Conheci Markus Zusak como autor um tanto com má vontade. Um dia tomei nas mãos "A Menina que Roubava Livros" ("The Book Thief") meio que de nariz torto, sentindo um cheiro de mero best-seller (não na definição de vender muito, que nem é problema, mas na de ser escrito primordialmente para vender muito). Mas aí, com duas páginas, a maravilhosa...
Péraí... Não... "A Menina..." tem que ficar para outra vez, depois de uma releitura; só posso dizer que chorei, e que pelo autor decidi ler também "Eu sou o Mensageiro", mesmo com esse título religioso-místico-esotérico. E, pra começar, com a edição na mão, vem a informação que a obra é anterior à "A menina..." Começo a ler e me incomodo com a tradução (cheia de gírias, tentando ser informal, mas que para mim não funcionou - e sem críticas ao tradutor, porque vou lá eu saber o que ele pretendeu fazer ao ver os originais!), com a maneira meio cinematográfica-hollywoodiana da história começar... Veio a impressão de que, apesar de "A menina..." - que efetivamente virou um grande best-seller, mas não me pareceu escrito com essa principal intenção -, na verdade Zusak sonhava mesmo em ser (usando um termo hispanohablante) best-sellerista.
Mas a leitura, mesmo com algumas técnicas de best-seller (o início, a tradução, os capítulos curtos, o acabamento da edição) não era típica de best-seller. A ótima narração de Zusak vai nos carregando adiante não pela expectativa, mas pela fluência, pela naturalidade e, em alguns momentos, por nos atiçar na emoção. E de maneira até banal, comum.
Pois é, comum. Ora, e o que temos de comum??? Somos todos comuns - ou não; se não, então somos comuns, pois tão parecidos por sermos incomuns.
E “Eu sou o mensageiro” trata de um jovem comum. Um jovem ocidentalizado comum, filho de uma família trabalhadora comum, com uma vida comum. Daqueles que
sentem uma frustração irrevelada com a própria vida, posto que tem que vivê-la
no que tem de rotineira - isso não é comum?? -, mas vez por outra pensa no que poderia ter sido ou,
mais simplesmente, pensa no que não é - quer mais comum que isso?
Ed Kennedy até se compara com Bob Dylan, Salvador Dalí e Joana
D´Arc na mesma idade que ele: que feitos espetaculares já tinham produzido aos 19 anos!!
Ele, simplesmente um motorista de táxi que mentiu para a idade para começar a trabalhar, ganhando o suficiente pra tocar aquela
rotina lá, seguir seu cotidiano, bater seu carteado inofensivo com os amigos
que, bem... Amigos, dois pra serem por ele criticados e uma que ele não "amigava", mas sim, amava.
Acontece que a história trata do que Ed Kennedy foi posto
para fazer. E, mesmo tão comum, tão simples, tendo por recompensas o abraço de
uma criança, meia-dúzia de sorrisos, calorosos apertos de mãos e alguns
olhares, os feitos de Ed Kennedy nada perdem para os de Mr. Zimmerman, Dalí e
Joana D´Arc. A prova de que, como disse Maiakóvsky ("Confusão de poesia e luz, / chamas por toda a parte. / Se o sol se cansa / e a noite lenta / quer ir pra cama, /marmota sonolenta, / eu, de repente, / inflamo a minha flama / e o dia fulge novamente. / Brilhar para sempre, / brilhar como um farol, / brilhar com brilho eterno") gente é pra brilhar. Acontece que às vezes os mais ofuscantes brilhos não são públicos nem para exibição; são apenas para conhecer e se autoconhecer. Humanamente, só enxerga - sem se ofuscar! - o brilho quem quer com humanos olhos observar.
Assim como já acontecera com “A menina...”, a vontade ao
final da leitura (bom final, mas que particularmente me frustrou, assim como me
frustrou “Desconstruindo Harry”, filme de Woody Allen, mas isso pouquíssimos
entenderão, se alguém entender...) foi a de levantar e bater palmas, de olhos
marejados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário