De Alberto Caieiro, "em Pessoa":

"Pensar incomoda como andar na chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais"

04/09/2011

E O TEMPO PASSA...

Sempre que posso usufruir de uma pausa para reflexão - e isso é cada vez mais raro - noto mais claramente o quanto mudo com o passar do tempo. Fico burilando aqui meus papéis, em enorme quantidade, alguns com temporalidade evidente, outros sobre os quais preciso parar, fazer um esforço de memória e de coração e tentar lembrar o que se passou. Prova dessa mudança com o tempo é o que está aí abaixo, tempos em que eu ainda acreditava em certos imperativos, crendo na absoluta necessidade de ver todos observando o horizonte com os mesmos anseios - em tudo aquilo que é global, para todos. Isso deve ter mudado há muito tempo, mas tamanha insatisfação com a indiferença, à época, num ambiente realmente diferente daquilo que eu era e esperava ser, árido demais enquanto eu, iludido, esperava ver semear e cultivar a busca da justiça, levava-me para uma busca de alívio, de atenuantes para o incômodo intelectual. Hoje, espero muito menos. E hoje, onde estou - ainda bem! - encontro muito mais, despeito de ocasionais gigantescas discordâncias.


TEREBENTINA


Aos poucos, Sol a Sol,
num ambiente seco -
talvez infrutífero -,
ignorado pelos criadores de
palavras fortes,
ávidos por sorte,
terminei como todos:
ignorantes, tolos, infantis
cuidando do sem fim para
amargurar um pouco mais de incompreensão.

E o que houve?

Cada vez mais,
há tolos, infantis, ignorantes
amargurando sua incapacidade
trabalhando em prol do vazio e
analisando o que há de triste em sobreviver.

Nenhum comentário: