De Alberto Caieiro, "em Pessoa":

"Pensar incomoda como andar na chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais"

20/09/2011

MARIA ANTONIETA E O MALANDRO - OBSERVATORIO DA IMPRENSA, ED. 660 - 20/09/2011


Já há alguns anos, vivo um problema: meu fígado não suporta mais leitura de “jornalões” ou “revistões”, tampouco a audiência às “radionas” (no feminino, pois trato das emissoras) reacionárias do meu brasilzão, quanto menos do que dizem ser “jornalismo” nas TVs. Isso me expõe ao constante risco da ignorância sobre os fatos cotidianos, no qual não mergulho porque, felizmente, parece que no mundo não há mais novidades. Então, meu amargor oriundo dos absurdos do que ainda ousam chamar de “imprensa” mantém relativamente sob controle.
Entretanto, é relativamente sob controle, uma vez que não passo incólume ao que a mídia em geral expõe, noticia e divulga. Afinal, vivo em sociedade e muitas vezes, quase sem querer, acabo lá contatando tais absurdos, perpassando alguns modismos ou alguns nomes da moda. Um destes aí, da tradição reacionária da mídia escrita brasileira, é Luiz Felipe Pondé, que escreve artigos na Folha de S.Paulo. Não bastasse tudo o que eu ouço falar, além de alguns excertos, uma colega professora já me “brindou” com três recortes de artigos desse senhor.
No primeiro deles, ele elogiou o livro de Leandro Narloch (o Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil), dizendo que o mesmo se amparava em boa documentação e “notas bibliográficas fartas” – aliás, no que ele tem razão, mas esqueceu de observar que 9 em cada 10 referências do Guia... sirvam para sustentar as teses correntes, e não a irônica e quase fascista visão de Narloch; no segundo deles, chamou os manifestantes de Londres de “sem-iPad” – e eu concordaria com ele porque realmente os incidentes pareceram muito mais fruto da insatisfação por não se conseguir alguns confortos do modo de vida liberal burguês do que insatisfação com a situação em si; entretanto, é evidente que tamanho consumismo é fruto, sim, da dinâmica social que vivemos, o que ele nega, atribuindo culpa ao comportamento moral, ou à falta de moral dos indivíduos (calma, não pasmem ainda!).
A moral do malandro
Por fim, no terceiro deles, publicado recentemente (12/9/2011) sob o título “Marketing francês”, ele busca diminuir o valor histórico da Revolução Francesa tachando-a como mera experiência de “marketing político”. Isso tudo porque o “povo”, que ele trata tal como um falso axioma, foi “violento” e, vejamos, das revoluções burguesas, foi naquela lá da França que essa (para ele) misteriosa entidade chamada “povo” tomou parte efetivamente, sem meramente contemplar ou ser levado de arrasto. Como se não bastasse, ele critica a razão revolucionária oriunda do Iluminismo – essa não me surpreende, em virtude da sua tamanha religiosidade sem religião.
Por fim, citando uma única historiadora (o que, segundo seu conceito, permite considerar que seu artigo apresenta uma “farta” base bibliográfica), as revoluções burguesas britânica e estadunidense foram muito mais importantes “pra mim, pra você, pra nós” do que o Iluminismo e a Revolução Francesa. Entendo suas razões... Os dois movimentos foram elitistas, não com o “povo”, embora tenham precisado dele em alguma medida. E, é claro, ele não podia terminar seu artigo sem dar uma cutucadinha em Marx, a grande pedra no seu sapato.
Sinceramente, eu ri... Lembrei primeiro, da versão “O Malandro”, de Chico Buarque: o “povo”, e “violento”, paga o pato por todos os problemas do mundo, assim como o malandro pagou o pato só porque filou uma cachacinha; já o português, o atravessador, o alambique e os banqueiros são vítimas da “falta de moral” do malandro, então podem roubar, desviar, falsificar, sobretaxar etc. Assim como a elite burguesa francesa, que depois não “aguentou o tranco” e abaixou a cabeça para o córsego baixinho.
Postura político-ideológica
Depois, lembrei de Maria Antonieta, que sugeriu ao povo comer brioches na falta de pão. Ora, o “povo”...Sans-culottes? Provavelmente só se revoltaram porque não tinham recursos para adquirirem a pecinha do vestuário. Sans-culottes antes, “sem-iPad” hoje... Fome? Que fome, qual nada! Voto universal para quê? Certos estavam os protestantes ingleses que derrubaram o rei, enquanto o povo trabalhava. Ou a elite colonial que, até o Primeiro Congresso da Filadélfia, preferia manter os privilégios coloniais ao invés de uma independência que pudesse dividir o poder, ainda que mal e porcamente, com o “povo”.
Realmente, a Revolução Francesa é supervalorizada em relação às revoluções Puritana e Gloriosa e à Independência das 13 Colônias; mas há uma explicação clara e evidente para o fato, que não reside na participação do “povo” no movimento. O problema, que Pondé jamais poderá enxergar – tamanha sua passionalidade ideológica, que ele tanto nega –, é que o ideário liberal-burguês já nasceu com uma mentalidade como a dele, que tira do “povo” quase até mesmo o direito de existir.
É hora de uma série de articulistas, tão presentes e tão repercutidos na mídia, ao menos terem a coragem de manifestar transparentemente a postura político-ideológica que defendem. Ao público, é impossível continuar admitindo que tais “pensadores” arrotem independência, coerência, racionalidade, neutralidade e imparcialidade, quando o âmago das suas teses se alinha claramente com uma maneira de ver o mundo.

16/09/2011

Tomando cuidado...

O interregno já foi maior porque fica cada vez mais difícil selecionar algo que valha minimamente a pena e que eu já não tenha incluído aqui. 

Nada sairá dos nossos corações
enquanto cada raio de luz da razão não
fizer adormecer as nossas dúvidas.

Nada brotará em nossa sensibilidade
enquanto cada gota de lágrima do mundo
não fizer-se drama universal.

Tantas mãos
separadas por um vazio de motivos,
toda angústia
e mágoas viciadas em negação.

E a distância...
Eterna distância que apavora
e nos isola
e nos desola
e nos desune...
Pasmadoramente, desune e
faz com que as mãos, além de separadas,
crispem-se no desolável receio da compaixão.

07/09/2011

07 de setembro...

Já é tradicional que o 7 de setembro seja também um dia reservado para manifestações populares. Infelizmente, independente qual seja a manifestação, elas pouco são abordadas pela mídia em geral.
O texto que recolho hoje tem uma pequena relação com isso...

MALOGRADO

Com o peso do mundo nos ombros,
homens caminham e tentam sorrir
sozinhos
sabendo que cada qual é igual
ao amargor de não sentir-se impune.

Cada qual procura a eternidade
no soar dos doces passos,
mas eles se arrastam
se submetem
ignoram seus receios.

Cada qual encontra a verdade
dissimulando seu passado e
modificando estereótipos óbvios
que trazem à tona a essência
do viver
nada
caminho
ilusão.
É assim que esquecem-se de viver.

04/09/2011

E O TEMPO PASSA...

Sempre que posso usufruir de uma pausa para reflexão - e isso é cada vez mais raro - noto mais claramente o quanto mudo com o passar do tempo. Fico burilando aqui meus papéis, em enorme quantidade, alguns com temporalidade evidente, outros sobre os quais preciso parar, fazer um esforço de memória e de coração e tentar lembrar o que se passou. Prova dessa mudança com o tempo é o que está aí abaixo, tempos em que eu ainda acreditava em certos imperativos, crendo na absoluta necessidade de ver todos observando o horizonte com os mesmos anseios - em tudo aquilo que é global, para todos. Isso deve ter mudado há muito tempo, mas tamanha insatisfação com a indiferença, à época, num ambiente realmente diferente daquilo que eu era e esperava ser, árido demais enquanto eu, iludido, esperava ver semear e cultivar a busca da justiça, levava-me para uma busca de alívio, de atenuantes para o incômodo intelectual. Hoje, espero muito menos. E hoje, onde estou - ainda bem! - encontro muito mais, despeito de ocasionais gigantescas discordâncias.


TEREBENTINA


Aos poucos, Sol a Sol,
num ambiente seco -
talvez infrutífero -,
ignorado pelos criadores de
palavras fortes,
ávidos por sorte,
terminei como todos:
ignorantes, tolos, infantis
cuidando do sem fim para
amargurar um pouco mais de incompreensão.

E o que houve?

Cada vez mais,
há tolos, infantis, ignorantes
amargurando sua incapacidade
trabalhando em prol do vazio e
analisando o que há de triste em sobreviver.

02/09/2011

ESSA TEM UM FILTRO...

É que o original (e fica no original!) está em inglês. Escrito exatamente em November 18th, 1992 - Aula 29A (era a penúltima).

"Free theme"

 This life was dropped by me
trough the midnight shadows,
full-moon nights, when my subjectivism
takes care of my old notes.

Sky crossed by birds
their tails show us the magnitude from
plumes.
Plumes that create a little sense,
making me forget the destiny of my soul.

It condened by my acts
I must be in pain to recognize the truth
and to have right to go to the most
beautiful place.

The pavement of glory is
beside that man, encaged in his
own mind.
I set myself free from my heart
but now
I don´t know where I am.

Where am I?
In "the corner of some foreign field"
living these years with insanity
between the empty spaces inside myself?

01/09/2011

Olhos e sangue

Traz de uma frase vazia
o mais constante verbo.
Realiza, empobrecido da verdade,
a transformação indesejável do nada para
a flor mais estuporada e malcheirosa.

Seus olhos estarrecidos com a revelação do absurdo
memorizam o contemporizador instante
da estupidez ininigualável.
Treme, dança em papéis,
simula telepatia e, por um instante único
e distante do tumor,
carrasco e excrescendo do fim dos dias.

Sua mão esbranquiçada, falecida,
segura o que julga a última arma:
não há quem deseje voltar
a Lua não substitui o Sol
e o frio congela a esperança.

28/08/2011

A-SOCIAL

No vazio, limite da convivência
e bloqueio dos velhos anseios
é algo usual e perene aos
frutos da vida.
Sem lógica,
o mundo passa
oprimindo qualquer manifestação razoável de
esperança.
Uma pseudoestrutura amarga e cruel
denomina os fatores comuns de um negro futuro.

É um jogo comum
que hesito em praticar;
são olhares penetrantes invasores dos detalhes,
desconhecedores das escolhas,
iludidos pelo lugar-comum.

Sempre há um diferente, e se sou,
não foi essa a busca. Concorrência
de outrem, consequência das atitudes.

Sou assim. Não pela escolha de ser,
mas por onde pequenas escolhas me dirigiram.

24/08/2011

ATÉ O DIA EM QUE SEREMOS NINGUÉM

Só porque não posso mais
só porque não quero mais
só porque não sou mais eu
só porque não mais te vejo,
só porque esqueci quem fomos.
Só porque perdi o medo e ando, observo,
modifico e afirmo. Só porque sou eu.
Só porque aprendi a crescer, porque
amanhã não serei mais ninguém.

FIM CHEGANDO AO FIM

Com o olhar de quem nada contempla,
caminhava no deserto humano.
Sentia frio.
Minhas pernas pareciam máquinas,
movimento cíclico, ininterrompível.
Não podia notar o mundo, as
pessoas caminhando no sentido contrário,
ao meu lado outras, formas não simétricas,
absurdamente distintas.
Não havia objetivo, por isso insistia.
Mãos nos bolsos, cabeça erguida pela
ausência de vergonha. Ausência do medo,
nada de paixão, nenhuma busca,
completo recolhimento espiritual.
Pretensão não existia; era uma solidão
passiva, inconsciente. Solidão solitária.
Minha subjetividade contestada,
minha racionalidade ignorada.
Não reconhecia o som das palavras,
meu rosto fez perecer todas as formas de expressão.
O caminho era o caminho, como que se
o tudo a fazer já fosse o nada.
Vazio, meu corpo parou. Vivi intensamente
por mais um segundo.

Foi quando tudo ficou para trás...

20/08/2011

Pretensioso...

É mole querer homenagear John Winston Lennon? Eu tive essa pretensão... Tempos depois de me render e adotar The Beatles como a melhor coisa que o mundo da música popular já produziu, aceitando o rótulo de beatlemaníaco...

One more New Utopian (Lennon in memorian)

Os olhos estão cansados,
quase se fecham. Sua
têmpora lateja. Seu braço já
não sente mais o
silêncio da madrugada quebrado constantemente pelo
virar daquelas páginas envelhecidas que
refletem em sua alma como o agudo
fio do punhal. As palavras, embaralhadas
entre o sim e o não, comovem-no.
Sua utópica esperança o faz trabalhar.
Esqueceu seus poetas, seus amigos
de histórias das quais não participou.
Pensa nas crianças seminuas nas ruas
tremendo de frio e fome. No adolescente
fugindo do projétil, no órfão chorando,
já conhecendo o medo mesmo
em sua inocência.
Esgotado, ele para. Não, não desistiu.
É uma pausa para secar aquela cristalina
e tênue mágoa que seus olhos
cansados deixaram escapar
até o adorador do apanhador para sempre
vidrar sua janela d´alma.

HOJE ESTOU INSPIRADO!!

A musculatura da perna dói por causa do futebolzinho mas não há sono. Então tenho paciência para continuar meu garimpo. Também é aceitável, esta aqui de baixo. Do tempo em que só não tinha religião (garanto que é bem mais confortável que o ateísmo...)

Tornamos simples a vitória dos esquecidos
e esquecemos de vencer os eternos exilados
da paixão.

Pobremente eles fizeram-se mais fortes
julgando com excessos o que mais desconhecem.
E o excesso nunca sempre equivocado
avilta a beleza humana e a dignidade
estupefata da vida.

Agrada-me não estar abandonado nesta luta
mas todos sabem que não sou
forte o bastante para apenas admitir o óbvio:
estou constantemente rendido pela paixão.

Só não deixo de fazerem notar um fato:
o cansaço é o entorpecente
mais frequente
mais vicioso
mais cruel
mais nefasto
e o mais simples de ser debelado.

Venci aquele antigo vício de aceitar o
dia-a-dia!
Agora,
acompanho-o com ironia
sorrindo dos seus erros
e aguardando o exato instante de dar o bote.

19/08/2011

Proletariado, cara pálida???

Tempos de faculdade, ou lembranças da faculdade (acho que foi poucos anos depois...) Ou no boteco (num clube de bocha, da "terceira idade", a "Associação") ou num churrasco qualquer. Lembro lá eu porquê?, mas começamos uma discussão sobre a falência do "socialismo real". Saiu um texto no dia seguinte...
Lembrei porque vejo gente sentindo o odor de "revolução" no que aconteceu em Londres. Claro que é insatisfação, mas que foi canalizada para o vandalismo fútil e sem sentido, com serventia apenas para justificar o viés repressor. Pra falar a linguagem sectária e dogmática, quase engraçada, foi "insatisfação por não conseguir os pequenos luxos pequeno-burgueses que servem como canto da sereia capitalista". Na época, o que saiu foi isso.

Foi o
Sol no lado Leste
resultado prematuro.
Vítimas do perjúrio e
inglória glória vã,
ufanesca,
utópica e devanescente.

O
inimigo recrudesceu e
fechou mais suas garras.
Pior: como lição,
sequer a cegueira sectária.

Dos muros que caíram -
não era sem tempo! -
devia restar a esperança
a fé no humano
o pátio sólido e consistente
de um mundo menos cruel.

16/08/2011

ESSA JÁ ERA LEMBRANÇA!

Ao refletir sobre determinada época na qual, ao invés de viver, eu escrevia como era viver, senti-me enraivecido do absurdo daqueles dias, das tantas oportunidades que desperdicei, do quanto (e  quantas vezes!) disfarçadamente me ofereciam tanto e eu, tantas vezes percebendo, algumas não, abri mão. Então, decidi que ter vivido desta forma era completamente errado! Para demonstrar meu incômodo de tanto desperdício de vida trocada por uma compulsiva e exclusiva paixão pelas palavras... Escrevi!

Porque não dormem incólumes aos vícios d´alma
enquanto o poder da palavra entorpece a vida?

Porque despertam sempre tensas, prontas
a fazer perder o doce instante da poesia?

Porque, enquanto caminho tendo adormecido
rancorosas lembranças, vos levantam e vêm de pronto
derrubar a paz e a vulgaridade acariciante em que
ponho minha mente constantemente matizada?

Porque, além de tudo, vosso desfalecimento me comove
a ponto de tomá-las em meu colo e dar-lhes sanidade,
ordem,
em meio a desordem onde ordenam-se meus sentimentos?

Por quê?

Porque não suspendem a pseudoeterna hibernação
que quase sempre me convence da calmaria?
Por quê? Por quê? Se não sei, aguardo a chance!

Quando, um dia, meus atos estabelecerem grilhões
para vossas tão traiçoeiras fugas,
estarei pronto a amar devotamente
louvando e poetisando a vida,
mas com o cálido hálito humano.


14/08/2011

AS PAIXÕES...

Lembro qual foi, porque foi intensa. Claro, hoje não importa mais. Já eram dias de menos imaturidade, de falta de tempo, trabalho e escola intensos, já mais para sozinho nos trilhos da vida. A lembrança está aqui por causa das linhas que possibilitou-me produzir, cheia de "pessoísmos" (quem dera...)

Não me canso de escrever
os mais torpes versos,
na cadência de minha ignorância
e nas saudades dos teus olhos
que marejavam os meus,
dos teus braços que os meus
e aos meus
envolviam
do teu colo que me abrigava.

Sê a mim o anestésico das dores d´alma
agrada-me com a ferocidade da paixão;
não esqueças a inexorável dependência a
cada passo teu
que a tênue linha da vida em mim produz.

Não há luz, não há
sensação que apague
o que deixo de sentir quando
tua ausência notou-se em meu peito.
Não há vitória. Não há disputa
abdico a qualquer glória
se os frutos das vitórias
contigo não posso partilhar.

09/08/2011

BOBAGENS, BOBAGENS... BEBAGENS

Quando vou peneirar meus rabiscos, no meio de tanta bobagem e infantilidade, encontro algumas coisas pelo menos interessantes. O problema é que algumas são interessantes justamente porque vivia o tempo inteiro de modo equivocado. Mesmo assim, se por um lado "atrasei" minha vida, cresci e amadureci de uma vez tudo o que faltara até então...


SÃO-INSANA


Egoísmo da nação,
minha soberba,
até gargalho de indignação!

Corpo cansado perdido
sem tempo para pensar.
Melhor assim,
prefiro assim -
mentira -
não existe mais, por enquanto,
o risco da loucura.

O corpo dói,
que bom,
o corpo dói...
A cabeça dói,
isso não é bom,
a cabeça dói
e prejudica o meu pensar!

Tenho tempo para chorar, gritar
refletir dos sonhos e pesadelos
entregar todo relato de mãos limpas
eu posso tentar mudar.

Mas eu resisto tanto quanto meu corpo
espero de mim tanto quanto posso,
na ordem inversa do estado mental.
A dor não pode mais que
a dor de não poder mais.

Afogar a consciência,
sem ar,
sem estar no mar,
com o inconsciente dilatado
pelo medo de estar consciente.

07/08/2011

SEM SENTIDO, ALGUM SENTIDO...

São duas: uma, invenção e (falso??) neologismo, certamente teve algum sentido (esse é o resultado de abandonar o que se faz... Como é que vou lembrar???), a outra, direto no plexo, sempre será plena de sentido. Respectivamente...

SINAPISMO

Parece pouco provável
que queiras quantificar
muitos meios melífluos
de doar, dever, dividir
conquistas, corações, comoções
sentimentos, solidões, serenidade
e encantamentos estupidificados.

Vôos, visões, viagens
são sonhos superficiais
tenuemente transformados.

Todo esse jogo,
todo esse esquema,
não passa do dilutável desejo
de prosseguir... Em vão.


PÃO E ÁGUA

Somos nós quem deixamos o pão
acostumados ao não
de quem nos nega a ilusão
de um dia termos pão
negado
por quem nos nega a vida
e a morte
por quem nos cede migalhas
e a vida
não mais que sub vida
e a morte,
morte quem me dera ter
a vida
e a alma no meu corpo pobre
que mastiga restos do pão
negado
misturado a água suja e podre
de quem é tão podre e pobre
por ter tanto pão e a água,
de quem não nega o sim
e a vida.

03/08/2011

Antes do coma

A cura de um poeta
é uma injeção de vida:
uma ampola de amor carnal,
uma gota de maldade - meia de ignorância;
um cataplasma de contatos físicos,
uma pastilha de malícia,
uma cápsula de canalhice;
doses diárias de elixir de conhecimento da realidade e,
ao leite morno,
xarope de malandragem.

Doses calculadas,
ministradas com prescrição médica
adotadas para estes pacientes específicos,
para deixá-los
com a alma pronta para a lama do mundo.

31/07/2011

POLÍTICA

Fotografe o instante de
um sorriso aberto (hipócrita)
e verá que tudo não passa de um jogo,
jogo fértil,
com poucos vencedores,
e sempre
incontáveis perdedores.

Terá a prova, para as futuras gerações
que o futuro é uma linha cheia
de repetições do passado,
passado,
que se liga com os dias posteriores
na linha cheia de pontos brancos
e interrupções
e saltos
que fazem do presente
irrealidade e mescla de mentiras.

E noutros dias,
depois de curtos anos,
tudo começa de novo...
E a fotografia do sorriso falso
para sempre sabe, soa, parece
atual.
Tanto quanto a rotina de cada um,
a escolha de cada um,
o erro de cada um.

Tudo sempre assim, porque
assim é melhor,
o que mais convém.
O que não há porquê mudar.

29/07/2011

LINEAR

Ela veio!,
balançou os sonhos com a luz dos
seus cabelos que brilhavam e meus olhos
refratavam seu rosto para
dentro de mim.

Ela veio!,
trouxe minhas próprias palavras,
eu as tinha perdido;
as palavras refletiram quem sou
para quem ela era.

Ela veio!,
seu corpo esguio dançou meu canto
e sua doce voz traduziu meu sentimento.
O silêncio, palavra da fé,
refletiu semelhança ao amor.

Ela veio!,
eu estava ausente.
Ela estava ausente,
refletiu uma visão baça e nua
dos dias que jamais recuperei.


Fez muito sucesso entre aquelas que leram. Azar o meu que, em tempos de platonismo puro, quem tinha que gostar... Nem viu!

22/07/2011

Ainda vale a pena...

Ser professor de escola pública não é fácil. E a interpretação das pessoas sobre tal dificuldade, em geral, é muito simplista - inclusive por parte de muitos professores.
Eu sou um sujeito que tem verdadeira satisfação em retirar toda caixa de filtro de ar de um carro, lambuzar a mão de poeira e graxa, sofrer no escuro para desparafusar uma buzina, desmontá-la, limpar seus contatos, colocar tudo de novo no lugar e, no final... Vê-la voltar a funcionar! É a satisfação pelo resultado. Uma gloríola, admito. Muito pessoal e individual, inclusive. E é justamente isso que falta no trabalho de professor, pelo menos para mim: ver concretamente um resultado. Acredito que fazemos, em maior ou menor grau, um papel positivo para os alunos. Entretanto, são resultados que dificilmente podemos enxergar, porque eles aparecem quando os alunos não estão mais conosco.
Os resultados mais imediatos, os que cada um de nós gostaria de ver exatamente naqueles conteúdos, temas ou assuntos que trabalhamos, quase nunca acontecem. É por isso que tenho que agradecer minha aluna Larissa Stephany, da oitava série, pela disposição e interesse em ir além de pesquisar, escrever e apresentar o trabalho que solicitei, construindo o vídeo que vai abaixo...

Larissa, um beijo e obrigado pela singela lufada de esperança.

21/07/2011

DO FUTEBOL PARA A VIDA...

Sempre me considerei um apaixonado pelo futebol. Durante tanto tempo - a maior parte do tempo da minha vida - o vi como uma atividade deliciosa para quem a pratica, acompanha, comenta, torce, trabalha, irradia, analisa, etc.

Mas ultimamente tenho uma conclusão um tanto mais psicológica para o gosto que eu (e creio que muitas outras pessoas) tenho pelo esporte, que tem a ver com o que ele tem lúdico, do tanto que "brinquei" de futebol quando criança, dos times de futebol de botão que ainda guardo, de por causa dele (eu, muito pouco) ter vivido aventuras, conhecido gente diferente, enfim, de tanto ter me divertido nos anos em que, puro e inocente, via na televisão, nas fotos, nas revistas, tantos "marmanjos" também brincando e se divertindo com o esporte bretão.

O problema é que, conforme o tempo passa, na verdade felizmente, grosseiramente infelizmente, vai-se tomando tento do que há por trás das cortinas: falta de caráter generalizada, negociatas obscuras, malcheirosa promiscuidade com o poder público, montanhas de dinheiro, mentiras, etc., etc., etc.

Nestas duas últimas semanas, dois fatos do futebol chamaram extremamente minha atenção: a tentativa (efetiva, mesmo, será??) do Corinthians, o time pelo qual ainda insisto torcer, de contratar o argentino Carlos Alberto Martínez, vulgo Carlos Tevez, de 27 anos, pela módica quantia de 60 milhões de dólares. Ou seja, o clube brasileiro iria pagar 3 vezes mais para contratar o mesmo jogador que contratara no final de 2004 / início de 2005, então com quase 21 anos. Mais que isso: contrataria novamente o jogador pelo qual pagou mais de 20 milhões de dólares, fora salários e premiações por ano e meio, e que perdeu sem ver um centavo sequer. O time queria recontratar o jogador que saiu do clube como se fosse um proscrito, que "fugiu" na calada da noite sem dar satisfação, que abandonou o clube e, pior, seus companheiros de equipe, sem dar maiores satisfações e sem qualquer tipo de prevenção.

O outro fato envolve também a torcida, desta vez do Palmeiras, que ontem aplaudiu, ovacionou e berrou a plenos pulmões o nome do atacante Kleber quando sua escalação para a partida contra o Flamengo foi confirmada. Neste caso, é mais flagrante a postura de caráter duvidoso do atacante, que ficou quase três semanas envolvido numa suposta transferência justamente para o Flamengo. O atacante chamou o vice-presidente do clube, em entrevista pública, de mentiroso e mau-caráter, e não se pode esquecer que, há poucos meses, queixou-se de que não tinha apoio do treinador. Este é o mesmo Kléber que comemorava gols do Palmeiras e visitava as "torcidas" organizadas do clube enquanto era atleta do Cruzeiro, numa clara "forçação de barra", até que finalmente conseguiu sua transferência.

O angustiante, nos dois casos, é o apoio da sociedade, ou pelo menos pela maioria da parcela da sociedade atraída pelo futebol, aos atletas. Ficam evidenciados os valores que vêm sendo cultivados no mundo contemporânea, quais posturas pessoais são tidas como elogiáveis e corretas, sempre partindo de um ponto de vista abissalmente individualista; então, a partir do futebol e pela gigantesca, incomensurável e incomparável repercussão do esporte, podemos observar qual é o grau de adoecimento da nossa sociedade. E, do futebol, podemos extrair ainda um sem número de outros (maus) exemplos: a inocente e incoerente suposição de que os jogadores podem ter um comportamento dentro de campo e outro distinto na vida cotidiana (como se o caráter pudesse se dividir em dois), como se desperdiçam milhões e milhões no absurdo de organizar partidas de futebol  ("espetáculos") a um custo irreal, não compatível com as demandas sociais (gerais, não específicas, não estou falando de "fome" ou "miséria" simplesmente, mas de forma muito mais abrangente), das negociatas escusas e não-explicadas (porque não têm explicação e porque delas não se cobram explicações), do enriquecimento mais que suspeito de todos aqueles que se envolvem com o esporte, além de tantas suspeitas que não consegue-se afastar, de manipulação de resultados, de fraudes, de lavagem de dinheiro, de jornalistas e comentaristas divulgando e comentando conforme o seu "rabo-preso" com este ou aquele empresário ou com este ou aquele jogador...

Que é isso? O que se tornou tal esporte? Aliás, teria deixado o futebol de ser esporte? Virou pura e simplesmente "negócio"? É para isso tudo que se pregou e ainda se prega a tal "profissionalização"? Com tal objetivo deixou-se de "amar" a atividade, afastou-se o "amadorismo"? Não será este o palco onde, repito, exibe-se o grau de adoecimento e de apodrecimento de nossa sociedade? O que esperar? O que sentir quando se vê tantos meninos e, hoje, não poucas meninas, com o sonho de se tornarem "jogadores de futebol"? Como alguém em são consciência de tudo o que acontece neste "esporte" pode incentivar uma criança a entrar nessa? Por que o país (ou UM país, seja ele qual for) aceita organizar um evento como a Copa do Mundo submetendo-se a prática de privilégios grosseiros, escancarados e inaceitáveis a uma entidade e a "meia-dúzia" de empresas e empresários?

Não dá... A cada dia, fica mais difícil continuar "aceitando" o futebol ao mesmo tempo que se pensa o mundo. Tenho sérias desconfianças que minha parcela "criança" não resistirá a tamanha sujeira.
Queria eu ver apenas mais uns dois ou três pessoas que repercutissem como o Dr. Sócrates Brasileiro ponderando o futebol.
Pena que ele é um só...

19/07/2011

O que será...

...  que aconteceu de tão grave quando expeli em tinta o que vai abaixo?? Sinceramente, não me recordo. Era do tempo em que marinava meu fígado em... Bem... E que chamavam a mim e outros três de os Quatro Cavaleiros do Apocalipse. Pelo conteúdo, dá p´ra notar que havia um alto grau de injustiça, né não?


TERMO DE COMPROMISSO

Concordo com as leis que fizeram nosso mundo
e abro mão da minha sinceridade.
Passarei a seguir os passos de quem sempre
procurou me guiar para o lado do qual mais me escondi
durante os anos da minha curta e experimentada vida.

Tudo isso pelo desânimo de procurar flores
e encontrar apenas pétalas dilaceradas,
procurar verdadeiras amizades
e encontrar dissimulação em tantos caráteres
procurar o deleite da alegria
e encontrar apenas medo, fuga
procurar um tanto de amor
e encontrar tanto ódio.

Assim,
ergo minha mão direita e me comprometo
a lhe ser fiel!
(Só não posso prometer mostrar contentamento...)
Pois o mundo que me cerca era um que fizeram
questão de destruir. Caminharei ao lado de quem
repelia, de quem me assustava e
de quem me magoou.

Simplesmente para acreditar nas palavras...
Ser feliz me conformando com a vida, com a vida,
com a vida como ela é e jamais soube ser para mim
o que de mim esperavam e o que para mim queria.
Não precisarei mais sorrir
e poderei, finalmente, fechar os olhos e dormir
sem nunca mais permitir que  o inconsciente brote
dos confins das memórias mais belas para me
atormentar com a preparada lâmina das saudades.

Eu prometo me conformar,
eu prometo obediência
e prometo não ser mais quem fui.
Mudando a maneira que sempre procurei para
semear felicidade, agora irei,
com minha infelicidade,
colher os sorrisos de todos os que serão enganados.

Que me perdoe qualquer outro plano metafísico!

18/07/2011

Canção 1

Essa foi encomenda de um amigo músico... Que eu não mais encontrei! 
Tinha até linha vocal, mas eu não lembro direito não... E também tinha título, no original que perdi. Revi, reescrevi, perdi o refrão, ´tá aí:


Vagando nas ruas
sem saber onde vou chegar.
Sem destino, nenhum lugar...
Cabeça em uma, duas luas.

Com nada, e nada é pouco -
quase nada p´ra cobrir meu corpo
e não me conforta seu pudor
seu mundo repleto de dor.

Amanhã, mais um dia
um trocado sem valia
para curar o amargor de alguém como eu,
merecedor de mais do que você prometeu.

Só penso se quiser, e é, sei,
tenho mais que tentar fazer valer
mesmo que do meu jeito, com minha lei,
pois o que agora é regra um dia deixa de ser.

E sentindo ou não
a aguda dor da solidão
não é tanta a cegueira para me impedir
de afastar tão grande senão
no meio da bandalheira que, sei não,
mas ainda tem por onde ir.

Então sou eu quem faço minhas dores
peço ajuda até para os desertores.
Um dia, alguém vai enxergar,
por isso não vou me entregar.

Quando aceitarem assumir
o que realmente quero
vai ser mais fácil ouvir
ser, querer, aprender, viver.

13/07/2011

Por volta de 20 anos. Ambas têm nome! Reticências ao encerrarem...

Estes foram bons dias, grandes dias, faltava pouco para o ideal. Afinal, depois da tempestade, sempre vem a bonança.


Tais Estações

Claro, escuro, penumbra,
onde estão os homens perpetuados?
Somar, dividir, multiplicar,
qual o resultado do seu passado?

As claras manhãs,
as fugidias tardes de outono
as noites negras de Lua Nova;
a vermelhidão do Sol angustiado,
a palidez da Lua desenternecida.

Noites sem sono, longos dias,
tardes perdidas
janelas fechadas; a porta
entreaberta
esperando teu vulto e
o final da estação . Flores sem cheiro
grama seca
homens nus, você nua, pouco mais,
nada além...




É do mesmo dia, mais tarde. O pequeno pavio da minha gigantesca indignação aceso com um lança-chamas.

Horário Nobre

A gratuita publicidade da morte
entorpece desde os mais fúteis
até os que vivem em fuga;
ela jamais acabará, e
assim será a sepultura
das visões refratadas do discernimento.

São belos quadros coloridos,
doces sorrisos mórbidos que
ainda não têm onde fixar-se.
Tudo muito bem pago,
com a nobreza exigida pelo horário.

E os corpos
que aos poucos
fenecem,
que pagam para mais cedo
encontrar o fim,
sorriem e se convencem,
destróem e sentem-se bem.

Pobres deles, grande parte,
eternos inocentes...

03/07/2011

40 ANOS SEM JAMES DOUGLAS MORRISON

Há quarenta anos, em situação até hoje obscura e preenchida por espessas dúvidas, falecia na cidade de Paris o floridense James Douglas Morrison, também conhecido como "Jim" Morrison. Tinha pouco mais de 27 anos, aproximadamente a mesma idade em que morreram Janis Joplin, Jimi Hendrix e Brian Jones (integrante da formação original dos Rolling Stones, morto nos EUA). Nascera num 8 de dezembro, mesma data na qual, uma década depois, morreria John Lennon (há muito mais semelhanças entre ambos, dois dos maiores gênios da música, do rock´n´roll, do que se pode imaginar).

Para quem verdadeiramente conhece a obra deste esplendoroso e completo artista, em toda sua amplitude, pode-se dizer que há quarenta anos o "Rei-lagarto" (ou "the Lyzard-King") encerrava o ciclo que tantas vezes anunciou: o fim. Não antes, fez tudo, conforme anunciava em "Not to touche the Earth": "I´m the Lyzard King - I can do everything":

Se ele é relativamente conhecido apenas pela sua parcela "rockstar" enquanto integrante dos Doors ("The Doors"), não se faz justiça a tudo o que ele foi. Evidentemente, foi na banda, gravando discos e fazendo "shows" que ele se tornou ícone, pois foi a melhor- ou única - forma que teve para revelar tudo o que era: um autor, um poeta, um ator, um cantor, um pensador, um amador. Alguém que, como compositor e vocalista de uma banda de rock, exuberou suas produções com a influência do único período profícuo e elogiável da literatura estadunidense - a geração beat - "the beat generation"); com o que havia de sombrio nos poetas William Blake e Rimbaud, mais toques de Baudelaire; com o teatro avant-garde, com Arthur Miller, com Bertolt Brecht...
 < ... e, posteriormente, com o Living Theater e suas experimentações...
... com um toque da psiquê freudiana (é pesado, mas é... "Father, I want to kill you... Mother, I want to fuck you", em "The End" que está lá, quase no fim da postagem), com a influência do cinema, que chegou a estudar e abandonar justamente porque seu rompimento com os padrões estéticos da época eram exageradamente acentuados. Tamanho caldo cultural já estava temperando as idéias de Jim Morrison, com pouco mais de 20 anos de idade, no célebre encontro com o ex-colega de Universidade, Raymond Manzarek, encontro este que, reza a lenda, deu início à banda e até à escolha do nome, baseado nas "portas da percepção" e o canto à capela, com melodia, de "Moonlight Drive":
O jovem que, sem tocar sequer uma gaita, compunha canções com a melodia pronta. Que foi do (pouco) amor à (muita) dor, da esperança (quase nula) à tragédia (constante), do nativismo (circunstancial) à rebeldia (inevitável). Fazia de cada canção e de cada apresentação a oportunidade de ousar, de experimentar, de ultrapassar os limites, como já se previa no começo de sua história "Break on through (to the other side)":
Mesmo tantas vezes sendo tão tipicamente estadunidense, sempre esteve pronto a protestar e apontar os erros: "may take a week - and it may take longer - they got the guns - but we got the numbers":
Infelizmente, o "pacote" de genialidade de Morrison incluía uma sombria filosofia, "Some are born to sweet delight - some are born to the endless night"...
..., da inexorabilidade do fim e, por isso, com uma busca incessante pela autodestruição - que, por outro lado, o habilitava para tamanho experimentalismo. Por conta disso, o uso ocasional de drogas hoje ilegais - em muitas ocasiões e com muitas variedades, mas, segundo várias testemunhas, sem vício - e do incessante, abusivo, debilitador e devastador uso do álcool, encurtou por demais sua vida, fez ele chegar ao que tantas vezes pregou:
Mas a prova de quem foi, do que era e de como queria ter sido visto - ou não-visto - pelo mundo veio anos depois de sua morte, quando os ex-companheiros musicaram alguns poemas que o próprio tinha gravado. Para encerrar, vai uma das faixas...

Fica aqui, então, um pequeníssima homenagem - a que me cabe, a que eu posso - a um gigantesco artista.

01/07/2011

REMEMORANDO...

Estive conversando hoje com colegas a respeito da situação da educação pública. Os rumos da conversa eram outros, mas recordei do artigo que escrevi para o Observatório da Imprensa e que foi publicado em 13/11/2007 (http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/voz-do-professor-raramente-vem-a-tona). Uma pequena parte dos meus pontos de vista presentes no texto claramente mudaram, mas evidentemente o "leitmotiv" ainda é o mesmo. Vai ele reproduzido abaixo:

VOZ DO PROFESSOR RARAMENTE VEM À TONA


"Todo mundo fala sobre educação e quem trabalha diretamente com o assunto, que é o professor, não pode falar. Isso faz parte da tentativa de fazer com que o ofício perca o seu caráter político. O professor está perdendo a voz, a autoridade", disse Mariângela Graciano, coordenadora do Observatório da Educação, em texto de Rubem Barros, do Portal Revista da Educação, em 10/09/2007.

Profissionais em educação, quando não incorrem no grave erro de permanecerem silentes, são postos silentes por jornalistas, pauteiros, administradores públicos, comentaristas "pensadores" (entre aspas porque são reconhecidos como tais), empresários, artistas, jogadores de futebol... Como todos eles, dando seus palpites sobre educação, especialmente a pública. E raríssimos – para não dizer nenhum – têm conhecimento suficiente para isso. Portanto, independente da causa, o fenômeno retratado na frase de Mariângela (professores perdendo voz e autoridade) reflete-se na real e enorme parcela de culpa dos professores para a baixa qualidade do ensino público no Brasil: o silêncio espontâneo ou imposto e aceito.

Para discutir os problemas da educação pública, incluindo suas causas, aqueles que os vivem cotidianamente precisam ser ouvidos. É condição para a busca de alguma solução. Mas por conta da forma como o tema é debatido, independentemente da abordagem, as (poucas) teses unânimes entre os professores nunca vêm à tona ou são consideradas superficialmente, de maneira tal que sociedade e consumidores de informação não podem visualizar a verdade.

FERRAMENTA PARA FINS BIZARROS

É comum que matérias, textos, ensaios, entrevistas e reportagens especiais sobre educação se baseiem em dados estatísticos ou em índices econômico-financeiros, infalivelmente margeando questões funcionais e salariais, sempre criticando a categoria. Vivemos, no que concerne ao debate sobre o tema, não meramente a era estatística e economicista da educação, mas também a era da crueldade e de uma desesperada busca por culpados. Diante da tempestade, quais questões estão ausentes no debate sobre educação pública?

O pequeno investimento do Estado na educação é tão evidente quanto trágico, mas não é o único problema (em algumas das redes públicas de ensino, talvez não seja nem o maior deles). A questão reside também em como e para quê são utilizados os recursos. Quando parte do orçamento de uma gestão, independente da esfera de governo, é usado na contratação de consultorias, auditorias, ONGs e OSs que pouco podem contribuir com os reais objetivos da educação e que mais servem para contentar "compadres", amigos, aliados e financiadores com contratos públicos (e é neste nicho que se explica a Prova Brasil, SARESP e Prova São Paulo, por exemplo, além de outros incontáveis projetos federais, estaduais e municipais) ou em processos de terceirização de serviços que são absolutamente cruéis e dicotômicos – o objetivo imanente de qualquer empresa privada é o lucro, não o serviço ao público – ou em abomináveis programas assistencialistas que, como no ditado popular, "colocam o carro na frente dos bois" e são usadas eleitoreiramente (usar o termo "eleitoralmente" transmitiria uma impressão nobre demais para o caso) ou quando se estende a abrangência de programas que beneficiam, antes do bem da educação, o caixa de muitas editoras, fica evidente que o primeiro objetivo no uso dos recursos destinados à educação não é o de implementar sua qualidade, mas sim de usá-la como ótima ferramenta para bizarros interesses.

TRISTE DEFINIÇÃO

Não bastasse isso, mais recursos são desperdiçados – ou distribuídos – em publicidade governamental mentirosa. A crítica não é a este ou aquele partido, à União ou qualquer unidade federativa ou qualquer município em particular: é uma prática generalizada, vil, quase criminosa; qualquer um que realmente se dedique à educação, indigna-se ao ver ou ouvir um prefeito, governador, secretário, presidente ou ministro contar meias-verdades ou absolutas mentiras.

Por conta de tudo isso, a escola pública – falo, sim, sob risco de uma generalização quase injusta – perdeu seu papel. Transformou-se num centro assistencialista (usado com objetivos pérfidos), onde a população pode tudo, acumulando incontáveis direitos e para o qual não tem nenhum dever, e suas poucas obrigações, que só podem ser discutidas e cobradas no âmbito legal, são tratadas com leniência pelo Estado, que prima pelo cumprimento da Lei quando lhe é viável economicamente e mostra-se perfeito em ignorá-la quando exige o uso do erário público ou a funcionalidade de sua estrutura. E é por isso que já há anos a instituição escola pública, contrariamente ao que deveriam ser seus objetivos e em detrimento dos esforços de muitos dos profissionais que estão cotidianamente dentro dela, ensinam constantes lições de irresponsabilidade, impunidade – tão debatida e criticada em outros âmbitos –, indiferença e comodismo, não só aos seus alunos regularmente matriculados, mas muito mais a boa parte dos pais, mães e responsáveis por eles.

A escola pública é, indiscutivelmente, a melhor ferramenta que o Estado brasileiro tem para se aproximar e amparar sua população. Mas, infelizmente, travestiu-se em ferramenta político-partidária usada com desfaçatez por todos os matizes da política nacional.

Chegamos a uma triste definição: falar de escola pública não pode mais ser sinônimo de falar em educação pública.

TREVAS ESTÃO DE VOLTA

Não bastasse tudo isso, ou por causa de tudo isso, a sociedade brasileira, no sentido mais amplo, não tem preocupação consistente para com a educação pública (talvez tenha com a escola, por ter ela se transformado em centro assistencialista). Indistintos setores criticam a situação das escolas, as condições e a aprendizagem em geral dos alunos e principalmente os profissionais em educação, mas nenhum setor faz, pelo menos, sua parte para colaborar na recuperação da importância do saber, do conhecimento e da aprendizagem como valores. Ao contrário, instiga-se um consumismo crescente e inconseqüente, mergulhado nas supostas facilidades da suposta vida moderna: não se lê porque se pode ouvir ou ver, não se pensa porque é fácil obter idéias prontas – ainda que absolutamente equivocadas. E tudo com seu preço, consciente ou inconsciente. Nenhuma reflexão sobre as conseqüências mediatas e imediatas que têm os infindáveis e variáveis produtos ditos de informação, consumidos aos montes, diariamente, e que se revelam enorme lixo (sub)cultural. Deixar de tocar tal música por conta do que ela diz e quem ela atinge: jamais, pois é censura; não exibir o programa em virtude do risco de apologia às drogas, ao crime: antiquado; criticar a literatura de viés puramente comercial: discriminação; dispensar anunciantes por causa dos riscos apresentados pelo produto: inviável.

Fiquemos com canais, programas, quadros e inserções "especiais" valorizando a tolerância, a cidadania, a língua, a ciência, a educação e o saber. Tudo feito como "detergente da consciência": "Vejam só, discutimos os problemas, temos responsabilidade social". Ora... Conveniente para a mídia audiovisual, que tem compromissos públicos legais – pouquíssimo divulgados e ainda menos cobrados –, para manter as concessões. E, além disso, tudo "escondido", perdido em horários inviáveis, não divulgados, por isso jamais atingirão o público: ele faz suas escolhas que, em 99 dentre 100 possíveis, beiram o lixo. Qual poderia ser o resultado? As trevas culturais da Idade Média estão de volta, sob nova forma. E não há perspectiva de um novo Renascimento. A humanidade, com conhecimento cada vez maior; o indivíduo, com um saber cada vez menor.

EXPERIMENTOS IMPRATICÁVEIS

Vejo-me obrigado a acreditar, tristemente, que corremos o risco de retornar ao absurdo da mais cruel das censuras, como resultado da incapacidade da ponderação e da irresponsabilidade generalizada tanto de quem produz como de quem consome a informação desinformadora, desestimulante e deseducadora.

Não bastassem os problemas aqui citados e outros mais comumente debatidos, resta o que talvez seja o maior dos dramas: o academicismo inútil que permeia as práticas e políticas pedagógicas no âmbito público.

