De Alberto Caieiro, "em Pessoa":

"Pensar incomoda como andar na chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais"

25/02/2012

SUPOSTA MATURIDADE

Curioso na produção abaixo é o tema. Pelo caderno onde está o manuscrito, calculo que seja lá perto dos 19 anos de idade. Se já havia esta sensação por lá, é só imaginar agora, exatamente com o dobro da idade...

O adversário


O pó, a areia, as cinzas
escorrem sem cessão;
os ponteiros
continuam caminhando,
por vezes juntos,
ajustando separações.
Segundo a segundo
minuto por minuto
hora após hora...

Não creio que devo,
de qualquer forma,
impedir seus movimentos.
(Poderia?)
Mas também não os aceito,
e é isso que preocupa:
sua rapidez indetida e
minha insatisfação.

Preciso de espera,
suficiente para atingir o alvo,
o bastante para que possa
voltar a viver.

Sim, infelizmente...
Tornou-se um grave inimigo
adversário impaciente, fatalista,
determinista,
que jamais recorre a novos métodos
apenas luta contra a espera
e age sempre com a mesma crueldade.

Tudo vai acabando aos poucos:
eu,
quem comigo está,
o que tenho,
até o que me prometeram.
Não me dá o direito de apelar -
já que não existe por onde -,
por isso preciso de força,
para mostrar ao tempo
que nunca deixo de lutar
mesmo encarando a derrota inevitável
e o cansaço certo
a dor final da última decepção.

Ao mesmo tempo, grande adversário -
você, tempo, cruel e sádico -
não perde por esperar!
Em mim, a derrota inevitável um dia vencerá
pois em nenhum caso há surpresa
é o fato insofismável para todos,
então também para ti:
finda-se a submissão à espera.

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