Indiscutivelmente há um tom cético ou desencantado no que escorre pelas linhas. Mas é o que depreendo do que vejo todos os dias (e noites), infelizmente...
Viver
entre dois extremos
não define a verdade dialética
apenas impõe
o trânsito visceralmente sentido
a real capacidade de se adaptar -
em poucos minutos -
do dito inferno sabidamente construído
às penas da aparente falsa calmaria limbacenta.
Mais cruel é a pérfida, dura constatação
que quaisquer ambos os lados
caminham ao mesmo:
um ponto cegueiro e sem volta
da falta de consciência
da indiferença
mudez que não faz contestar.
da surdez para...
Aceitar!
De Alberto Caieiro, "em Pessoa":
Quando o vento cresce e parece que chove mais"
31/05/2012
25/05/2012
Consolidando (ou não??) divagações...
Cada passo em falso
é um risco fácil
de cair novamente
onde nunca se saiu.
Como cachorro atrás do rabo -
tautologia
e sofismos -, acendemos
a pira sagrada,
para onde ascendemos
à tão decantada
ignorância suavizada.
Mas perdemos a vez...
Seja ao abrir do primeiro livro,
estrear no erguer da mão,
desnaturalizar um pensamento,
barrar o senso comum: com
qualquer disso,
perdemos a vez...
Perdemos a chance,
só para saber que,
na verdade,
não a queríamos.
E, na realidade,
apenas sonhamos com um retorno,
comprovando
o quanto somos infelizes -
e minimamente sensatos!
18/05/2012
Apenas para não deixar esfriar...
Reflexões
Diluindo, diluindo,
destilando meu desespero.
Acordo com os mesmos
reflexos no rosto,
luz da chama fraca e
dos medos que movem o moinho,
dos ventos que giram o destino e
dos dias que não acabam mais.
Derivados, derivados,
dependendo dos meus fracassos.
Repouso sem as cotidianas
marcas nas mãos,
tremor do frio intenso e
das certezas que paralisam o motor,
da calmaria que reproduz o dia-a-dia e
das noites que se encurtam mais.
Passo, passam,
vão, vou,
quem pára para pensar?
Ninguém quer ver
o que só os cegos não vêem
(será o pior cego aquele que não quer ver?)
Passei, passado,
cheguei, chegado,
não paro pra pensar e
não quero ver
o que os cegos não vêem
(serei o pior dos cegos?)
Claro ou escuro,
já não há mais diferença
quando a cegueira é espontânea,
reflexo de nossa omissão.
Reflexo do (no) meu rosto
todas as noites e manhãs.
10/04/2012
Diminuindo o débito: nova resenha - Saramago e as "Pequenas Memórias"
Estou devendo 3 (quase 4...), sendo 2 releituras. A mais recente é obra recém-lida, começo por ela.
Dizia eu, há pouco menos de dois anos, que José Saramago era o maior escritor vivo da língua portuguesa. Por termos perdido o autor, evidente que não posso mais dizer isso. E fico sinceramente em dúvidas para elevá-lo à condição de maior escritor da língua portuguesa (a despeito de outros "figurões" incontestes - que eu contesto) por conta das suas últimas obras que li, que me soaram como obrigação, como cumprimento de contrato, enfim. "Ensaio sobre a Lucidez" (cuja história dava sequência à história do magistral "Ensaio Sobre a Cegueira") e as "Intermitências da Morte" permitiram-me ainda ver o lume do mágico escritor e também, evidentemente, seu particular estilo; mas ambas me soaram como repetições dos temas e fórmulas narrativas que o consagraram - frustrantes, portanto, em virtude da expectativa que se tem ao ler um Saramago. Assim, desinteressei-me por seus últimos lançamentos, embora reste-me ainda o antigo (1953) e até pouco inédito livro "Clarabóia" (que não deve mais levar acento, mas eu teimo em mantê-los) para ponderar.
Por isso, foi grande a satisfação com a leitura de "Pequenas Memórias". É de suas últimas publicações, de 2006, e não se trata de um romance. Tampouco podemos considerá-la uma autobiografia, mas sim "pequenas memórias", como ele mesmo as trata, de sua tenra infância e início de adolescência (palavra, aliás, ausente da obra). Delicioso livro que nos revela uma parte da construção de Saramago (desde o próprio sobrenome, inclusive), parte das vivências que o tornaram quem foi e parte do que o permitiu escrever suas fantásticas obras. No livro, não só lemos passagens da vida do autor como também percebemos várias das suas características de escritor: os longos parágrafos, a inserção particular dos seus diálogos, neste não exclusivo caso um absoluto desrespeito à cronologia, e, como não raramente em outras obras, passagens que corrigem trechos anteriores com as devidas escusas e as explicações dos equívocos (e imagino que "ai" do editor que não quisesse manter o texto integral!) Mas interessantíssimo mesmo é poder, com tal leitura, perceber um ser humano tão comum por trás de um monumento da literatura, a admissão de erros, de impropriedades e de atitudes nada nobres admitidas por um senhor já com 80 anos que se mostrou, não bastasse tudo, dotado de uma memória prodigiosa. E tão curioso poder notar, como não é raro para qualquer um de nós, singelas e mínimas semelhanças no modo de pensar e agir - o que nos faz instantânea e momentaneamente sentir um ridículo orgulho.
Deu saudades... Saudades de ler as grandes obras de Saramago e profundo interesse de ler o que ainda não li, desde seus diários até os romances que ainda não tive em mãos.
Para lembrar de Saramago, para combater as saudades, revejo e insiro aqui a adorável animação de sua única obra admitidamente infantil, "A Maior Flor do Mundo", com narração dele próprio.
(especiais agradecimentos ao amigo Eduardo Januzzi, que me emprestou o livro, e também para minha sobrinha, Marina Prado, que me presenteou com o endereço deste vídeo já faz algum tempo).
Dizia eu, há pouco menos de dois anos, que José Saramago era o maior escritor vivo da língua portuguesa. Por termos perdido o autor, evidente que não posso mais dizer isso. E fico sinceramente em dúvidas para elevá-lo à condição de maior escritor da língua portuguesa (a despeito de outros "figurões" incontestes - que eu contesto) por conta das suas últimas obras que li, que me soaram como obrigação, como cumprimento de contrato, enfim. "Ensaio sobre a Lucidez" (cuja história dava sequência à história do magistral "Ensaio Sobre a Cegueira") e as "Intermitências da Morte" permitiram-me ainda ver o lume do mágico escritor e também, evidentemente, seu particular estilo; mas ambas me soaram como repetições dos temas e fórmulas narrativas que o consagraram - frustrantes, portanto, em virtude da expectativa que se tem ao ler um Saramago. Assim, desinteressei-me por seus últimos lançamentos, embora reste-me ainda o antigo (1953) e até pouco inédito livro "Clarabóia" (que não deve mais levar acento, mas eu teimo em mantê-los) para ponderar.
Por isso, foi grande a satisfação com a leitura de "Pequenas Memórias". É de suas últimas publicações, de 2006, e não se trata de um romance. Tampouco podemos considerá-la uma autobiografia, mas sim "pequenas memórias", como ele mesmo as trata, de sua tenra infância e início de adolescência (palavra, aliás, ausente da obra). Delicioso livro que nos revela uma parte da construção de Saramago (desde o próprio sobrenome, inclusive), parte das vivências que o tornaram quem foi e parte do que o permitiu escrever suas fantásticas obras. No livro, não só lemos passagens da vida do autor como também percebemos várias das suas características de escritor: os longos parágrafos, a inserção particular dos seus diálogos, neste não exclusivo caso um absoluto desrespeito à cronologia, e, como não raramente em outras obras, passagens que corrigem trechos anteriores com as devidas escusas e as explicações dos equívocos (e imagino que "ai" do editor que não quisesse manter o texto integral!) Mas interessantíssimo mesmo é poder, com tal leitura, perceber um ser humano tão comum por trás de um monumento da literatura, a admissão de erros, de impropriedades e de atitudes nada nobres admitidas por um senhor já com 80 anos que se mostrou, não bastasse tudo, dotado de uma memória prodigiosa. E tão curioso poder notar, como não é raro para qualquer um de nós, singelas e mínimas semelhanças no modo de pensar e agir - o que nos faz instantânea e momentaneamente sentir um ridículo orgulho.
Deu saudades... Saudades de ler as grandes obras de Saramago e profundo interesse de ler o que ainda não li, desde seus diários até os romances que ainda não tive em mãos.
Para lembrar de Saramago, para combater as saudades, revejo e insiro aqui a adorável animação de sua única obra admitidamente infantil, "A Maior Flor do Mundo", com narração dele próprio.
(especiais agradecimentos ao amigo Eduardo Januzzi, que me emprestou o livro, e também para minha sobrinha, Marina Prado, que me presenteou com o endereço deste vídeo já faz algum tempo).
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25/03/2012
Mais uma resenha: O Caderno de Sinclair - Releitura
Conhecido por obras indiscutíveis como Demian, Sidarta, O Lobo da Estepe, além de ter escrito tantas outras, Hermann Hesse só ganhou grande reconhecimento após o final da Segunda Guerra Mundial. Isso porque, crítico do militarismo e da guerra em si, o auge da sua maturidade como autor veio justamente com a dor da derrota alemã na Primeira Guerra, seguida da ascensão nazista. Com a nova derrota alemã e a queda do nazismo, sua obra, baseada em boa medida na náusea da guerra (aparentemente oriunda do louvor patriótico da Guerra Franco-Prussiana cuja vitória patriótica lhe empurraram, ainda fresca, goela abaixo na escola, mas também e principalmente pela vivência da Primeira Guerra), serviu como bastião à uma Alemanha horrorizada com os próprios crimes. A impressão que se tem é que, para apagar ou borrar o absurdo nazista, o Prêmio Goethe concedido ao autor já em 1946 serviu para mostrar que os alemães queriam um futuro e uma imagem diferente.
Mas indiferente do reconhecimento, Hesse sempre imprimiu uma linha filosófica distinta, quase própria, temperada pela educação familiar religiosa, por este horror ao militarismo, do ceticismo em relação à política e aos homens e pelo amor à arte de escrever - do romance aos poemas, passando pelos ensaios e crônicas.
Não apreciei a obra da primeira vez que a li, faz já por volta de duas décadas. Creio que não a compreendi muito bem e por isso tive a leitura atravancada, arrastada, levada até o fim como tarefa, como missão do leitor assíduo, desregrado e confuso que sempre fui. Então, decidi relê-la, mas me surpreendi negativamente com a inocência, a imaturidade e o grotesco dos ensaios escolhidos para compor a obra O Caderno de Sinclair, publicado mo início da década de 20, escritos sob o pseudônimo de Emil Sinclair em periódicos da imprensa alemã do final da década 1910-1920. Mistura de uma certa misantropia misticista com conclusões adolescentes, os ensaios me soaram como aqueles textos que os aspirantes à literatura escrevem no início da adolescência e que guardam com estima e carinho e, anos depois, adulto feito, vida corrida e experimentada, ruborizam-se só de imaginar que algum outro possa ler. Ainda mais deprimente, na edição lida (aparentemente a 1ª Edição da Editora Record, 1984), é ler o prefácio do autor, do ano de 1962 - quando teria mais de 80 anos.
Incluiu em seus ensaios um extremo pessimismo com o futuro alemão e europeu, sua visão própria - e absurda e exageradamente imatura - das virtudes e vícios humanos, sua ânsia pelo isolamento... Vê-se, também, o seu extremo antimilitarismo e seu amor pela arte escrita, mas o tratamento dado aos seus textos, nessa obra, beiram a infantilidade.
Aos fãs, pelo apego; aos demais, por curiosidade, lendo entre suspiros de impaciência e gestos de negação.
Mas indiferente do reconhecimento, Hesse sempre imprimiu uma linha filosófica distinta, quase própria, temperada pela educação familiar religiosa, por este horror ao militarismo, do ceticismo em relação à política e aos homens e pelo amor à arte de escrever - do romance aos poemas, passando pelos ensaios e crônicas.
Não apreciei a obra da primeira vez que a li, faz já por volta de duas décadas. Creio que não a compreendi muito bem e por isso tive a leitura atravancada, arrastada, levada até o fim como tarefa, como missão do leitor assíduo, desregrado e confuso que sempre fui. Então, decidi relê-la, mas me surpreendi negativamente com a inocência, a imaturidade e o grotesco dos ensaios escolhidos para compor a obra O Caderno de Sinclair, publicado mo início da década de 20, escritos sob o pseudônimo de Emil Sinclair em periódicos da imprensa alemã do final da década 1910-1920. Mistura de uma certa misantropia misticista com conclusões adolescentes, os ensaios me soaram como aqueles textos que os aspirantes à literatura escrevem no início da adolescência e que guardam com estima e carinho e, anos depois, adulto feito, vida corrida e experimentada, ruborizam-se só de imaginar que algum outro possa ler. Ainda mais deprimente, na edição lida (aparentemente a 1ª Edição da Editora Record, 1984), é ler o prefácio do autor, do ano de 1962 - quando teria mais de 80 anos.
Incluiu em seus ensaios um extremo pessimismo com o futuro alemão e europeu, sua visão própria - e absurda e exageradamente imatura - das virtudes e vícios humanos, sua ânsia pelo isolamento... Vê-se, também, o seu extremo antimilitarismo e seu amor pela arte escrita, mas o tratamento dado aos seus textos, nessa obra, beiram a infantilidade.
Aos fãs, pelo apego; aos demais, por curiosidade, lendo entre suspiros de impaciência e gestos de negação.
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Sinclair
16/03/2012
Por que é difícil defender as paralisações da educação da ocasião
São três as razões principais; tentarei abordá-las por abrangência.
Primeiro, mais uma vez constrói-se um movimento reivindicatório no setor público, na educação pública, que paralisa os serviços e prejudica a população. Algo que até teria sentido, caso servisse para pressionar a administração pública, inclusive pela insatisfação da população com a paralisação (14) ou greve (14-15-16). Entretanto, como de chofre em outras incontáveis ocasiões, não houve a preocupação, por parte do comando dos movimentos, em construir o movimento junto a população. As manifestações foram marcadas com relativa antecedência, fazendo com que fosse possível a CNTE, junto aos diferentes sindicatos, conduzir uma campanha de esclarecimento junto à população; sem isso, continuam os educadores e seus sindicatos reféns do tratamento da grande mídia. Resultado: todos os prejuízos, traduzidos na insatisfação da população (seja aquela que teve dificuldades com as escolas fechadas quanto aquela que se sentiu prejudicada pela movimentação, pelas vias bloqueadas, etc) volta-se contra os professores, não contra a administração que, do seu lado, dá de ombros para o movimento uma vez que, na lógica em que se pensam os efeitos da utilidade de uma paralisação/greve, pouco prejuízo lhe causou. Nas entradas e nas saídas, nas reuniões de pais e de Conselho de Escola, no contato diário com pais, mães e responsáveis e – principalmente - com material unificado que poderia ser providenciado por cada sindicato envolvido, certamente aumentaria o número daqueles que apoiariam o movimento, que entenderiam suas razões, que defenderiam os professores, ainda que claramente não no patamar da maioria, mas certamente num número muito maior do que se todos apenas acompanharem o movimento a partir da grande imprensa. Ponderando, então, qual é a principal razão da convocatória para 14-15-16 de março - o pagamento do piso nacional em todas as redes, o que significa meramente o cumprimento da lei!!! - não seria difícil convencer a população da legitimidade do movimento.
Uma paralisação dessa não é que nem no setor privado, que pára a produção e causa prejuízo ao patrão. Será tão difícil assim enxergar a diferença? Claro que não... Por que será que se insiste com a mesma estratégia, então?
Uma paralisação dessa não é que nem no setor privado, que pára a produção e causa prejuízo ao patrão. Será tão difícil assim enxergar a diferença? Claro que não... Por que será que se insiste com a mesma estratégia, então?
Isso me leva ao segundo ponto, passando também para um círculo menor, que conheço comparativamente muito melhor do que a situação no país todo, que é a dos educadores da rede pública do município de São Paulo. Realizaram paralisação e ato no dia 14, sob coordenação do SINPEEM, um sindicato presidido por um senhor que tem claras relações, pelo menos políticas, com a administração municipal. Cansativo repetir algumas coisas, pois bastaria eu remeter eventuais leitores a postagem do ano passado http://soexperimentos.blogspot.com/2011/05/o-sindicato-que-tem-um-dono.html, mas enfim...
Aceitando, concordando e participando do ato, profissionais da rede paulistana fazem persistir o ciclo vicioso no qual nos arrastamos nos últimos anos. Quem parar para refletir verá que os atos e manifestações do SINPEEM, há nove, dez anos atrás, eram muito mais numerosos tanto em ocasião quanto na presença de educadores. Mesmo assim, pouco conseguíamos, principalmente em virtude da leniência e paralisia do sindicato, que sempre teve como prioridade a situação política do seu presidente, e não as reais necessidades da categoria; assim sendo, na tensão de ocasião entre o presidente e a prefeita do momento, nenhum resultado prático obtivemos. Será que todos já se esqueceram da promessa dos 0,01 % de reajuste na data-base de 2004? Com ampla movimentação da categoria e uma série de paralisações semanais, conquistamos a "grande vitória" de elevar o reajuste para... 0,1%. Outra prova das prioridades do SINPEEM foi a realização da última greve da categoria, em 2006, segundo ano da administração Serra, quando após duas semanas de greve a categoria conseguiu outra “grande vitória” recebendo o direito de compensar os dias parados. E o sindicato ainda cantou vitória... Para quem não lembra, aí vai o resultado da greve pelo próprio sindicato : http://www.sinpeem.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=383. Cúmulo dos cúmulos, o presidente do SINPEEM, para se defender da pecha de governista, tem a coragem de afirmar que esta greve foi na administração Kassab (a greve iniciou-se em 28/03/2006, ainda antes de Serra deixar a administração para se candidatar ao governo paulista, o que ocorreu 3 dias depois).
As mudanças começaram justamente aí. Parece que o presidente do SINPEEM aproximou-se muito, politicamente falando, do secretário de educação; em 2007, após não se eleger deputado pelo PSB, troca de legenda e vai para o PPS (partido que já apoiava na Câmara dos Vereadores o prefeito Kassab) e, em 2008, elege-se novamente vereador e depois líder do partido na casa. À despeito de todo os arrotos de independência de tal partideco oportunista, eles são é governistas. Então, de lá para cá, as melhoras para a categoria são evidentes: novo estatuto; fim dos professores adjuntos (o que foi e é criticado por alguns); fim da menor das jornadas de trabalho, permitindo que todos passassem a ganhar, no mínimo, um salário melhor da jornada intermediária, que passou a ser a menor; piso substancial se comparado ao piso nacional, primeiro mediante abonos, depois integrados ao salário; estabelecimento de um novo piso ainda maior com a manutenção dos abonos... Com tudo isso, educadores da cidade de São Paulo recuperaram não totalmente mas substancialmente as perdas da década e meia anterior. E graças, sim, ao sindicato! Mas, infelizmente, não pela atuação firme da Diretoria em consonância com sua base consciente, não pelas paralisações ou manifestações, mas sim graças aos interesse políticos e das relações do presidente do SINPEEM com a administração pública, situação conveniente para alguém com indiscutível habilidade política! Essa realidade, como dito na postagem após as eleições para a diretoria no ano passado, levou o SINPEEM a deixar de ser o representante dos trabalhadores junto à administração para se tornar representante da administração junto aos trabalhadores. O SINPEEM, que é um dos maiores sindicatos do país, está à serviço dos interesses políticos de seu presidente e de seu grupo. Habilidoso, ele manipula decisões, ironiza adversários e louva a democracia que discute, discute, discute (com suas pérfidas intervenções) mas chega no resultado que ele quer, até porque só ele sabe qual ajuste já foi feito com o outro lado. Então, nossas "conquistas" são possíveis graças a atuação político-partidária legislativa do presidente do SINPEEM, quando as necessidades da categoria servem ao uso político dessa pessoa. É um ciclo vicioso com o qual os educadores de São Paulo deveriam romper!! Mas não... Aparentemente, esse ciclo será interrompido apenas quando a atual situação do governo paulistano perder uma eleição. Não vê ou não aceita isso quem não quer... Ou então quem sonha em fazer uso político e pessoal do sindicato tal como seu atual presidente, com as mesmas táticas do seu atual presidente - ainda que para outros objetivos!!!
Não convence o discurso de quem aceita o fato das "conquistas" se darem pela relação entre SINPEEM e administração mas reafirma que elas não ocorreriam sem as paralisações; porque as paralisações poderiam, sim, ocorrer, a partir da movimentação da base. Ou vão dizer os nosso grandiosos e heróicos militantes político-partidários envolvidos no sindicato (os abnegados que se consideram detentores da exclusividade da coragem para lutar e da inteligência para atuar, aqueles que consideram inimigos todos aqueles que não integram suas raivosas fileiras) que eles não conseguem movimentar um razoável setor da categoria para manifestações ou paralisações independente da Diretoria majoritária? Ou será que é medo do rompimento, que é conveniente para algumas lideranças, mesmo as que se dizem mais radicalmente opositoras a atual direção do SINPEEM, abrigar-se no guarda-chuva da legitimidade porca e nojentamente imiscuída com a administração?
Então, chego ao terceiro ponto. O atual presidente do sindicato historicamente sempre reagiu negativamente a qualquer proposta que não saia dele mesmo ou de seu grupo político; mais de uma vez foi capaz de sugerir datas de encontros, assembleias atos e paralisações para um dia antes ou um dia depois da sugerida pela ala opositora do sindicato ou da direção, em gestos que simplesmente servem para reafirmar seu poder de monarca absoluto dentro do SINPEEM. Desligar microfones, ironizar adversários, colocar toda uma plateia contra quem o contesta... Então, de repente, misteriosamente, em ano de eleição, sem "conquistas" possíveis, ele sequer contesta as sugestões dos opositores. Endossa-as e até as defende!
Acontece que, de antemão, deve ter previsto como agir para manter o crédito de "presidente do sindicato" e não afetar seu curral eleitoral em que se tornou o SINPEEM, ao mesmo tempo que sabe impossível conquistar as reivindicações mais substanciais deste ano, como a antecipação do reajuste e alteração da lei salarial; deve saber ele, de antemão - aí é apenas meu palpite - que é possível negociar a reclassificação dos profissionais para cima no piso, o que vem sendo discutido já desde o ano passado, e a utilização dos títulos para evolução - outra discussão que já vem dando "pano pra manga" há alguns meses. Sairá, para a base da categoria, como o presidente que conduziu a luta, e para a administração, como o aliado que manteve o movimento no patamar adequado para não causar danos à imagem de secretário e prefeito, granjeando a manutenção tranquila do apoio à sua própria reeleição como vereador. Em suma, este ano, além do uso político costumeiro, o SINPEEM vira massa de manobra como fins eleitoreiros.
A dúvida que fica, entretanto, é se o interesse eleitoral, neste ano, é apenas do presidente do SINPEEM...
13/03/2012
De amor e de sombras...
Leitura nova de obra nem tão nova (publicada 1984).
Isabel Allende é filha de um primo-irmão de Salvador Allende (portanto, ela e "o" Allende eram primos). Peruana de nascimento, em virtude da atividade do pai (corpo diplomático), mas chilena de coração.
Uma ditadura, um regime autoritário, é ruim para praticamente todos - exceto para os "amigos do rei" -, mas imagino o quanto deve ser mais cruel para alguém que, tendo por volta de 30 anos de idade, como ela, vê seu país amado mergulhar na espessa treva da ditadura militar, ainda mais com uma visão consciente de mundo - a despeito de concordarmos ou não qual seja essa visão. Essa era a situação de Isabel no seu Chile, quando viu o primo resistir à sanha militarista que o levou ao suicídio, ao claramente fracassar a defesa da legitimidade e legalidade do seu governo.
Costuma-se dizer que a ditadura chilena foi a mais cruel das ditaduras da América do Sul; incomoda-me a questão, por dois motivos: primeiro, porque o regime chileno não se preocupou em esconder a ditadura sob uma ilusão de legalidade, então matou sem dar satisfação e elevando o número oficial de vítimas na casa da dezena de milhares (40.0000). Já no Brasil, que viveu uma ditadura na qual ilusoriamente havia a "eleição" de presidentes, reconhece-se a morte de apenas 500 pessoas - o que chega a ser ridículo. Milhares de desaparecidos, mar agitado por cadáveres despejados de helicóptero e o aparecimento de crânios, esqueletos e quetais parecem sequer envergonhar quem reafirma esse número infame. Mas, mesmo que 5 centenas fosse a absoluta verdade, mais infame ainda ver que muitas pessoas tratam essa diferença nos números como subterfúgio para dizer que a ditadura no Brasil foi "suave" ou, melhor, nas palavras de um odioso dito jornalista (bancário é quem trabalha em banco, banqueiro é dono; jornalista é quem noticia num jornal; e dono de jornal, o que é?), "branda".
Entretanto, nada tem a ver com isso Isabel Allende. Então, corajosamente, dez anos depois do golpe, ela publica "De amor e de sombras" (De amor y de sombra), simples e tocante livro que aborda toda a incompreensão, ignorância e crueldade daqueles que integraram e compuseram defesa com a ditadura militar do seu país; aborda a ignorância e desumanidade que, em sua ficção tão próxima do real, levou ao assassinato de uma adolescente que convulsionava diariamente e a quem se atribuía pequenos milagres; aborda a ilusão de quem vivia placidamente dentro dos muros do castelo do aburguesamento, crendo na existência calma, pacífica, profícua e feliz de um país verdadeiramente miserável e cruel; aborda a dor e a dificuldade, a insistência e o coração límpido de quem, com suas inócuas ferramentas, continuava erguido e lutando contra um regime de exceção; aborda como a paixão é capaz de nos arrastar à verdade, por mais cruel e indesejável que ela seja, e aborda também como o contato com a realidade nos transforma; aborda a indiferença dos líderes do regime, que viam a verdade consequente da desumanidade de seus atos escancarar-se para o mundo enquanto davam de ombros e continuavam torcendo os pescoços que lhes desagradavam.
Como não podia ser diferente à altura em que o livro foi escrito, a obra termina com o risco de morte, a fuga e o abandono da pátria das duas personagens que desnudaram uma única singela verdade do regime; mas ambos com um sopro de esperança, com aquela chamada de ar ao pulmão que ergue a fronte e faz os olhos brilhar na esperança de um dia voltar para uma pátria melhor.
Ótima leitura para quem suporta os pequenos nós na garganta.
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10/03/2012
De novo na trilha do passado...
Por volta de 20 anos. Foi um período curioso...
Marcando passo numa escola que não podia fazer nada por mim além de formalizar o diploma; discutindo com professores a eleição presidencial do fim do ano; alçado ao status de fenômeno, quando era na verdade, pelo comportamento único que podia manter, um simples corpo estranho naquela massa; período em que briguei com e por outros, durante a insensata insaturação do Grêmio Estudantil na EEPSG "João Ramalho" (episódio que definiu a impossibilidade de me fazer um militante institucionalizado). Tudo fez eu pensar mais em buscar o que faltava para ajudar calar a boca de alguns imbecis. Estranhamente, de lá para hoje, além de não se calarem, eles só se multiplicaram.
Marcando passo numa escola que não podia fazer nada por mim além de formalizar o diploma; discutindo com professores a eleição presidencial do fim do ano; alçado ao status de fenômeno, quando era na verdade, pelo comportamento único que podia manter, um simples corpo estranho naquela massa; período em que briguei com e por outros, durante a insensata insaturação do Grêmio Estudantil na EEPSG "João Ramalho" (episódio que definiu a impossibilidade de me fazer um militante institucionalizado). Tudo fez eu pensar mais em buscar o que faltava para ajudar calar a boca de alguns imbecis. Estranhamente, de lá para hoje, além de não se calarem, eles só se multiplicaram.
Depois da releitura anual da obra de cabeceira, tudo se misturou no que vai aí abaixo...
EXTRA-OFICIAL
Mais uma "revolução" termina
mais vidas perdidas por nada.
As ideias se fundem,
embora digam que elas não são metais!
Líderes morrem - e ficam
suas frases por vezes de pouco sentido
soam em bocas pedantes
como o preço da devoção
cobrado com total entrega -
e sorrisos.
Morrem presidentes inertes,
de quem o povo recordará como
pais - deuses - padrinhos...
Dois mil anos em cinco!!
(Eu só posso gargalhar).
Mas um dia tudo acaba,
é quando conhecerem o extra-oficial
a história à margem da História
menos coada,
menos censurada,
menos trabalhada,
com um pouco de verdade
comparada a História Oficial.
02/03/2012
Acelerado...
Esqueça o porvir
levante a mão
faça a pergunta sem resposta
repita mais um dia perdido
durma pouco
sonhe muito - porque
não realiza -
viva em partes
espere sempre
adormeça de cansaço
desperte pela urgência
ingerindo o que tiver
regurgitando o que não puder
correndo para alcançar
parando para esperar
devolvendo para não perder
usando para não perecer
respire
pare
pense
desista e trabalhe
troque um afago
abafe um sorriso
seque essa lágrima
lave essa cara
perca esse peso -
parece pele e osso -
apare o cabelo
desfaça a trança
limpe a cara
ponha o nariz de palhaço
abandone o picadeiro
contrate uma ajuda
negue o socorro
cuspa no chão
beba outro gole
ludibrie outro colega
amacie o bife
doure a pílula
ignore a verdade
canse
recupere as forças
recomece
mude,
não siga este conselho...
E descanse em paz.
29/02/2012
RETRATO DO COTIDIANO, RETRATO DOS DIAS ATUAIS
Corro o risco de tornar repetitivo pelo tema. Fazer o quê, provocação dos dias - ou noites - que tenho vivido este ano...
Toda alvorada renovada
reabre, com ou sem sorriso,
a mesma estrada marcada
pelo tom que vem do improviso.
Impávidas e fúteis certezas
das vidas inúteis em correntezas
de lágrimas doces,
de lástimas dóceis
no despudor da ignorância
contra a dor...
