De Alberto Caieiro, "em Pessoa":

"Pensar incomoda como andar na chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais"

21/12/2012

DE QUANTOS "FINS DO MUNDO" QUEREMOS FALAR??


Não sei por que entrou na minha cabeça que esse papo de fim do mundo seria às 6 da tarde. Certamente ouvi a bobagem em algum lugar.
Nos últimos dias estive pensando no “fim do mundo”. Olha, se houvesse outro tipo de ser vivo com inteligência similar ou superior à nossa, sei não, acho que isso poderia quase ser-lhes um desejo – fim do mundo no sentido “extermínio humano”, afinal, nunca entendi que o planeta Terra todo conheceria o fim – apenas estaria livre da presença humana - como diria o grande cantor, compositor, linguista e filósofo baiano, "se ele não aguenta mais as pulgas, se livra delas num sacolejo".
E, afinal de contas, não precisamos de nenhum fenômeno além das nossas próprias atitudes para gerar “fins de mundo”.
Júlio César, lá  pela metade do século I a.C., comandando exércitos romanos na tentativa de conquistar a Gália,  proporcionou a morte de 3 milhões de pessoas. Foi o fim do mundo para os gauleses.
Entre os séculos XI e XIII, das Cruzadas às estripulias de Genghis Khan, quase 40 milhões de muçulmanos morreram no mundo islâmico à Oriente. Para eles, fim do mundo.
Quantos nativos americanos, de Norte a Sul, morreram com a invasão e conquista europeia do continente? Dizem entre 50 e 100 milhões. Cadê os astecas? Cadê os maias, da tal profecia? Para eles, o mundo acabou bem antes!!
Das diferentes etnias e nações africanas, como calcular a quantidade de atacados, violentados, sequestrados, seviciados por obra da crueldade eurocentrista? Fim de mundo para eles, e especialmente para os que vieram para ser escravizados na América, mortos no mar, mortos em terra, mortos em tronco, mortos de fome, mortos doentes.
E o holocausto armênio pelos turcos, em plena 1ª Guerra Mundial? Fim do mundo até hoje para os herdeiros, pois o massacre de quase 2 milhões de armênios ainda não foi reconhecido pelos turcos.
Por sinal, e os 10 a 20 milhões de mortos da Primeira Guerra Mundial? Aquilo foi um fim de mundo!!!
E as 30 ou 40 milhões de mortes atribuídas ao regime stalinista, contra os “inimigos internos” do regime? Que fim de mundo!
Depois, 6 milhões de judeus caçados e exterminados na Alemanha pela mentalidade doentia de um homem, pela sua notável oratória e pelo medo e rancor que inspirou em outros milhões? Mais um holocausto, mais um fim de mundo!
Segunda Guerra Mundial, não nos esqueçamos: tem quem fale em 60 milhões de mortos. É ou não é o fim do mundo?
Indispensável falar de Hiroshima e Nagazáki: o quê pensou quem viu e sobreviveu àquilo?? Quase 200 mil mortos no tempo de se piscar os olhos duas vezes...
Holocausto cambojano, mais 8 milhões de mortos.
Guerra do Vietnã, 6 milhões de vietnamitas e 500 mil estadunidenses.
Sem falar de católicos contra huguenotes na França, belgas no Congo, franceses na Argélia, Revolução Cultural, regimes militares nas Américas Central e do Sul, hutus contra tutsis em Ruanda... E na China, 30 milhões com Al Lushan, dezenas de milhões em manchus contra mings, outros tantos na guerra do ópio...

Sem asteroide. Sem terremoto. Sem tsnuami, desabamentos, nevascas, tempestades, maremotos. Só pela ação humana.
Como disse dona morte, “constantemente superestimo e subestimo a raça humana (...) raras vezes simplesmente a estimo”.
Alguém aí ainda quer falar de fim de mundo?

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