De Alberto Caieiro, "em Pessoa":

"Pensar incomoda como andar na chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais"

25/03/2012

Mais uma resenha: O Caderno de Sinclair - Releitura

Conhecido por obras indiscutíveis como Demian, Sidarta, O Lobo da Estepe, além de ter escrito tantas outras, Hermann Hesse só ganhou grande reconhecimento após o final da Segunda Guerra Mundial. Isso porque, crítico do militarismo e da guerra em si, o auge da sua maturidade como autor veio justamente com a dor da derrota alemã na Primeira Guerra, seguida da ascensão nazista. Com a nova derrota alemã e a queda do nazismo, sua obra, baseada em boa medida na náusea da guerra (aparentemente oriunda do louvor patriótico da Guerra Franco-Prussiana cuja vitória patriótica lhe empurraram, ainda fresca, goela abaixo na escola, mas também e principalmente pela vivência da Primeira Guerra), serviu como bastião à uma Alemanha horrorizada com os próprios crimes. A impressão que se tem é que, para apagar ou borrar o absurdo nazista, o Prêmio Goethe concedido ao autor já em 1946 serviu para mostrar que os alemães queriam um futuro e uma imagem diferente.
Mas indiferente do reconhecimento, Hesse sempre imprimiu uma linha filosófica distinta, quase própria, temperada pela educação familiar religiosa, por este horror ao militarismo, do ceticismo em relação à política e aos homens e pelo amor à arte de escrever - do romance aos poemas, passando pelos ensaios e crônicas.
Não apreciei a obra da primeira vez que a li, faz já por volta de duas décadas. Creio que não a compreendi muito bem e por isso tive a leitura atravancada, arrastada, levada até o fim como tarefa, como missão do leitor assíduo, desregrado e confuso que sempre fui. Então, decidi relê-la, mas me surpreendi negativamente com a inocência, a imaturidade e o grotesco dos ensaios escolhidos para compor a obra O Caderno de Sinclair, publicado mo início da década de 20, escritos sob o pseudônimo de Emil Sinclair em periódicos da imprensa alemã do final da década 1910-1920. Mistura de uma certa misantropia misticista com conclusões adolescentes, os ensaios me soaram como aqueles textos que os aspirantes à literatura escrevem no início da adolescência e que guardam com estima e carinho e, anos depois, adulto feito, vida corrida e experimentada, ruborizam-se só de imaginar que algum outro possa ler. Ainda mais deprimente, na edição lida (aparentemente a 1ª Edição da Editora Record, 1984), é ler o prefácio do autor, do ano de 1962 - quando teria mais de 80 anos.
Incluiu em seus ensaios um extremo pessimismo com o futuro alemão e europeu, sua visão própria - e absurda e exageradamente imatura - das virtudes e vícios humanos, sua ânsia pelo isolamento... Vê-se, também, o seu extremo antimilitarismo e seu amor pela arte escrita, mas o tratamento dado aos seus textos, nessa obra, beiram a infantilidade.
Aos fãs, pelo apego;  aos demais, por curiosidade, lendo entre suspiros de impaciência e gestos de negação.

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