Tanta dor,
tantas dores despropositadas
por causas sem sentido,
pelos valores distorcidos
no qual minha imiscuidade
é força do labor,
obrigação,
sensação de responsabilidade
sobre a flor que, é certo,
não desabrochará no deserto.
Toda alvorada renovada
reabre, com ou sem sorriso,
a mesma estrada marcada
pelo tom que vem do improviso.
Impávidas e fúteis certezas
das vidas inúteis em correntezas
de lágrimas doces,
de lástimas dóceis
no despudor da ignorância
contra a dor...
Tanta dor,
tantas dores despropositadas
por causas sem sentido,
pelos valores distorcidos
no qual minha imiscuidade
é força do labor,
obrigação,
sensação de responsabilidade
sobre a flor que, é certo,
não desabrochará no deserto.
Para quem perdeu a capacidade de deixar pra lá...
A verdade e o horror - o horror e a verdade.
Meados do ano passado, iniciei a leitura do livro “Um escritor na guerra: Vasily Grossman com o Exército Vermelho (1941-1945)", uma coletânea de artigos e cartas pessoais do correspondente do jornal Krasnaya Zvezda (o “Estrela Vermelha”, até hoje existente, então jornal do Exército Vermelho), entremeadas de rápidas descrições e pontuações pelos organizadores das circunstâncias nas quais o autor, que viveu praticamente todo o período de envolvimento da URSS na Segunda Guerra, escrevia seus textos. Ao final da leitura, a obra apontou-me três focos de análise e uma amarga recordação – que toquei adiante.
Meados do ano passado, iniciei a leitura do livro “Um escritor na guerra: Vasily Grossman com o Exército Vermelho (1941-1945)", uma coletânea de artigos e cartas pessoais do correspondente do jornal Krasnaya Zvezda (o “Estrela Vermelha”, até hoje existente, então jornal do Exército Vermelho), entremeadas de rápidas descrições e pontuações pelos organizadores das circunstâncias nas quais o autor, que viveu praticamente todo o período de envolvimento da URSS na Segunda Guerra, escrevia seus textos. Ao final da leitura, a obra apontou-me três focos de análise e uma amarga recordação – que toquei adiante.
Das análises, a primeira é sobre a atuação do Exército Vermelho. Ficou reforçada a tese do seu evidente despreparo para enfrentar a invasão alemã e impedir o avanço nazista até os portais do poder stalinista. Mas posteriormente, entretanto, e também sustentando teses preexistentes, a obra evidencia o papel climático na recuperação dos soviéticos na guerra, além da incontestável superioridade numérica que de certa forma superou o abissal predomínio tecnológico alemão, a importância do enorme esforço para a produção de guerra do gigantesco poder estatal soviético (auxiliada pelos leasings estadunidenses), e da bravura de muitos soldados e oficiais das diferentes nacionalidades soviéticas, na maioria dos casos amplificada pela devoção ao regime e ao seu líder – em boa medida, conseqüência do pérfido culto à personalidade instaurado pelo regime -, fatores que levaram o Exército Vermelho a avançar milhares de quilômetros, dos limites de Moscou até o centro de Berlim.
A outra análise é a da participação do povo soviético na resistência, na luta. Curiosamente, parece que quanto mais distante geograficamente do poder, maior parecia a proporção da população descontente com o stalinismo, contra a coletivização imposta, quanto às dificuldades de abastecimento, quanto ao autoritarismo intolerante contra os considerados inimigos do regime. Assim, em diferentes trechos, o autor constata a colaboração da população com os alemães – enorme na Ucrânia, presente em Belarus, percebidas em suas tímidas e quase envergonhadas constatações, demonstrou que na maior parte do tempo Grossman também manifestou grande fidelidade e confiança nos rumos do “socialismo real” stalinista e no estranho patriotismo “internacionalizado”, produtor de contraditórias reações e de conclusões dicotômicas dos partidários e simpatizantes do regime.
Por fim, vem a análise dos crimes nazistas contra os judeus. Grossman, assim como tantos outros dos seus espalhados por toda a Europa, pouco tinham com o judaísmo senão a origem; entretanto, ao conhecer a perseguição desumana e sistemática contra seu povo, aos poucos levou-o, assim como outros tantos judeus antes indiferentes, a sentir em si um agudo apego à origem, à defesa do seu povo. Conforme avançava o Exército Vermelho, Grossman ia notando maior a proporção do extermínio; ao mesmo tempo, enquanto vivia e relatava aquilo, parecia incapaz de perceber que o regime stalinista jamais reconheceria os judeus como vítimas maiores e à parte, minimizando a situação deste povo como se todos fossem meras vítimas individuais da guerra - se não uma manifestação anti-semita, certamente uma tentativa de ignorar a questão para vitimizar por igual os “internacionais” soviéticos.
Então Grossman chega à Treblinka, e com o que pouco viu e muito ouviu dos raríssimos sobreviventes, escreveu o relato “O inferno chamado Treblinka”, lido no Tribunal de Nuremberg. Acabou me fazendo voltar para lá...
Li pela primeira vez o livro “Treblinka” (Jean-François Steiner), certamente há mais de vinte anos, entre meus 15 e 17 de idade. A impressão que a obra me causou foi funda, inesquecível, mas neste caso por dolorosa e amarga. Assim como ocorreu com algumas outras obras em minha vida, da literatura ao cinema, enterrei "Treblinka" num recanto isolado da minha memória, sabendo que jamais esqueceria que o li, mas, entretanto, buscando uma alternativa para não ter que suportar repetir a experiência daquela dor. Quando Grossman, em um longo artigo, descreve o pouco que viu e o muito que ouviu a respeito do campo de extermínio de Treblinka, acabei tomando a obra para relê-la, na esperança que uma maior maturidade pudesse manter sob controle aquelas cicatrizes invisíveis da primeira leitura.
Eu estava enganado.
Tentei me preparar obtendo algumas informações sobre obra e o autor antes de iniciar a releitura. Encontrei um sem-número de críticas à obra, com o tratamento mais suave de chamá-la de "romance". Curiosamente, entretanto, 9 em cada 10 fontes de tais críticas são, no mínimo, excessivamente tolerantes com o que elas mesmo chamam de "nacional-socialismo" (e não NAZISMO, estranhamente)... Esperado o fato, uma vez que tantos ainda negam o Holocausto judeu no passo de suas pérfidas e cruéis convicções ideológicas.
Evidente que o livro deve ter um pouco de fantasia ou imaginação; Steiner, assim como Grossman, colheu informações sobre o funcionamento do campo com poucos dos já raríssimos sobreviventes do campo, e anos depois. Embora não seja razão para elogios ou admiração, é de se considerar inevitável que as lacunas de determinados fatos possam ter sido preenchidos por uma inspirada verve ficcional do autor. Mas, por maior que tenha sido a proporção desta tentação no autor, em nada diminui a náusea e o pasmo horrorizado do que o livro busca retratar...
Tentei me preparar obtendo algumas informações sobre obra e o autor antes de iniciar a releitura. Encontrei um sem-número de críticas à obra, com o tratamento mais suave de chamá-la de "romance". Curiosamente, entretanto, 9 em cada 10 fontes de tais críticas são, no mínimo, excessivamente tolerantes com o que elas mesmo chamam de "nacional-socialismo" (e não NAZISMO, estranhamente)... Esperado o fato, uma vez que tantos ainda negam o Holocausto judeu no passo de suas pérfidas e cruéis convicções ideológicas.
