São três as razões principais; tentarei abordá-las por abrangência.
Primeiro, mais uma vez constrói-se um movimento reivindicatório no setor público, na educação pública, que paralisa os serviços e prejudica a população. Algo que até teria sentido, caso servisse para pressionar a administração pública, inclusive pela insatisfação da população com a paralisação (14) ou greve (14-15-16). Entretanto, como de chofre em outras incontáveis ocasiões, não houve a preocupação, por parte do comando dos movimentos, em construir o movimento junto a população. As manifestações foram marcadas com relativa antecedência, fazendo com que fosse possível a CNTE, junto aos diferentes sindicatos, conduzir uma campanha de esclarecimento junto à população; sem isso, continuam os educadores e seus sindicatos reféns do tratamento da grande mídia. Resultado: todos os prejuízos, traduzidos na insatisfação da população (seja aquela que teve dificuldades com as escolas fechadas quanto aquela que se sentiu prejudicada pela movimentação, pelas vias bloqueadas, etc) volta-se contra os professores, não contra a administração que, do seu lado, dá de ombros para o movimento uma vez que, na lógica em que se pensam os efeitos da utilidade de uma paralisação/greve, pouco prejuízo lhe causou. Nas entradas e nas saídas, nas reuniões de pais e de Conselho de Escola, no contato diário com pais, mães e responsáveis e – principalmente - com material unificado que poderia ser providenciado por cada sindicato envolvido, certamente aumentaria o número daqueles que apoiariam o movimento, que entenderiam suas razões, que defenderiam os professores, ainda que claramente não no patamar da maioria, mas certamente num número muito maior do que se todos apenas acompanharem o movimento a partir da grande imprensa. Ponderando, então, qual é a principal razão da convocatória para 14-15-16 de março - o pagamento do piso nacional em todas as redes, o que significa meramente o cumprimento da lei!!! - não seria difícil convencer a população da legitimidade do movimento.
Uma paralisação dessa não é que nem no setor privado, que pára a produção e causa prejuízo ao patrão. Será tão difícil assim enxergar a diferença? Claro que não... Por que será que se insiste com a mesma estratégia, então?
Uma paralisação dessa não é que nem no setor privado, que pára a produção e causa prejuízo ao patrão. Será tão difícil assim enxergar a diferença? Claro que não... Por que será que se insiste com a mesma estratégia, então?
Isso me leva ao segundo ponto, passando também para um círculo menor, que conheço comparativamente muito melhor do que a situação no país todo, que é a dos educadores da rede pública do município de São Paulo. Realizaram paralisação e ato no dia 14, sob coordenação do SINPEEM, um sindicato presidido por um senhor que tem claras relações, pelo menos políticas, com a administração municipal. Cansativo repetir algumas coisas, pois bastaria eu remeter eventuais leitores a postagem do ano passado http://soexperimentos.blogspot.com/2011/05/o-sindicato-que-tem-um-dono.html, mas enfim...
Aceitando, concordando e participando do ato, profissionais da rede paulistana fazem persistir o ciclo vicioso no qual nos arrastamos nos últimos anos. Quem parar para refletir verá que os atos e manifestações do SINPEEM, há nove, dez anos atrás, eram muito mais numerosos tanto em ocasião quanto na presença de educadores. Mesmo assim, pouco conseguíamos, principalmente em virtude da leniência e paralisia do sindicato, que sempre teve como prioridade a situação política do seu presidente, e não as reais necessidades da categoria; assim sendo, na tensão de ocasião entre o presidente e a prefeita do momento, nenhum resultado prático obtivemos. Será que todos já se esqueceram da promessa dos 0,01 % de reajuste na data-base de 2004? Com ampla movimentação da categoria e uma série de paralisações semanais, conquistamos a "grande vitória" de elevar o reajuste para... 0,1%. Outra prova das prioridades do SINPEEM foi a realização da última greve da categoria, em 2006, segundo ano da administração Serra, quando após duas semanas de greve a categoria conseguiu outra “grande vitória” recebendo o direito de compensar os dias parados. E o sindicato ainda cantou vitória... Para quem não lembra, aí vai o resultado da greve pelo próprio sindicato : http://www.sinpeem.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=383. Cúmulo dos cúmulos, o presidente do SINPEEM, para se defender da pecha de governista, tem a coragem de afirmar que esta greve foi na administração Kassab (a greve iniciou-se em 28/03/2006, ainda antes de Serra deixar a administração para se candidatar ao governo paulista, o que ocorreu 3 dias depois).
