, que tratam e discutem política -  como disse meu amigo virtual Sidney Ferreira da Costa, sendo original dele ou não a ideia - do mesmo modo que tratam e discutem futebol; que tratam os partidos como se fossem times de futebol (e aí, não tem discussão, não tem argumento, não tem mudança de posição, não tem ouvir o contraditório!!!)

Principalmente para aqueles que ainda alimentam ilusões para com a democracia representativa,  certamente não é essa a maneira correta de construir; muito pelo contrário!! É este comportamento, de defender ardorosamente uma sigla e seus próceres, sem ponderação, reflexão e discussão, que geram a estagnação e provoca atitudes semelhantes, senão idênticas, de todos aqueles que ocupam o poder. As discussões têm que ser mais programáticas, pontuais, devem ser retomadas a cada novo assunto que entre na pauta política do país, e sem assumir imediatamente a posição do seu “partido de futebol”.

Pior que tudo, entretanto, é perceber que a grande imprensa brasileira, que detém naturalmente o privilégio da divulgação de ideias e pensamentos, quer escolher em nome dos brasileiros quem é que vai ocupar o poder para praticar ou permitir, enquanto governo, constantes crimes e ataques contra os reais interesses do povo - que se torna, cada vez mais, refém da própria ignorância.

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