Evidente que o livro deve ter um pouco de fantasia ou imaginação; Steiner, assim como Grossman, colheu informações sobre o funcionamento do campo com poucos dos já raríssimos sobreviventes do campo, e anos depois. Embora não seja razão para elogios ou admiração, é de se considerar inevitável que as lacunas de determinados fatos possam ter sido preenchidos por uma inspirada verve ficcional do autor. Mas, por maior que tenha sido a proporção desta tentação no autor, em nada diminui a náusea e o pasmo horrorizado do que o livro busca retratar...
Então, tomei em mãos a obra, na minha edição rota e remendada com mais de 30 anos, comprada por minha mãe.
Mesmo sabendo que releria fatos terríveis em termos gerais, percebi que no passo do meu avanço na leitura, minha memória ia recuperando parcialmente e por antecipação os fatos, gerando angústia, raiva, dor e, principalmente, vergonha; depois, relendo os fatos relembrados, gravaram-se mais fundas as sensações negativas da(s) tamanha(s) monstruosidade(s) que o livro registra.
Mesmo sabendo que releria fatos terríveis em termos gerais, percebi que no passo do meu avanço na leitura, minha memória ia recuperando parcialmente e por antecipação os fatos, gerando angústia, raiva, dor e, principalmente, vergonha; depois, relendo os fatos relembrados, gravaram-se mais fundas as sensações negativas da(s) tamanha(s) monstruosidade(s) que o livro registra.
Tenho certeza de que muitos dos poucos que passarão pelo que agora escrevo já leram, viram e ouviram histórias e registros a respeito de diferentes campos de concentração, trabalho e extermínio nazistas. Especialmente o cinema, com seu apelo imagético, provavelmente levou às lágrimas ou à beira delas tantos de nós. Mas o impacto de “Treblinka” é terrivelmente pior... Porque o campo de Treblinka foi, sem dúvidas, o retrato maior da crueldade nazista. Era unicamente um campo de extermínio, ao contrário de Auschwitz, que era um campo de trabalho e extermínio. Lá registrou-se o espírito da eficiência perfeccionista que pontuou, nos mais mínimos detalhes, o propósito do extermínio anti-semita de Hitler.
O campo durou pouco mais de um ano, período no qual poucas dezenas de Schutzstaffels, com pouco mais de uma centena de guardas ucranianos, procuraram aperfeiçoar constantemente, primeiro, a máquina de extermínio e, depois - numa crueldade talvez ainda maior - eficientes maneiras de apagar da História a existência dos exterminados.
Em seu pleno funcionamento, a máquina era capaz de matar milhares por hora – em geral, só matava pela manhã. Assim, neste curto intervalo de tempo, acredita-se que tenham sido exterminados no campo entre 750 mil e 900 mil judeus, a espantosa e esmagadora maior parte nas câmaras de gás e muitos com espancamentos e tiros na nuca. Além disso, outros tantos se suicidaram, incapazes de suportar não somente a tortura e as péssimas condições de vida nas quais eram mantidos os prisioneiros judeus que faziam o campo funcionar, mas principalmente por saber para quê trabalhavam.
Foram selecionados, primeiro, em táticas cruéis que escolhiam os mais aptos para um trabalho que nem a pior das escravidões ao longo do tempo jamais conseguiu reproduzir. Depois, conforme o campo foi se aperfeiçoando nas estratégia de extermínio, conforme a habilidade dos prisioneiros em determinados ofícios. Por conta disso, em Treblinka, incontáveis exemplos de irmãos que participaram do assassinato de irmãos; pais da morte filhos, e filhos nas dos seus pais. De maneira consciente, mas de mãos, almas e vontades atadas, cerradas, torturadas pelo simples e isento de críticas apego à vida. E essa era a sensação de muitos: que diferença poderia fazer? Morrer instantaneamente ou esperar por mais alguns dias, sensação que em muitos casos dissipou-se nos indivíduos, conforme passava os dias ou conforme outras vidas através dos olhos e das mãos deles se esvaíam.
Foram selecionados, primeiro, em táticas cruéis que escolhiam os mais aptos para um trabalho que nem a pior das escravidões ao longo do tempo jamais conseguiu reproduzir. Depois, conforme o campo foi se aperfeiçoando nas estratégia de extermínio, conforme a habilidade dos prisioneiros em determinados ofícios. Por conta disso, em Treblinka, incontáveis exemplos de irmãos que participaram do assassinato de irmãos; pais da morte filhos, e filhos nas dos seus pais. De maneira consciente, mas de mãos, almas e vontades atadas, cerradas, torturadas pelo simples e isento de críticas apego à vida. E essa era a sensação de muitos: que diferença poderia fazer? Morrer instantaneamente ou esperar por mais alguns dias, sensação que em muitos casos dissipou-se nos indivíduos, conforme passava os dias ou conforme outras vidas através dos olhos e das mãos deles se esvaíam.
Dos guetos, vinham famílias inteiras espremidas em vagões, em geral de 150 a 200 pessoas, carregando suas roupas, dinheiros e pertences mais valiosos, todos crentes de que estavam sendo enviadas para campos de trabalho na Ucrânia. Chegavam numa pequena e simpática estação de trem onde eram recebidos por uma banda de música composta por judeus – prisioneiros. A pequena vila construída em volta das câmaras de gás de Treblinka servia não apenas para garantir o funcionamento do campo, mas também para convencer ou manter, até o último instante, a esperança dos recém chegados. Após o desembarque e a separação da bagagem maior, casais eram separados; depois, crianças, independente da idade, eram subitamente arrancadas das mães. Todos desfaziam-se do dinheiro e outros objetos de valor, depois as roupas do corpo e por fim dos cabelos, escrupulosamente raspados; daí, iam diretas para a morte. O que poderia esperar um pai ou uma mãe, às portas da câmara de gás, ao enfrentar tal experiência? Seria a morte suficiente?
Não para os nazistas, que ainda extraíam da boca dos cadáveres dentes de ouro, obturações e quetais.
Em todo o percurso, do trem para a morte, os prisioneiros judeus é quem selecionavam as roupas, cortavam os cabelos, recolhiam os objetos de valor, extraíam os dentes, enterravam os corpos – até que a cremação dos cadáveres começasse, com a finalidade de impossibilitar o registro do terror. Aí, então, bastaria matar até o último judeu!
Nomes, exemplos, histórias à parte nem cabem aqui. Estão na obra. É na leitura de algo assim que vem a dúvida, um parcial desejo da ignorância, a abençoada ignorância idiotizada que traz a felicidade. A ignorância com a qual muitos de nós não conseguimos nunca mais nos envolver. Até porque, mesmo ao peso de toda amargura e dor, da profunda vergonha de ser humano que a leitura de “Treblinka” excita, ainda resta na balança a funda necessidade de termos a verdade. Nem que sirva somente para não corrermos o risco de nos calarmos ao notar algo mesmo que semelhante à intolerância que provocou o Holocausto aconteça ou se repita.
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25/02/2012
SUPOSTA MATURIDADE
Curioso na produção abaixo é o tema. Pelo caderno onde está o manuscrito, calculo que seja lá perto dos 19 anos de idade. Se já havia esta sensação por lá, é só imaginar agora, exatamente com o dobro da idade...
O pó, a areia, as cinzas
escorrem sem cessão;
os ponteiros
continuam caminhando,
por vezes juntos,
ajustando separações.
Segundo a segundo
minuto por minuto
hora após hora...
Não creio que devo,
de qualquer forma,
impedir seus movimentos.
(Poderia?)
Mas também não os aceito,
e é isso que preocupa:
sua rapidez indetida e
minha insatisfação.
Preciso de espera,
suficiente para atingir o alvo,
o bastante para que possa
voltar a viver.
Sim, infelizmente...
Tornou-se um grave inimigo
adversário impaciente, fatalista,
determinista,
que jamais recorre a novos métodos
apenas luta contra a espera
e age sempre com a mesma crueldade.
