Vejo
um careca. Vejo um maneta. Vejo
um perneta. Eu vejo muletas.
Olhe a cadeira de rodas e o louco!
Por
que choras? É só um
filme, é só um
livro. Já pensaste na realidade? Não, perdão... Não quero te machucar,
nem te ofender. Mas já encaraste o que aconteceu? E tanto silêncio, e tanta
omissão, em tanta vergonha, em tanto desprezo?
Tu não
te lembras de nada?
É o que penso,
porque esqueceste de um passado com histórias lúgubres, horrorosas,
insuportáveis. Só faze-me crer que o mundo não mudará.
Ah, é triste sofrer por um
passado, por não se ter um presente e perder as esperanças com o futuro.
Mas não, não é por isso que me ponho a refletir.
1o de abril de 1964. O
dia em que os trouxões enganaram os trouxinhas, e os trouxinhas deixaram os
trouxões pintarem e bordarem. Dias dos trouxas!
Desculpe se te mostro uma verdade tão nua,
tão crua, tão dura, tão triste.
Mas não deu p'ra calar. O que aconteceu, aconteceu. O futuro? Ele ainda está
por vir. Mas o passado...
O
passado não pode ser apagado sem que se meçam suas consequências sobre
nosso futuro.
Parece que esse tal de Brasil sofreu
um enfarte. O diagnóstico foi tardio. Não houve remédio
que desse jeito. Os "doutores" tinham uma máscara de competência
sobre sua incompetência. Só um repouso de pouco menos de 25 anos (ou pouco
mais!) funcionou. E o enfartado esqueceu-se de tudo, pois tudo dissipou-se
estranhamente, repentinamente, surdinamente. E muitos nem se deram conta de
tudo o que aconteceu. Porque diante de tanta omissão (e a indiferença) do
momento, houve uma repetição da omissão (e da indiferença).
Procuraram alienar
toda uma geração e as gerações posteriores. Conseguiram?...
Quem sou eu para apagar a omissão? Quero
apenas alertá-los - e alertar-me - sobre os acontecimentos de um país
tropical, onde os livros de História não contam a história porque o poder não deixa, fazendo com que basbaques
imortais de "Fundação", "Elevado", "Rodovia",
"Avenida", "Rua" e sabe-se lá mais o quê tornem-se falsos
ídolos, nos quais muitos acreditam. "O pais dos pobres"! E os
generais? Esses usurpadores da verdade, da vergonha, usurpadores de vidas
humanas. Canalhas que destruíram esse país com delíquios e delírios de
grandeza.
Histórias tristes, tenebrosas. Histórias
de tortura, histórias de morte, de desaparecimentos. E não foi apenas uma vez.
Só espero não ter de conhecer pessoalmente e presentemente essas histórias.
Às vezes nos pedem amor à
pátria. Que pátria? Pátria sem
mãe, pátria sem pai, pátria sem dono.
Sei
que já choraste pela
morte do soldadinho,
lá naquela guerra distante, que essa nossa tal "Pátria-mãe"
aqui apenas assistiu. Mas talvez não choraste pelos "irmãos de
pátria" que morreram, que desapareceram, que estão inválidos ou loucos,
numa guerra da razão contra o ensandecimento, ocorrida no ventre dessa tal
"pátria-mãe".
Sim, sei que outros (e talvez tu)
calaram e não lutaram porque a voz faltara. Outros fugiram, porque a voz não
fora suficiente. Outros reconheceram-se impotentes, ao mirar os grilhões nas
próprias mãos. E uma mancha obscura em alguns livros de história (que não são de História) contam para todos, enevoando a
razão dos sãos.
Por que será que a História cala, se
molda, se curva? Por que temos que buscar a verdade como se busca uma agulha
num monte de palha?
Por que tudo isso, irmão? Por que não te
levantas, irmão? Lute comigo, lute consigo, lute conosco. Escrever, pichar
naquele muro, uma pichação digna, pela verdade. E contra a
"verdade" que tu ouves e aceita, por preguiça de lutar pela verdade.
E essa luta, talvez, seja apenas um unir de forças, um unir de mãos, um unir de
vozes. Lutar pela verdade e pela dignidade de um país sem honra.
E tudo por causa de uma tal passeata...
Um comentário:
Triste realidade, é horrível o modo que essa gente manipula o povo, já ouvi muitas vezes pessoas me dizendo que devo ter amor a pátria, mas como ter amor a essa tal "pátria"? Que pátria?
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