As mudanças começaram justamente aí. Parece que o presidente do SINPEEM aproximou-se muito, politicamente falando, do secretário de educação; em 2007, após não se eleger deputado pelo PSB, troca de legenda e vai para o PPS (partido que já apoiava na Câmara dos Vereadores o prefeito Kassab) e, em 2008, elege-se novamente vereador e depois líder do partido na casa. À despeito de todo os arrotos de independência de tal partideco oportunista, eles são é governistas. Então, de lá para cá, as melhoras para a categoria são evidentes: novo estatuto; fim dos professores adjuntos (o que foi e é criticado por alguns); fim da menor das jornadas de trabalho, permitindo que todos passassem a ganhar, no mínimo, um salário melhor da jornada intermediária, que passou a ser a menor; piso substancial se comparado ao piso nacional, primeiro mediante abonos, depois integrados ao salário; estabelecimento de um novo piso ainda maior com a manutenção dos abonos... Com tudo isso, educadores da cidade de São Paulo recuperaram não totalmente mas substancialmente as perdas da década e meia anterior. E graças, sim, ao sindicato! Mas, infelizmente, não pela atuação firme da Diretoria em consonância com sua base consciente, não pelas paralisações ou manifestações, mas sim graças aos interesse políticos e das relações do presidente do SINPEEM com a administração pública, situação conveniente para alguém com indiscutível habilidade política! Essa realidade, como dito na postagem após as eleições para a diretoria no ano passado, levou o SINPEEM a deixar de ser o representante dos trabalhadores junto à administração para se tornar representante da administração junto aos trabalhadores. O SINPEEM, que é um dos maiores sindicatos do país, está à serviço dos interesses políticos de seu presidente e de seu grupo. Habilidoso, ele manipula decisões, ironiza adversários e louva a democracia que discute, discute, discute (com suas pérfidas intervenções) mas chega no resultado que ele quer, até porque só ele sabe qual ajuste já foi feito com o outro lado. Então, nossas "conquistas" são possíveis graças a atuação político-partidária legislativa do presidente do SINPEEM, quando as necessidades da categoria servem ao uso político dessa pessoa. É um ciclo vicioso com o qual os educadores de São Paulo deveriam romper!! Mas não... Aparentemente, esse ciclo será interrompido apenas quando a atual situação do governo paulistano perder uma eleição. Não vê ou não aceita isso quem não quer... Ou então quem sonha em fazer uso político e pessoal do sindicato tal como seu atual presidente, com as mesmas táticas do seu atual presidente - ainda que para outros objetivos!!!
Não convence o discurso de quem aceita o fato das "conquistas" se darem pela relação entre SINPEEM e administração mas reafirma que elas não ocorreriam sem as paralisações; porque as paralisações poderiam, sim, ocorrer, a partir da movimentação da base. Ou vão dizer os nosso grandiosos e heróicos militantes político-partidários envolvidos no sindicato (os abnegados que se consideram detentores da exclusividade da coragem para lutar e da inteligência para atuar, aqueles que consideram inimigos todos aqueles que não integram suas raivosas fileiras) que eles não conseguem movimentar um razoável setor da categoria para manifestações ou paralisações independente da Diretoria majoritária? Ou será que é medo do rompimento, que é conveniente para algumas lideranças, mesmo as que se dizem mais radicalmente opositoras a atual direção do SINPEEM, abrigar-se no guarda-chuva da legitimidade porca e nojentamente imiscuída com a administração?
Então, chego ao terceiro ponto. O atual presidente do sindicato historicamente sempre reagiu negativamente a qualquer proposta que não saia dele mesmo ou de seu grupo político; mais de uma vez foi capaz de sugerir datas de encontros, assembleias atos e paralisações para um dia antes ou um dia depois da sugerida pela ala opositora do sindicato ou da direção, em gestos que simplesmente servem para reafirmar seu poder de monarca absoluto dentro do SINPEEM. Desligar microfones, ironizar adversários, colocar toda uma plateia contra quem o contesta... Então, de repente, misteriosamente, em ano de eleição, sem "conquistas" possíveis, ele sequer contesta as sugestões dos opositores. Endossa-as e até as defende!
Acontece que, de antemão, deve ter previsto como agir para manter o crédito de "presidente do sindicato" e não afetar seu curral eleitoral em que se tornou o SINPEEM, ao mesmo tempo que sabe impossível conquistar as reivindicações mais substanciais deste ano, como a antecipação do reajuste e alteração da lei salarial; deve saber ele, de antemão - aí é apenas meu palpite - que é possível negociar a reclassificação dos profissionais para cima no piso, o que vem sendo discutido já desde o ano passado, e a utilização dos títulos para evolução - outra discussão que já vem dando "pano pra manga" há alguns meses. Sairá, para a base da categoria, como o presidente que conduziu a luta, e para a administração, como o aliado que manteve o movimento no patamar adequado para não causar danos à imagem de secretário e prefeito, granjeando a manutenção tranquila do apoio à sua própria reeleição como vereador. Em suma, este ano, além do uso político costumeiro, o SINPEEM vira massa de manobra como fins eleitoreiros.
A dúvida que fica, entretanto, é se o interesse eleitoral, neste ano, é apenas do presidente do SINPEEM...
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