Tudo vai acabando aos poucos:
eu,
quem comigo está,
o que tenho,
até o que me prometeram.
Não me dá o direito de apelar -
já que não existe por onde -,
por isso preciso de força,
para mostrar ao tempo
que nunca deixo de lutar
mesmo encarando a derrota inevitável
e o cansaço certo
a dor final da última decepção.
Ao mesmo tempo, grande adversário -
você, tempo, cruel e sádico -
não perde por esperar!
Em mim, a derrota inevitável um dia vencerá
pois em nenhum caso há surpresa
é o fato insofismável para todos,
então também para ti:
finda-se a submissão à espera.
O adversário
O pó, a areia, as cinzas
escorrem sem cessão;
os ponteiros
continuam caminhando,
por vezes juntos,
ajustando separações.
Segundo a segundo
minuto por minuto
hora após hora...
Não creio que devo,
de qualquer forma,
impedir seus movimentos.
(Poderia?)
Mas também não os aceito,
e é isso que preocupa:
sua rapidez indetida e
minha insatisfação.
Preciso de espera,
suficiente para atingir o alvo,
o bastante para que possa
voltar a viver.
Sim, infelizmente...
Tornou-se um grave inimigo
adversário impaciente, fatalista,
determinista,
que jamais recorre a novos métodos
apenas luta contra a espera
e age sempre com a mesma crueldade.
Tudo vai acabando aos poucos:
eu,
quem comigo está,
o que tenho,
até o que me prometeram.
Não me dá o direito de apelar -
já que não existe por onde -,
por isso preciso de força,
para mostrar ao tempo
que nunca deixo de lutar
mesmo encarando a derrota inevitável
e o cansaço certo
a dor final da última decepção.
Ao mesmo tempo, grande adversário -
você, tempo, cruel e sádico -
não perde por esperar!
Em mim, a derrota inevitável um dia vencerá
pois em nenhum caso há surpresa
é o fato insofismável para todos,
então também para ti:
finda-se a submissão à espera.
23/02/2012
Essa é recente.
A produção, hoje, é fortuita, ocasional, escassa. Não tem o que escolher, é só reproduzir...
Confusa sensação de aridez!
Como se uma profícua usina
de imagens, expressões,
sons e visões
se esgotasse com a rapidez
que a relatividade determina.
Um singelo segundo, apenas,
cada vez mais meteórico e pungente
quanto mais parece que a mente
se entope de metafóricos esquemas.
Ao mesmo tempo, vem o desuso
que de inútil não permite o novo;
total prevalência do ócio, um abuso
que eleva a condição do parvo.
Fim neste meio que sodomiza o saber,
entorpece valores,
idolatra o falso prazer
descortinando este palco de horrores.
Confusa sensação de aridez!
Como se uma profícua usina
de imagens, expressões,
sons e visões
se esgotasse com a rapidez
que a relatividade determina.
Um singelo segundo, apenas,
cada vez mais meteórico e pungente
quanto mais parece que a mente
se entope de metafóricos esquemas.
Ao mesmo tempo, vem o desuso
que de inútil não permite o novo;
total prevalência do ócio, um abuso
que eleva a condição do parvo.
Fim neste meio que sodomiza o saber,
entorpece valores,
idolatra o falso prazer
descortinando este palco de horrores.
ADOLESCÊNCIA E SUAS FASES...
Estranho é o mundo dos adolescentes. Principalmente quando não se tem a conversa, o diálogo, o conselho... Seja pela empáfia, soberba de não querer ou a falta de com quem.
Pois é, a sociedade contemporânea "inventou" o adolescente, estabeleceu uma longa transição da infância para a maturidade - sem fornecer todas as ferramentas de maturação. Obriga a molecada a tomar um rumo, mas mal se indica qual maneira conveniente, qual é a trilha: cada um depende dos seus, de quem o rodeia. E se tal grupo de pessoas não for dos mais bem-intencionados? Pouco perspicaz? Despreparado? Sim, tem outras alternativas - a própria escola -, mas aí é que está... A dinâmica social dos nossos dias impõe uma desvalorização evidente do que pra quê ela serve e de quem está lá fazendo ela funcionar.
Aí abaixo já é final de adolescência, a vida arrastando para um lado que não era ruim, mas também não era a escolha. Por que se é levado a isso? Problema grave, mas não procuro desculpas. No meu caso, tenho claro de quem foi a "culpa" no final. Nestes meus alfarrábios, vou tentando é recuperar quais eram os sentimentos no momento da escrita de cada uma das linhas, lembrando dos meus filhos, um já começando a viver essa fase... Aí abaixo tem uma vitamina de dúvidas+ansiedade.
DOR
Estou cansado de tantas decisões!!!
Estranho...
Nunca antes tomei uma decisão!
Então,
por que esta aflição?
Esta dor
indolor
que eu não sei o que é?
Vou em busca de poder,
um dia,
resolver minha vida vazia,
tão à toa,
"sofredora".
De mim não espero nada
e é por isso que prossegue a dor
incolor
sem imagem em mim
nem reflexo em ninguém.
Não digo o que sinto,
não porque não quero...
É porque receio descobrir
por causa da dor
indolor
e incolor
que não dói em nada
nem em mais ninguém.
Pois é, a sociedade contemporânea "inventou" o adolescente, estabeleceu uma longa transição da infância para a maturidade - sem fornecer todas as ferramentas de maturação. Obriga a molecada a tomar um rumo, mas mal se indica qual maneira conveniente, qual é a trilha: cada um depende dos seus, de quem o rodeia. E se tal grupo de pessoas não for dos mais bem-intencionados? Pouco perspicaz? Despreparado? Sim, tem outras alternativas - a própria escola -, mas aí é que está... A dinâmica social dos nossos dias impõe uma desvalorização evidente do que pra quê ela serve e de quem está lá fazendo ela funcionar.
Aí abaixo já é final de adolescência, a vida arrastando para um lado que não era ruim, mas também não era a escolha. Por que se é levado a isso? Problema grave, mas não procuro desculpas. No meu caso, tenho claro de quem foi a "culpa" no final. Nestes meus alfarrábios, vou tentando é recuperar quais eram os sentimentos no momento da escrita de cada uma das linhas, lembrando dos meus filhos, um já começando a viver essa fase... Aí abaixo tem uma vitamina de dúvidas+ansiedade.
DOR
Estou cansado de tantas decisões!!!
Estranho...
Nunca antes tomei uma decisão!
Então,
por que esta aflição?
Esta dor
indolor
que eu não sei o que é?
Vou em busca de poder,
um dia,
resolver minha vida vazia,
tão à toa,
"sofredora".
De mim não espero nada
e é por isso que prossegue a dor
incolor
sem imagem em mim
nem reflexo em ninguém.
Não digo o que sinto,
não porque não quero...
É porque receio descobrir
por causa da dor
indolor
e incolor
que não dói em nada
nem em mais ninguém.
16/12/2011
NENHUMA DIFERENÇA???
Em virtude do episódio parcialmente divulgado pela imprensa, da publicação do livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., vejo mais uma vez pessoas afirmando que não há diferença entre o PSDB e o PT.