Beira o misticismo, ou já se transformou em mistificação: nova visão sobre a capacidade cognitiva das crianças e adolescentes, novas formas de alfabetização e ensino, novas práticas, métodos modernos. Sou professor, mas vejo atualmente a pedagogia como uma ciência que parece desprezar completamente o empirismo: cria-se teoricamente o novo e não se observa a sua aplicação. Digo que parece desprezar porque, na verdade, não despreza, mas desvirtua o empirismo. Inúmeros autores teorizam sobre práticas educativas, baseados em experiências que jamais serão reproduzidas nas salas de aula das escolas públicas brasileiras: projetos com meia dúzia de crianças selecionadas acompanhadas por mais de um profissional em educação, dotados de todos os materiais planejados... Experimentos que se mostram um grande sucesso, mas são fantasiosos por serem evidentemente impraticáveis nas escolas de verdade, tais como elas são hoje.

INCLUSÃO É EXCLUDENTE

A superlotação é o primeiro e principal dos problemas: das redes públicas que conheço, a mais razoável em número de alunos por sala forma turmas de, no mínimo, 25 alunos no 1o ano/série – e é discutível se somente com 25 o trabalho já é tão produtivo quanto poderia ser. Outras redes públicas colocam professores em salas com 40 ou mais alunos, em espaços diminutos e precários. Além disso, em regra as práticas demandam quase que um sacerdócio – já realizado, não raramente – dos profissionais em educação: a pesquisa, a coleta e a disponibilização, por sua conta (tempo e dinheiro), de material informativo/conteudístico/sensibilizatório de qualquer natureza, para o andamento das aulas. Alunos têm os materiais básicos – quando os trazem, quando os usam; nós temos disponível, como regra, a voz, o giz e a lousa; quando muito, um livro didático – que dificilmente acompanha as mesmas práticas pedagógicas que nos são cobradas, posto que são obras prontas, remetidas para que façamos uma simples escolha – e, como regra, quase nunca atendida: não raramente, recebemos a segunda ou terceira opção apresentada.

Para chegarmos ao cúmulo, adotou-se no Brasil o discurso da inclusão. E aqui não vai um questionamento quanto à validade ou necessidade de se adotar a prática inclusiva de crianças e adolescentes portadores de necessidades especiais. Mas a questão reside no fato de que ela simplesmente não ocorre. Alunos com limitações físicas ou de aprendizagem são submetidos a salas superlotadas, atendidas por um único e sobrecarregado profissional, sem receber a atenção, os esforços e os cuidados convenientes, e sua presença na escola torna-se pouco significativa para ele mesmo. Além disso, os colegas também sofrem as conseqüências de aulas seriamente prejudicadas pela presença de um aluno como esse. A inclusão mostra-se, portanto, a mais excludente das práticas: prejudica severamente os alunos para incluir e os demais da sala, tornando o processo educativo um fracasso continuado.

MANTER OS SUPERÁVITS

E os professores dedicados, responsáveis – que não são poucos, nem a minoria – são comumente jogados na vala comum dos maus profissionais: taxados de incompetentes, mal formados, preguiçosos. Isso já é há tempos tema freqüente de matérias jornalísticas, e de certos dementes (adjetivo que lembra muito o nome de um renomado articulista, useiro e vezeiro em falar sobre educação, mas que provavelmente nunca pôs os pés dentro de uma escola pública nem como aluno) que vêem no professor o problema central da qualidade do ensino no Brasil.

Mas para além da questão dos salários – problema muito (mal) debatido – há o grave entrave da jornada de trabalho do professor: primeiro, perpassando a própria questão dos vencimentos, já que a maioria dos professores tem mais de um emprego ou mais de um cargo para manter um nível de vida meramente nos padrões mínimos de dignidade; e o problema de como se compõem as jornadas: quando não integralmente, a esmagadora maioria do seu tempo de trabalho é gasto dentro da sala de aula. Como regra, para todas as outras atividades intrínsecas ao seu papel profissional, há que se usar o parco tempo que sobra para corrigir, checar, preparar aulas, pesquisar, atualizar-se, formar-se, capacitar-se. Só com o milagre da multiplicação do tempo ou em outro planeta, onde a duração do dia seja maior que as 24 horas terráqueas, seria possível cobrar-lhes qualidade total em suas aulas.

É uma questão de visão e de opção, e a administração pública, sem ver ou fingindo que não vê, opta: quanto menos professores, melhor; quanto mais eles trabalharem – e só em sala de aula, melhor. Mantêm-se os superávits...

O CAMINHO CORRETO

Para os repórteres, pauteiros, colunistas, comentaristas – ou, mais genericamente, jornalistas – famosos, queridinhos da mídia e outros palpiteiros não enquadrados nas categorias anteriores, tratar da educação pública como matéria séria e como o mais sensível dos aspectos do futuro próximo perpassa pela discussão dos temas acima. Entretanto, raramente eles são abordados. Raramente são vistos. Raramente são pensados. Adota-se a discussão de outros aspectos – também problemáticos – mas discutidos, quando não de maneira hipócrita, incompleta. Qual texto jornalístico da grande imprensa não inclui, obrigatoriamente, perguntas aos secretários de educação (estaduais e municipais) ou acadêmicos? E qual deles possui um relato consistente de um professor das salas de aula? As inúmeras doenças às quais os professores estão submetidos diariamente são tratadas como "indústria das licenças"; os problemas de formação aferidos em provas mal formuladas (por distantes do que é exigido em sala de aula) e em pesquisas "sócio-econômicas" e qualitativas, plenas de perguntas capciosas, são mostrados como conseqüência da incompetência e da má-formação dos professores; professores são vistos como profissionais de "vida mansa".

Como não consigo resistir, tenho que oferecer exemplo: um grande jornal brasileiro – o de maior tiragem no país – publicou recentemente, na mesma edição, uma matéria dizendo que os professores brasileiros aposentam-se mais cedo, se comparados a profissionais equivalentes de outros países do mundo, e outra afirmando que 42% dos educadores do país estão contentes com sua atividade. Apenas faltou dizer como se construíram essas conclusões, faltou informar que, no bojo da transformação das leis previdenciárias dos servidores públicos, as regras para aposentadoria são, hoje, completamente diferentes daquelas com as quais profissionais em educação já se aposentaram e que serviram de base para a comparação. E, do contentamento dos professores com sua profissão, além de não determinarem qual a técnica de amostragem, faltou incluir na manchete o depoimento de uma professora que integrava a matéria, que afirmou: apesar dos baixos salários, apesar das más condições de trabalho, apesar das frustrações, professores não deviam deixar de gostar de sua profissão. Talvez por puro sacerdócio.

Especialmente nos últimos anos, desabrochou a preocupação hipócrita e a discussão inconseqüente sobre educação. Alguns expoentes da mídia escrita aventuram-se, freqüentemente, a dar seus "pitacos" na educação e tirar conclusões parciais que ou são pouco inteligentes ou, pior ainda, comprometidas com interesses escusos – e, mais uma vez, o alvo são os professores.

Falta encontrar o caminho correto, tanto nas discussões como na prática político-social no que tange à educação. Atirar aos ombros dos professores a culpa pelo fracasso do sistema público de educação é simplório e, além de tudo, contraproducente. Achatar seus salários, piorar cada vez mais suas condições de trabalhos, cobrar-lhes cruelmente, e exclusivamente, por uma tarefa que é eminentemente social não resolverá os problemas. Ouvi-los, talvez seja um caminho melhor.

18/06/2011

Bem recente...

Qual o sentido da ação
sem a busca de solução?
Das virtudes na vicissitude
sem verdades ou veracidade?

Pela busca do caminho,
pela trilha de um caminho,
vê-se continuamente a
musculatura inferior extenuada, e
a massa sem tempero
ou fermento das idéias
vai à queda manobrada
e marcada pelo abandono da reflexão.

PURO EXPERIMENTO...

Estas não tem revisão, ponderação, correção... São de hoje.


1: Tem a ver com o que eu faço. Como se comportam outras pessoas que fazem o que faço, onde eu faço...

Is this true?
What is a rageous speech
in honor of benefits
against the own behavior?

We don´t like you
but love and want your hold
we believe that you don´t know what to do
but we´ve been interested in
work for you, work to you
work in your name.

So, let us march and brade
within you pay us for this.

But if I kept you
what I really want?


2: Quase o mesmo... Mais individual.

Mother of a single soul,
thinking graveyard
absence of sense
exception of excellence.

All regular.
Times gone change
a changing.

I have allways to forgot
once again we´re done.

03/06/2011

MAIS RECENTE (OU MENOS ANTIGA...)

Clamor,
ode ao protesto
está pronto o manifesto
agora esqueceremos a dor!

Revolta,
elegia à igualdade
específica propriedade
de tal esperança remota!

Manifestação
criação de face impoluta
força de posição irresoluta
para exterminar a exploração!

Frêmito.
Marcha.
Vitória, derrota.
Fome, fartura.
Adeus. Ateus.
Paz. Guerra e Paz.
Fábrica. Campo.

Cá estamos,
não há desistência,
não há resistência,
abandono o negativo,
ignoro o positivo.

Somos cabeças em construção
construindo uma revolução.

31/05/2011

PENEIRANDO, PENEIRANDO, PENEIRANDO...

MAIO

Galeria de fotos antiga
meu ideal esquecido.
A fusão dos sentidos.
Engano inocente passível de perdão.

Correndo atrás da alma,
nada depois do óbvio.
Nada além do que se acaba.
Desconhecido se nega (ou não?)

Andando muito difícil...
Expirei pela última vez.
Posso ser eterno agora,
conheci o que não pedi.

Resistir nunca foi o máximo,
todos sempre mentiram!
Eu pedi, eu avisei,
nada adianta em caso particular.

O que preciso está quebrado,
insisto para não enlouquecer.
Na falta de algo melhor,
sempre apelei para a teimosia.

O passado com fracasso,
o que acontecerá depois da vida?,
o objetivo inatingível!
A minha razão ultrajada e
a máquina de escrever.

Nem tudo tem explicação...

26/05/2011

Típicos experimentos...

DESLOCAMENTO

Como posso,
como?
Corpo cheio de ar,
umidade nos olhos
dor espiritual aqui
comigo
dentro de mim
longe daqui (onde estou)
sem tino
faltando rumo,
trilha virgem que eu fiz
através dos campos
fechados
do meu próprio coração.



PEQUENAS RELAÇÕES

A Lua,
o Sol
a nuvem
a luz.

As mãos,
os pés
os olhos
as dores.

A menina,
o pai
a mãe
o mendigo.

Sempre algo te contradiz
mostrando-te que és infeliz.

O negro,
o branco
o amarelo
a lepra.

O homem,
a mulher
o invertido
o cadáver.

A verdade,
a mentira,
a dúvida,
o silêncio.

Sempre algo diferente
mostrando-te que és incoerente.

24/05/2011

TÃO ANTIGO, TÃO ATUAL...

TUDO DE UMA VEZ

Sempre que o passado repassa a dor,
a dor devolve o passado.
Mais uma vez,
não há como o deixar que os receios estimulem agonias.
Sou o mesmo e, com isso,
não digo que vou entregar-me
ou minha vida...
Só significa que não vou mais esperar
manifestar algo além de mim mesmo! Todos farão
os mesmos comentários, todos me olharão
do mesmo modo. Eu já não darei mais importância
ao prezar ou desprezarem-me.

Se ninguém pode ter sinceridade,
que diferença farão críticas ou elogios?
Que serão
manifestações de amizade
ou a mesquinharia de um materialismo sem nexo?

Estou cansado,
corpo e mente.
Chorar não me adianta mais.
Quero só poder viver.
Quer só poder a paz, mesmo que só em mim,
mesmo que só.
Calar-me um pouco mais.
Sentir-me melhor.
Ser o que sou e seja lá o que for.

17/05/2011

DO FUNDO DO BAÚ...

Há mais de dez anos...

Meus braços cansados dóem
mas não me importo:
continuo levantando dúvidas e
estrangulando dogmas.

Minhas pernas extenuadas fraquejam
mas não me canso:
continuo perseguindo verdades
e correndo das imposições.

