De Alberto Caieiro, "em Pessoa":

"Pensar incomoda como andar na chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais"

03/07/2011

40 ANOS SEM JAMES DOUGLAS MORRISON

Há quarenta anos, em situação até hoje obscura e preenchida por espessas dúvidas, falecia na cidade de Paris o floridense James Douglas Morrison, também conhecido como "Jim" Morrison. Tinha pouco mais de 27 anos, aproximadamente a mesma idade em que morreram Janis Joplin, Jimi Hendrix e Brian Jones (integrante da formação original dos Rolling Stones, morto nos EUA). Nascera num 8 de dezembro, mesma data na qual, uma década depois, morreria John Lennon (há muito mais semelhanças entre ambos, dois dos maiores gênios da música, do rock´n´roll, do que se pode imaginar).

Para quem verdadeiramente conhece a obra deste esplendoroso e completo artista, em toda sua amplitude, pode-se dizer que há quarenta anos o "Rei-lagarto" (ou "the Lyzard-King") encerrava o ciclo que tantas vezes anunciou: o fim. Não antes, fez tudo, conforme anunciava em "Not to touche the Earth": "I´m the Lyzard King - I can do everything":

Se ele é relativamente conhecido apenas pela sua parcela "rockstar" enquanto integrante dos Doors ("The Doors"), não se faz justiça a tudo o que ele foi. Evidentemente, foi na banda, gravando discos e fazendo "shows" que ele se tornou ícone, pois foi a melhor- ou única - forma que teve para revelar tudo o que era: um autor, um poeta, um ator, um cantor, um pensador, um amador. Alguém que, como compositor e vocalista de uma banda de rock, exuberou suas produções com a influência do único período profícuo e elogiável da literatura estadunidense - a geração beat - "the beat generation"); com o que havia de sombrio nos poetas William Blake e Rimbaud, mais toques de Baudelaire; com o teatro avant-garde, com Arthur Miller, com Bertolt Brecht...
 < ... e, posteriormente, com o Living Theater e suas experimentações...
... com um toque da psiquê freudiana (é pesado, mas é... "Father, I want to kill you... Mother, I want to fuck you", em "The End" que está lá, quase no fim da postagem), com a influência do cinema, que chegou a estudar e abandonar justamente porque seu rompimento com os padrões estéticos da época eram exageradamente acentuados. Tamanho caldo cultural já estava temperando as idéias de Jim Morrison, com pouco mais de 20 anos de idade, no célebre encontro com o ex-colega de Universidade, Raymond Manzarek, encontro este que, reza a lenda, deu início à banda e até à escolha do nome, baseado nas "portas da percepção" e o canto à capela, com melodia, de "Moonlight Drive":
O jovem que, sem tocar sequer uma gaita, compunha canções com a melodia pronta. Que foi do (pouco) amor à (muita) dor, da esperança (quase nula) à tragédia (constante), do nativismo (circunstancial) à rebeldia (inevitável). Fazia de cada canção e de cada apresentação a oportunidade de ousar, de experimentar, de ultrapassar os limites, como já se previa no começo de sua história "Break on through (to the other side)":
Mesmo tantas vezes sendo tão tipicamente estadunidense, sempre esteve pronto a protestar e apontar os erros: "may take a week - and it may take longer - they got the guns - but we got the numbers":
Infelizmente, o "pacote" de genialidade de Morrison incluía uma sombria filosofia, "Some are born to sweet delight - some are born to the endless night"...
..., da inexorabilidade do fim e, por isso, com uma busca incessante pela autodestruição - que, por outro lado, o habilitava para tamanho experimentalismo. Por conta disso, o uso ocasional de drogas hoje ilegais - em muitas ocasiões e com muitas variedades, mas, segundo várias testemunhas, sem vício - e do incessante, abusivo, debilitador e devastador uso do álcool, encurtou por demais sua vida, fez ele chegar ao que tantas vezes pregou:
Mas a prova de quem foi, do que era e de como queria ter sido visto - ou não-visto - pelo mundo veio anos depois de sua morte, quando os ex-companheiros musicaram alguns poemas que o próprio tinha gravado. Para encerrar, vai uma das faixas...

Fica aqui, então, um pequeníssima homenagem - a que me cabe, a que eu posso - a um gigantesco artista.

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