Todos os dias
uma nova proposta é posta
como aposta entre quem sabe mais.
Mas eu, socraticamente, sequer
sei quem sou.
Por isso, a luta. O cansaço,
a dor, o fraquejar e
tamanha insistência. É
o projeto que faz da minha existência
buscar o caminho lógico de quem quer sorrir.

E há mais de vinte (!!!!!!!) Tanto que tem até título!!

HOLOCAUSTO

Caminhando neste deserto
seguido por todos, e todos estão nus;
seguido pela peste, e todos a conhecem,
vivendo em busca da saída
indispensável
que ninguém um dia viu.

Caminhando nesse deserto
seguindo a trilha da tormenta;
seguindo a luz que não me ilumina,
vivendo em busca da saída
indispensável
que simplesmente não existe.

Caminhando nesse deserto
vencido pela desesperança;
vencido pelos rostos apodrecidos que me seguem,
vivendo em busca da saída
indispensável
que se encontra dilacerada.

Caminhando nesse deserto
vencendo o chão
vencendo a dor
vivendo em busca da saída
indispensável
que jamais vão encontrar!

15/05/2011

O SINDICATO QUE TEM UM DONO

Sou professor da rede municipal de São Paulo. Não por conveniência (ou não SÓ por conveniência...) Estou cansado de ouvir outras pessoas dizerem que eu deveria fazer outra coisa da vida... Não me incomoda, não me irrita, não acho ruim, mas me canso porque percebo, em muitas das que fazem tal comentário, que ele vem num tom de desprezo pela atividade.
Eu sou e quero ser professor! E é dentre os professores que deveriam estar os melhores. Não sou cego nem sonhador, não alimento ilusões, mas essa é uma questão óbvia para quem tem, antes de mais nada, honestidade ao analisar o que significa trabalhar na educação pública.
Tenho, sim, receio de até quando vou aguentar (fisicamente); tenho, sim, explosões íntimas que colocam em xeque quanto eu trabalho x quanto eu ganho e o que minha família tem e pode ter com isso; tenho, sim, desilusões e decepções e uma sensação de inutilidade, do constante semear no deserto, mas obviamente que nada é tão simples assim, e além disso não há nenhum outro lugar onde eu possa ver uma mudança tão ampla, bonita e preponderante acontecer. Ela vai acontecer. É inevitável. E por razões muito lógicas, objetivas. Neste sentido, o que tem de menos cartesiano e mais fora da razão é minha esperança de estar participando de tal mudança. Não sei se terei tempo suficiente.
Falo de tudo isso porque vejo a escola pública como uma instituição com uma meta clara, inerente à sua existência, que ninguém pode negar, e mesmo que vivam tentando imputar-lhe outras funções e atribuir-lhe outras características, todas elas tornam-se somente adicionais. O problema é que, infelizmente, há muita gente que usa a escola pública para tudo o que permite a sua modesta amplitude de visão - que não ultrapassa poucos milímetros em torno do umbigo; oportunistas sem fim, independente dos diferentes interesses, sejam puramente materiais (é, professor na nossa rede ganha muito mal - o que é diferente de ganhar pouco -, mas ainda assim temos entre nós alguns miseráveis que vivem atormentando em troca de avaras migalhinhas a mais!!!), pessoais (viver na folga ou de gloríolas ridículas e sem cabimento), políticas (muita gente de fora da escola usa a escola para isso, mas também tem gente de dentro...) e, finalmente cheguei lá, sindicais.
O Sindicatos dos Profissionais em Educação no Muncípio de São Paulo, o SINPEEM, é um dos maiores sindicatos do país; fundado há duas décadas atrás, parcialmente como fruto de um intenso movimento grevista durante a administração Jânio Quadros, arrecada um montante em contribuição sindical nada desprezível. Possibilita uma projeção imensa a quem o dirige, evidentemente que em parte por conta do crescimento apresentado nestas duas décadas, mas muito mais pelo setor de trabalhadores em que atua: supostamente, formadores de opinião. Mas aí é que está, como se dizia antigamente, o "busílis" da questão: com tantos profissionais dentro da educação pública e indiferente com seus caminhos, com o eterno "não tem mais jeito" ou "não posso fazer nada" nos lábios, o que é que poderíamos esperar??
Ontem, 14 de maio, este sindicato divulgou o resultado das eleições para a formação de sua diretoria. Foi reeleito, pela OITAVA vez, o atual presidente, com mais de 50% dos votos, numa expressiva participação da categoria (quase 30 mil votantes, embora seja necessário lembrar que houve dispensa de ponto para os eleitores!!) Ele, que é vereador eleito por um partido que compõe a base de apoio do prefeito em troca de meia-dúzia de cargos (apesar de viver em arrotando "independência"), é o eterno presidente do sindicato. Não vou emitir rigorosamente nenhum juízo de valor a respeito de sua atuação como presidente do SINPEEM - até porque não é possível fazer comparações, pois somente ele foi presidente -, mas simplesmente tenho que dizer quão ABSURDO É MANTER UMA PESSOA NO COMANDO DE UMA ORGANIZAÇÃO SINDICAL POR TODA SUA EXISTÊNCIA; ainda que a inexistente possibilidade de vê-lo perder uma eleição para a diretoria se concretizasse, uma nova diretoria ver-se-ia imobilizada, incapaz de realizar qualquer trabalho, porque é evidente que a estrutura se apresentaria completamente viciada. O sindicato personalizou-se, ganhou o carimbo do seu eterno presidente e, por conta disso e da atuação político-partidária que esta pessoa tem, INSTITUCIONALIZOU-SE, tornou-se, na contra-mão de sua razão de ser, uma instituição que representa a administração pública junto aos profissionais em educação!!
Acontece que a categoria, e neste caso podemos simplificar e dizer que a maioria dela, concorda em manter para sempre a mesma pessoa presidindo seu sindicato! Talvez pela disseminação da indiferença, ou pela preguiça intelectual, ou por um pouco das duas coisas... Mas o problema é que, com isso, a categoria deixa de ter um sindicato. Ele virou propridade do seu presidente.
O SINPEEM virou um sindicato que tem um dono.

04/05/2011

COMO É ENGRAÇADINHO, O FASCISTINHA!!!

Coisa de duas semanas atrás, encerrei a leitura do "Guia politicamente incorreto da História do Brasil", livro que vem causando relativo furor e encabeça a lista dos mais vendidos de não-ficção nos últimos tempos. Já cabe aqui a primeira correção: o livro integra a lista errada, pois se não podemos tratá-lo como mera ficção, é muito vago enquadrá-lo em "não-ficção". Figuraria melhor, na minha opinião, na categoria "Auto-ajuda, religião e esoterismo", pois será certamente uma obra de cabeceira e conforto (auto-ajuda!!!!!) para aquela enorme gama de imbecis futilmente "bem-informados" (os "compradores de opinião"), muitos que consideram a imprensa brasileira de "esquerda", aqueles que chamo (eu e minha incansável prática de neologismos) de "neopseudofascistas". Aliás, não caracterizo assim o autor, este aí é simplesmente neofascista, ou fascista "fashion" (tentei juntar as duas coisas, mais "fashioncista" ou "fascishion" não representa direito a idéia).
Leandro Narloch... Veja só quem é ele:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/livrariadafolha/ult10082u694637.shtml
Até carinha de fascistinha ele tem, né não? É um dos herdeiros-"carpideiras" de Paulo Francis (esse ainda tinha informação, cultura, inteligência, apesar de tudo), como Augusto Nunes, Olavinho (ah, não, esse é mais antigo), Gustavinho Ioschpe, Diogo Mainardi...
Pois é.
A introdução dele já avisa: "Alguém poderá dizer que se trata do mesmo esforço dos historiadores militantes, só que na direção oposta. É verdade. Quer dizer, mais ou menos. Este livro não quer ser um falso estudo acadêmico, (...) e sim uma provocação (...) com o objetivo de enfurecer um bom número de cidadãos."
Envio-lhe meus parabéns, porque comigo ele atingiu o objetivo.
Duas coisas, que se completam, são o que mais me irritam no livro. Primeiro aspecto, ele poderia apresentar interessantes contrapontos em alguns dos temas, pelo menos naqueles onde o furor ideológico que Narloch dissimuladamente nega não estão tão presentes, se (segundo aspecto) ele não quisesse fazer um humorzinho ridículo e sem sabor num tipo de discussão que não dá espaço para este tipo específico de brincadeirinhas. Por exemplo, depois de desancar os nativos do Brasil (os índios que os portugueses encontraram ao chegar), sobre o fumo/tabagismo, ele diz: "Culpa dos Índios? Claro que não. (...) não têm nenhuma responsabilidade sobre um hábito que copiamos deles. Na verdade, temos é que agradecer a eles por terem nos iniciado nesse costume maravilhoso que é fumar tabaco e outras ervas deliciosas. Da mesma forma, quem hoje se considera índio poderia deixar de culpar os outros por seus problemas." Sinceramente, nem consigo saber se é ironia ou o que o sujeito pensa, mesmo. Porque, na verdade, ele atrai para sua armadilha de bom-humor e gracinhas os infelizes que se acham integrados, ligados, conectados, mas que não têm a menor autonomia intelectual, são apenas capazes de consumir informação, pseudocultura e opinião alheia, que depois arrotam como se fosse sua.
- Narloch inicia suas infâmias afirmando que a quantidade de indígenas mortos ao longo do tempo foi menos culpa da vinda dos europeus do que deles mesmos.
- Que os bandeirantes foram verdadeiros heróis, desbravadores corajosos.
- Insinua que os negros não têm que reclamar da escravidão no Brasil porque parte deles participava do tráfico negreiro e também tinham escravos.
- Nega o inegável avanço comparativo (comparativo, veja bem!!!) do Paraguai em relação aos seus vizinhos.
- Trata a monarquia brasileira como ícone da liberdade no século XIX (primeiro ele acusa Machado de Assis de ser um cruel sensor de D. Pedro II, antes de escrever que "A famosa liberdade política do Império atingiu o auge durante o reinado de D. Pedro II").
- Considera Santos Dumont um mero canalha sem caráter; afirma que Prestes era cruel, ranzinza, teimoso, imaturo e burro, incompetente.
- Sem pecha, constata que ninguém no Brasil apoiava nem a independência, nem o fim da escravidão nem a república.
- Trata estados brasileiros, como Acre, Alagoas, Amapá, Tocantins, Rondônia e Roraima como apêndices incômodos para o Brasil (aliás, na verdade, ele não queria o Brasil como país, porque nega ao seu povo qualquer identidade, é incapaz de perceber que, independente de como algumas coisas tenham nascido ou sido trazidas para o Brasil, passaram a ser identificadas com o país. Pensamento muito encaixotado, sistemático, limitado).
- Tem a audácia de chamar a ditadura no Brasil de boazinha, porque não matou milhares como na Argentina e no Chile.
Tudo isso (tem mais, muuuuuito mais...) permeado pela "incompetência" e "ignorância" de professores e historiadores militantes, "esquerdistas", que pervertem as idéias e impedem o conhecimento da real história do Brasil. (Entendam bem: no Meinkampfismo neofascista, qualquer um que diga qualquer coisa discordando das idéias de um dos seus próceres é "esquerdismo", e militante só tem no que ele chama de esquerda: ele não é um militante - alguém precisa lhe apresentar Gramsci!!!!!!)
Mas, interessante... Todas as suas constatações e "provocações", como ele mesmo diz, baseiam-se em uma, duas, no máximo três autores. Toda a historiografia brasileira vale menos do que aquilo que os autores que ele escolheu acreditar escreveram.
Leandrinho, meu querido... Como é que os índios iriam viver bêbados sem as novas beberagens trazidas pelos europeus? E, se eles matavam-se uns aos outros, como você disse, fizeram isso de maneira infinitamente mais intensa atuando do lado deste ou daquele europeu. Ou seja, a mortandade indígena foi um pouco de culpa e MUITO da responsabilidade européia!

Qualquer professor de história minimamente sério sabe que a escravidão entre os vários povos africanos era prática comum, similar a da antiguidade oriental e européia, e que também ocorreu a escravização de brancos europeus por negros africanos no mesmo período, mas ninguém pode negar o aprisionamento de negros transformados em escravos pelos europeus que os tratavam como mera mercadoria (e é risível, ridículo, atribuir à meia-dúzia de instituições e três ou quatro parlamentares ingleses, contrários humanamente à escravidão, o posicionamento político daquele reino: foi, sim, uma questão eminentemente econômica, mas aparentemente muito além da sua compreensão ou incômoda demais para as meias-verdades que você defende).

O Império brasileiro, desde a outorga da Constituição de 1824, permitia uma potencial participação política muito maior (e mesmo assim a uma mínima proporção da população) do que na maioria dos países do mundo à época, é verdade; mas a tal "liberdade" política era de fato para um setor muito particular da sociedade brasileira - sem falar que as repúblicas vizinhas não ficaram paradas no tempo.

Professores, a maioria deles, sabem também que a Guerra do Paraguai foi iniciativa do Paraguai, e que os López não eram "santinhos", mas ocorreu, sim, um uso excessivo, abusivo e desnecessário de força do Brasil contra o vizinho. E entre os investimentos de poucos britânicos (não ingleses) no Paraguai e o potencial gigantesco lucro com os empréstimos mais vendas de armamentos para alimentar o conflito, o governo inglês acabou, sim, optando pela segunda política.

Dizer que os brasileiros não apoiaram a Independência nem a Abolição nem a República no Brasil é dizer que o povo, como sempre, foi manobrado e alheado do processo, algo que você seria incapaz de dizer porque, provavelmente, tem nojo do significado da expressão "povo". Deve estar esperando um "pogromzinho" nas periferias brasileiras, né não? (http://sergyovitro.blogspot.com/2010/11/sim-eu-tenho-preconceito-leandro.html) - ainda bem que tem uns comentários lúcidos ao final!!!

Machado de Assis, Graciliano Ramos, Santos Dumont, Prestes, todos eles eram figuras humanas, Leandrinho... Sujeitos a erros, tentações, desvios... Agora, demonizá-los e negar-lhes, com coerência e ponderação, a parte que lhes coube na história do país é ainda muito mais ridículo do que tratá-los (também erroneamente) como heróis geniais e incontestes. E, assim como é simplista a consideração dos bandeirantes paulistas como bandidos, vilões, cruéis, passar disso à santificação dos mesmos é de uma parcialidade tosca. Se eram miseráveis, se as condições eram desesperadoras, eles somente toparam tão absurda e gigantesca aventura pela expectativa de encontrar o caldeirão de ouro no final do arco-íris!!! Aliás, ao ler sua posição a respeito do Acre e o comparativo feito com outros estados brasileiros, você deveria considerá-los uns desgraçados, mesmo, pela parte que cabe aos vicentinos por terem empurrado tão à oeste a fronteira brasileira.

E, meu aspirante a Mussolinizinho do século XXI, não é porque OFICIALMENTE a ditadura brasileira matou menos que ela não foi cruel... Aliás, tive um ataque de riso com a sua afirmação de que a revolta de Isidoro Dias Lopes em 24 matou mais gente que toda a ditadura militar no Brasil... Devem ter achado o dobro de crânios só no pedaço que cavaram lá em Perus, comparado aos 300 e tantos oficiais... E é engraçado, a ideologia defendida por Prestes matar 1 é crime e crueldade (é, mesmo, não estou negando), mas a ditadura matar 300 e tantos é "brando" (a "Ditabranda" dos Frias).

Ridículo.

Enfim, não me incomoda o fato de tantos "jornalistas" estarem escrevendo sobre história. Pena que eles não tenham uma efetiva postura de jornalistas ao escreverem! Aliás, um cara que se criou dentro do espectro ideológico da "Forza Brasile" (conhecida como revista Veja) e aprendeu a escrever lá não deveria ser considerado jornalista (por sinal, classe curiosa que pode opinar desde a culinária doméstica até a política de energia nuclear, passando pela história de um país, mas defende que para integrá-la deve-se ter um diploma).

O mais preocupante e triste de tudo é ver um livro destes ser tão vendido, lido e (salve-nos quem puder...) até elogiado por brasileiros que se convenceram com as gracinhas, "vejismos" e "diogomainardismos" infames do sr. Narloch... Vê-lo entrevistado e repercutido no programa do Jô Soares (não, não, perdão, isso não me assusta, não, era previsível). Será que não explica o fato de uma excrescência ideológica como Jair Bolsonaro conseguir eleger-se e reeleger-se parlamentar?
Onde é que vamos parar??

17/11/2010

CARTA ABERTA AO PREFEITO DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

(enviada por correio eletrônico ao endereço do gabinete do prefeito na noite de 11/11/2010)
Senhor Gilberto Kassab,
Meu nome é Sérgio, sou professor do ciclo II (5a. A 8a. Série, ou 6o. Ao 9o. Ano) do ensino fundamental da rede pública de ensino do município que o senhor administra.
Tento ter a boa-fé (crença não cabe...) de que os administradores públicos, muitas vezes não tratam adequadamente dos problemas sobre os quais são diretamente responsáveis por desconhecer a dimensão exata de cada um deles. Embora isso possa aliviar a culpa dos administradores públicos pelo desleixo com o qual são tratados tantos dos problemas cotidianos dos cidadãos (agora que o período eleitoral terminou, não adianta querer comover com um “eleitores”, então vai “cidadãos”, mesmo), não os exime de culpa, posto que eles também são responsáveis pelos procedimentos de apuração, pelo acompanhamento e pela plena ciência da região administrativa sob sua responsabilidade executiva.
O maior exercício desta minha boa-fé é o de respirar fundo cada vez que vejo um candidato, especialmente os que estiveram envolvidos com a administração do município ou do estado de São Paulo, fazer loas à educação pública, que é a maior vergonha deste país. Independente da filiação partidária ou da “cor” ideológica, todos eles – inclusive o senhor, na última campanha da qual saiu vencedor, e também a sua principal adversária na ocasião – insistem em meias-verdades ou completas mentiras para dizerem que trataram bem da educação ou que ele vai bem! Lamento, mas é mentira afirmar que a educação pública vem melhorando! Está tudo muito mal! E, neste exercício de boa-fé, repito, aponto que o senhor, como também seus adversários e alguns aliados, talvez repitam tais sandices sobre a educação pública porque não tem o devido conhecimento da situação.
Repito, boa-fé... Às vezes, haja boa-fé...
Senhor prefeito, alguém lhe informou que, em termos práticos, o ano letivo de 2010 encerrou-se ontem, dia 10/11/2010, com o fim do horário de expediente da Secretaria Municipal de Educação? Alguém lhe explicou que as escolas foram obrigadas, sob pena de responderem administrativamente, a digitarem no sistema eletrônico de informações chamado “EOL” (“Escola On-Line”) o nome dos alunos cada qual na sala de aula em que estará matriculado, de modo definitivo, NO ANO LETIVO DE 2011? No dia 10/11... Ontem...
Pois é...
Se até ontem às 5 ou 6 da tarde as escolas deveriam digitar todas as listas, e receberam esta absurda e insensata determinação no final do último mês (outubro), é de se imaginar que, quanto maior a escola (mais alunos, mais turmas), mais cedo apurou-se - com toda pressa, sujeita a erros, imperfeições e tolerância acima do admisssível - o resultado final do ano letivo em curso. Um ano letivo que, no calendário imposto pela Secretaria Municipal de Educação, encerrar-se-á formalmente às vésperas do Natal!
Não bastasse todas as mentiras que somos tantas vezes forçados a contar ou praticar, por conta do bojo legal que regula o ensino público desde a esfera federal até a esfera municipal – que faz a opção pela progressão continuada, tese acadêmica (não consegue deixar de ser tese...) mentirosa numa rede que não tem recursos materiais, humanos e de infra-estrutura física para prover a “continuidade” no ciclo, mentirosa quando pensada para discentes sob responsabilidade de pais ou tutores que não são capacitados, pelo tipo de formação que tiveram (ou pela formação que não tiveram) colaborar com o processo -, estamos também agora antecipando e assim dinamizando o “empurrômetro” de alunos que ocorre anualmente em todas as escolas do município (não abro sequer uma exceção!), pois em particular neste ano muitos deles acabarão promovidos no decorrer dos ciclos mesmo tendo tido frequencia às aulas baixo do legalmente exigido e, no final dos ciclos, com aproveitamento insatisfatório, num flagrante desrespeito ao que reza o parágrafo 2o. Do Artigo 18 e também ao disposto no Artigo 19 da Portaria SME 4688/2006 – o Regime Escolar do Município – portaria esta válida para o ano de 2010 (ao menos na Diretoria Regional de Santo Amaro, da qual a escola onde sou docente faz parte, conforme reunião realizada para orientação das equipes gestoras em 29 de janeiro deste ano em documento disponível na rede mundial de computadores).
Senhor prefeito, podemos considerar correta tal medida absurda? Podemos aceitá-la sem contestá-la? Ela não configura um tremendo desrespeito tanto para com os alunos e seus responsáveis como para com os professores, especialmente aqueles que procuram realizar seu trabalho no rigor das responsabilidades e do respeito para com a natureza da função? Não é simplesmente uma falta de respeito para com os propósitos da educação pública?
Por falar nos propósitos da educação, senhor prefeito, também tenho vivido muitas dúvidas e incertezas. Sempre imaginei – até porque, frequentemente, empurram para os profissionais das escolas a responsabilidade exclusiva de “formar cidadãos” - que a escola, ainda mais a escola pública, seria o espaço privilegiado para promover o senso de justiça e equidade. O que vemos é o contrário, começando justamente pelos propósitos que concretamente absorvemos da educação pública, calcados no espírito economicista e estatístico, onde mais vale um apelo acadêmico insustentável elaborado e corroborado por tantos que provavelmente nunca, sequer como alunos, puseram os pés dentro de uma escola pública, do que o risco de ter que disponibilizar mais escolas, mais salas de aula e mais profissionais. Tal processo se arrasta há anos, por ele passaram diferentes administrações municipais, de diferentes partidos. Ninguém, nenhum prefeito - ou prefeita! - dessa cidade, seja lá qual for o partido político no qual milita, teve ou tem a “audácia” de apurar a verdade lá no chão da sala de aula, conosco, os professores, desamparados seja para o cumprimento do que as leis determinam ou nos graves e profundos equívocos destas mesmas leis, diuturnamente agredidos e sem direito à defesa; muito pelo contrário, no caso de sua administração, senhor prefeito, a educação pública está nas mãos de um profissional que - embora eu não tenha a mínima condição de fazer algum juízo sobre sua competência na área em que ele é especialista – tinha experiência nula na educação pública ao assumir a pasta, e que pauta sua gestão frente à Secretaria que comanda na reprodução ou emulação de práticas e propostas originais da Secretaria Estadual da Educação de São Paulo, com uma rede educacional que, nas áreas metropolitanas, tem tantos ou mais problemas quanto a nossa. Este “imitar” da SEE pela SME, por sinal, parece ter sido o que pautou esta antecipação insensata e irresponsável dos resultados do ano.
Por quê, senhor prefeito? Qual é a explicação pedagógica da SME que a faz fechar os resultados de 2010 no dia 10 de novembro?
Que farão os alunos ou seus responsáveis que tenham conhecimento do fato? O que devemos esperar deles? Que eles, pelo compromisso com os estudos, com o conhecimento e com o saber eles continuem comparecendo às aulas? E se não vierem? Muda tudo ou a gente mente, mente, mente e maquia resultados?
Desculpe, senhor prefeito. Eu não... O que eu apurar, documentado estará. Esperarei o mesmo dos meus colegas.

04/10/2010

A FESTA DA "DEMOCRACIA"

Ah, domingão, eleições, urna eletrônica, apuração em velocidade inigualável, uma das maiores "democracias" do mundo faz sua FESTA!!!!!!
Pois é. Já adotei o neologismo "votocracia" faz tempo...
25 milhões de brasileiros não foram votar; 9 milhões e meio de brasileiros invalidaram seu voto à presidência; 1 milhão e 200 mil brasileiros preferiram não escolher quaisquer das 3 "grandes" candidaturas - sendo que mais de 1 milhão desses votos dirigiram-se à candidatos que, de um modo ou de outro, criticam a "democracia" que se baseia exclusivamente no voto de 2 em 2 ou de 4 em 4 anos, que se dizem socialistas por um ou outro viés.
Isso significa, grosso modo, que praticamente 1/3 dos brasileiros optaram por se "descolar" da nossa votocracia, ou deixando de votar, ou anulando seus votos ou indiferentemente votando em branco ou dando votos que, certamente, são de protesto, de demarcação de posição, em virtude das chances nulas de vitória dos candidatos que a grande mídia chamou de "nanicos". Então, é mais que possível acreditar que uma expressiva massa de cidadãos-eleitores brasileiros não se convencem mais com a ilusão de uma dita democracia que se baseia exclusivamente no voto.
Não será esta a chave da construção de uma verdadeira e efetiva democracia, onde as pessoas - ou pelo menos uma parte verdadeiramente representativa da população, que tenha esse interesse - participe mais incisivamente das decisões políticas que afetam à comezinho nossas vidas?
Não é uma resposta, é uma sugestão.
Como amalgamar a postura de tantos brasileiros em algo que permita efetivamente uma mudança no atual estado de coisas?

28/09/2010

COM ERRO E TUDO...

Coul you borrow me your tongue?
I need something to make me famous
and your speechs are so clean,
so beauty, so disastering.

There was a man in the house,
I didn´t know his name.
So I just go to tell you
that I´m not quite sure about yor sincerity.

Som days people have drowning in the rain
and sorrow wash their tears
pane pacify her muscles
fortune wear their eyes.

Now we come again to your house
but you don´t need us
We were just children when the dream came true
and you know...

There are no prisoner
There are no questions
we lost, anything else
nothing to wait for
and a strange sense of piety
running against the dry clime of my soul.


Caramba!!! 18 anos atrás. Sendo rigoroso, tanto continua tão válido!!!

08/07/2010

A VERDADE

Ao contrário do que afirmam muitos, a verdade existe, sim. Ainda que seja muito fugaz e não definitiva, ainda que seja muito flexível e não dogmática, mas ela é real, e vive presente.
O drama não consiste em perseguir algo que não existe, mas sim em reconhecer o que existe. Não é tão simples, não é um caminho facilmente identificável e livre de obstáculos, armadilhas e artimanhas, mas que é passível de ser trilhado e que é possível de se conhecer.
Não será mais coerente refletir que, infelizmente, a maioria das pessoas tem muita dificuldade, no ponto da impossibilidade, de ter contato com a verdade? E que outra maioria, daqueles que podem atingi-la, não opta pelo caminho mais fácil, ou seja, deixá-la de lado, ou por considerá-la inexistente, impossível, ou simplesmente porque ela pouco convém ao seu modo de vida?
Não será por isso que a unanimidade continua sendo burra?
Não será por isso que opiniões são tão “respeitadas”, mesmo aquelas que vão contra o que há de humano em cada um de nós?
Não será por isso que relegamos a uma quantidade insignificante de representantes o destino de nossa vida em sociedade?
Não será por isso que muitos de nós preferimos assimilar, aceitar e repetir opiniões prontas que nos são impostas diuturnamente por aqueles que se consideram “donos da verdade” e afirmam que ela não existe?
Não será por isso que insistem em negar a verdade com o uso de meias-verdades?
Pão e circo. Ainda não removemos este traço augustino da nossa sociedade. Porque muitos olhos estão vendados, mais do que aqueles que seriam necessários para removerem as vendas que tapam a visão e a reflexão da maioria.

Estamos, de novo, em tempos de eleição. Estamos, de novo, em tempos de esquecer tudo o que é relevante para decidirmos quem é que vai, por mais quatro ou oito anos, facilitar os negócios e a vida de quem tem vida fácil.

18/06/2010

PERDEMOS SARAMAGO

Foi-se José Saramago. Teve uma vida longa, mas uma produção, em tempo, curta, já que tão tarde começou a escrever - ou publicar.
Quando fui ler Saramago, peguei nas mãos logo o "Ensaio sobre a cegueira". Torci o nariz p´ro tamanho do primeiro parágrafo, mas o assunto logo me prendeu. A obra, simplesmente fantástica, me apaixonou: o apontar o dedo para o tamanho das nossas responsabilidades, o suspirar pelos nossos tamanhos limites, o receio de saber que podemos fazer alguma diferença, o que resta de animalesco em cada um de nós (de cada um, conforme suas possibilidades, a cada um, conforme suas necessidades... Como é difícil!) E Saramago ganhou um fiel leitor.
Não li tudo o que ele escreveu, falta-me, por exemplo, o essencial "Memorial do Convento". Li a trilogia do "Ensaio...", que se completa com o laureado "Todos os nomes" e com "A Caverna". Li o outro ensaio, o "sobre a Lucidez", do qual não gostei tanto, assim como outras das últimas obras, que já me pareciam com um ranço de "cumprir contrato". Mas suas características ainda estavam lá: sua crua observação do mundo, seu ceticismo infeliz (de quem não quer ser cético) e esperançoso (de quem crê que, num dia, num tempo, tudo pode melhorar), sua tentação ao detalhismo, sua despreocupação com o formato - que lhe deu destaque pelo formato.
Se o LUTO não é da língua portuguesa, certamente é da literatura portuguesa e da humanidade, que perdeu um brilhante ser humano. Certamente com suas imperfeições, certamente com inúmeras discordâncias com inúmeros outros humanos - inclusive comigo -, mas da aguda inteligência, especialmente para as obviedades sobre as quais, tantas vezes, parecemos estar tão cegos.
Lamentei profundamente a morte de dois: há mais de 20 anos, Drummond; e agora, Saramago

14/01/2010

(POR QUE É QUE) QUEM É CONTRA O PNDH-3?

Não recordo quantos dias faz que li ou ouvi críticas intensas - a ponto de se tornarem repetitivas - sobre o 3º Plano Nacional de Direitos Humanos, publicado em 22 de dezembro último no DOU. Mas fixei, pois imediatamente me veio a indignação: 1º – de onde partiam as críticas; 2º – quem noticiava e divulgava as críticas.
Pensei em publicar um comentário no início da semana passada, dizendo que pouco me importava o teor do documento para pontuar os problemas de tais críticas. Mas decidi que, para eliminar qualquer mínima possibilidade de leviandade, deveria antes ler o – extenso – documento. Então, fui lê-lo.
É pouco inteligente assumir um posição radical em relação a ele - exceto se a radicalização vier antes, considerando que o estado, enquanto instituição, não serve à humanidade, posto que é um documento que só existe no âmbito do estado, escrito e defendido por quem hoje dirige a república brasileira. O documento constitui-se de “Eixos Orientadores”, dentro dos quais há “Diretrizes”; ao lê-las, podemos analisar muitas como óbvias, então a priori dispensáveis, outras tantas como mentiras (na costumeira prática de ver algo escrito na lei que jamais é praticado, principalmente quando as ações de cumprimento são de iniciativa do estado), e algumas ousadas, independente do juízo de valor que façamos delas. E são – não exclusivamente – estas últimas que deram forma a tamanhas críticas ao chamado PNDH-3, mesmo que ele seja, na prática cotidiana, na vida da esmagadora maioria dos “cidadãos” brasileiros, pouco significativo, que pouco altera o rumo das coisas – e seria inocente esperar algo diferente.
Mas como é assustador ver que são grandes produtores rurais, os militares e os altos escalões do arquétipo judiciário brasileiro e da igreja católica, todos ganhando voz nas grandes corporações de mídia que se sentem prejudicadas e ofendidas, criticarem o documento – e o porquê das críticas. Parecem considerar que todos os brasileiros são grandes idiotas!!
Grandes produtores rurais querem manter suas práticas odiosas que transformam o uso da terra de meio de produção para campo de especulação; militares que não querem perder ainda mais sua razão de existir, justamente a que dá origem à miséria humana – o mesmo vale para os diferentes envolvidos na estrutura do judiciário brasileiro; grandes conglomerados de mídia desejam manter a manipulação dos fatos, das notícias e da “verdade” - também precariamente abordada no PNDH-3 – de acordo com suas conveniências políticas e comerciais, sem nenhum limite, sem nenhum freio, sem nenhuma vergonha, transformando o conhecimento em mercadoria de alto valor, e que dispensa a reflexão por parte de quem a consome. Por esse motivo, mais uma vez conforme suas conveniências, emissoras de TV em seus noticiários de horário nobre, os “jornalões” mais vendidos e comentados e os típicos radialistas saudosos da ditadura militar (que diziam combater) fazem das suas imagens, linhas e vozes as mesmas de ruralistas, grandes advogados, da cúpula católica... Chegamos ao cúmulo de ouvir o sr. Boris Casoy (aquele que classifica garis como “merda”) alertar a população que as medidas do PNDH-3, de mediação entre governo, sociedade civil, invasores e invadidos, vale também para a zona urbana – não falta muito para virem com a história de que vem aí o comunismo, que vai tomar a casa, o carro, o salário dos cidadãos, e logo, logo, vão voltar os comunistas que devoram criancinhas.
Ou seja, ninguém admite perder um milímetro do espaço que tem. E aí, na miséria da nossa organização social, pode mais quem mais grita. E quem podia abrir os olhos de quem parece ter esquecido de gritar, preocupando-se com o que mais repercute mas o que menos importante há na luta para modificar o estado de coisas.

01/01/2010

Do extinto "cabeçacheia", em sua curtíssima existência

Há quase dez anos...

Eu escrevo.
Não importa o quê, tanto faz onde, não interfere onde, muito menos quando. É necessidade fisiológica, é alívio, gozo dos mais intensos, realização pessoal.
Sei que caminho com passos trêmulos e incertos pela gramática, vejo as regras da língua me escaparem pelos dedos ou dentre os miolos. Fio-me apenas na paixão pela leitura e na mania de praticar incansavelmente. Mas nunca sei onde vou parar - e talvez não queira mesmo saber.
Facilmente notável que aqui não uso imagens; aceito facilmente prescindir delas, dedico fé total para as palavras e talvez esteja equivocado. Mas sou assim. E reflito demais sobre o assunto.

QUANDO ELAS NÃO VALEM NADA

Palavra por palavra
a minha não vale nada.

Palavras são meros instantes,
não podem ser nada além
de fruição momentânea quando não
repercutem em atos
nem em fatos.

Palavra tantas vezes é receio,
receio de viver. Vida
na complexidade dos atos,
mas atos nem sempre são
repercussão de palavras.

Porque palavras se vão com o vento,
com a brisa espessa que assusta o amor.
Diluem-se no líquido sagrado da suposta alma,
num banho de lágrimas...

Tudo quase para sempre assim será
e o que ainda não pode ser dedica-se
a ludibriar o passo tranqüilo de quem
um dia imaginou-se simples mortal.

Mas mortal é aquele que vive. E
viver é a complexidade dos atos - ou fatos -,
não das palavras. Palavras traduzem existir.
E, se por falsas,
se por retratistas imediatas,
palavras não são vida; de simples mortal,
torno-me característica passiva da existência.

Existindo
para poder, com ou sem palavras,
um dia aprender a viver.