Ora!! Isso me irrita e incomoda profundamente!! As diferenças são evidentes, saltam aos olhos. Tal afirmação é típica do cego-que-não-quer-ver! Posso rapidamente listá-las para pontuá-las aos incautos e aos radicais:
1 – A sigla PSDB tem 4 letras - a sigla PT tem duas;
2 – Apesar de terem, na sigla, a letra “P” de Partido em comum, o complemento de um é da Social-Democracia Brasileira - no de outro é dos Trabalhadores;
3 – Em um, predominam as cores azul, amarela e branca - no outro, a vermelha e a branca;
4 – O símbolo de um é o animal tucano - de outro, uma estrela estilizada;
5 – Um atualmente é oposição e já foi governo, na esfera federal – o outro, na mesma esfera, é governo e já foi oposição;
6 – Um recebe mais apoio do empresariado financeiro e da grande imprensa, e um pouco menos de outros setores empresariais – o outro recebe mais apoio do empresariado industrial e de publicidade, e um pouco menos de outros setores empresariais;
7 – Um aprofundou o know-how da “governabilidade” fisiológica e a praticou - o outro só praticou, porque o know-how já existia;
8 – O principal líder de um é FHC, Fernando Henrique Cardoso – do outro, é Lula, Luís Inácio da Silva.
9 – O grande aliado de um era o PFL – do outro, o PSB (não vai ninguém me encher com PMDB, né? Alguma semelhança eles tinham que ter!)
´Taí!!! Rapidamente, listei nove diferenças claras e evidentes entre os dois partidos! Como pode algum cidadão ainda ter a audácia de afirmar que "é tudo a mesma coisa"? Que não tem diferença? Que é "cara de um, focinho do outro"? Isso não é justo!!
Agora falando sério, existem realmente muitas semelhanças entre as duas agremiações políticas – semelhanças, repito. A origem, num sentido mais lato, é a mesma. A sigla de um torno-se a vertente ideológica do outro. As atitudes radicais, ora na posição de governo ora na de oposição, se parecem. Mas existem também, evidentemente, diferenças programáticas e ideológicas que infelizmente ficam escondidas debaixo do tapete – junto com a sujeira! Não se valoriza a discussão do projeto de país de cada partido, justamente porque ambos os grupos, no ilusório sonho de construir tais projetos (diferentes mas sempre servindo a mesma classe social), atuam na política com base no que pode haver de mais negativo e pernicioso na expressão “maquiavélico”, talvez exatamente porque não entendem com a necessária justeza etimológica tal expressão. E assim, cedem espaço ao fisiologismo e tornam-se culpados, no mínimo por conivência, pelo peculato, pela prevaricação, pela concussão e pela advocacia administrativa, nos mais altos padrões (e valores!!), tudo isso em nome da “governabilidade”.
Mas a ironia acima serve principalmente para os defensores ardorosos tanto do PSDB quanto do PT ou qualquer outro partido, que tratam e discutem política - como disse meu amigo virtual Sidney Ferreira da Costa, sendo original dele ou não a ideia - do mesmo modo que tratam e discutem futebol; que tratam os partidos como se fossem times de futebol (e aí, não tem discussão, não tem argumento, não tem mudança de posição, não tem ouvir o contraditório!!!)
Principalmente para aqueles que ainda alimentam ilusões para com a democracia representativa, certamente não é essa a maneira correta de construir; muito pelo contrário!! É este comportamento, de defender ardorosamente uma sigla e seus próceres, sem ponderação, reflexão e discussão, que geram a estagnação e provoca atitudes semelhantes, senão idênticas, de todos aqueles que ocupam o poder. As discussões têm que ser mais programáticas, pontuais, devem ser retomadas a cada novo assunto que entre na pauta política do país, e sem assumir imediatamente a posição do seu “partido de futebol”.
Pior que tudo, entretanto, é perceber que a grande imprensa brasileira, que detém naturalmente o privilégio da divulgação de ideias e pensamentos, quer escolher em nome dos brasileiros quem é que vai ocupar o poder para praticar ou permitir, enquanto governo, constantes crimes e ataques contra os reais interesses do povo - que se torna, cada vez mais, refém da própria ignorância.
11/12/2011
PORQUE EU ERA CONTRA A SEPARAÇÃO DO PARÁ
Já posso dizer que ERA contra, pois os paraenses, na proporção final aproximada de 67%, recusaram dividir ou retalhar o estado.
Sei que algumas pessoas apoiavam a divisão sustentando a opinião em argumentos válidos, que iam desde a distância do poder público, a diferença regional em termos econômicos e até mesmo culturais. Não vou me estender aqui no refutar destes argumentos - pois meu principal motivo de defender o Pará uno é outro -, mas o estado (o governo, seja lá em qual esfera for) tem teorica e historicamente uma missão, que abrange inclusive a administração das diferenças, perpassando suas tarefas básicas. É bem verdade que o estado capitalista liberal burguês, "democrático" ou não, na prática jamais vai funcionar assim, mas é por isso mesmo que o argumento é inválido: inútil como um, incapaz como dois ou ineficaz dividido em três.
Tenho um argumento central, mas também podemos falar do quanto é equivocado aumentarmos o custo público com a divisão das atuais unidades federativas. Deveríamos, sim, é pensar no contrário, em unir pequenos estados tanto em população quanto em território, para efetivamente enxugar a máquina pública e disponibilizar recursos para necessidades reais da população, ainda que nos parâmetros do estado liberal burguês. Mas dizer qualquer coisa neste sentido, ponderando a dinâmica que adquirem determinadas discussões em nosso país, seria quase o mesmo que tentativa de suicídio! Só para não deixar passar em branco, nossa divisão federativa, especialmente no litoral Atlântico, está ainda fundamentada na divisão em capitanias hereditárias de 480 anos atrás, e os traços autônomos e regionais indiscutivelmente presentes devem-se muito mais ao controle da coroa portuguesa no tocante às comunicações e transportes entre as capitanias (depois províncias) com medo do contrabando e da divulgação do conhecimento, do medo de rebeliões e do risco de perda ou diminuição do seu poder. Mas, enfim... Continuaremos sustentando quase 3 dezenas de Assembleias Legislativas (com seus respectivos cargos e penduricalhos), 3 dezenas de secretariados (com seus respectivos cargos e penduricalhos), além de outros incontáveis departamentos e empresas públicas dividas por estados (com seus respectivos cargos e penduricalhos). Dividir para melhor corromper, dividir para mais onerar, dividir para melhor concentrar o poder.
Aí é que está a questão: dividir um estado em dois, três ou dez é multiplicar o potencial de desvio - posto que a possibilidade de controle e de fiscalização também se divide -, além de permitir que algumas famílias de poder local acentuem a prática do coronelismo moderno, mantendo até mesmo algumas das práticas do coronelismo das oligarquias rurais da Primeira República, o que hoje é possível pelo misto de ignorância e inocência a qual se submete ainda boa parte da população.
Não ao aumento inútil do gasto público.
Não à concentração do poder nas mãos de alguns privilegiados.
Não ao aumento dos corrompidos.
O NÃO para a divisão do Pará foi um NÃO para tudo isso, mesmo que as discussões entre os paraenses tenham corrido em outros termos, mesmo que não tenha sido este o objetivo do NÃO pela maioria dos paraenses.
Carajás e Tapajós o Barbalho!!!!!
Sei que algumas pessoas apoiavam a divisão sustentando a opinião em argumentos válidos, que iam desde a distância do poder público, a diferença regional em termos econômicos e até mesmo culturais. Não vou me estender aqui no refutar destes argumentos - pois meu principal motivo de defender o Pará uno é outro -, mas o estado (o governo, seja lá em qual esfera for) tem teorica e historicamente uma missão, que abrange inclusive a administração das diferenças, perpassando suas tarefas básicas. É bem verdade que o estado capitalista liberal burguês, "democrático" ou não, na prática jamais vai funcionar assim, mas é por isso mesmo que o argumento é inválido: inútil como um, incapaz como dois ou ineficaz dividido em três.
Tenho um argumento central, mas também podemos falar do quanto é equivocado aumentarmos o custo público com a divisão das atuais unidades federativas. Deveríamos, sim, é pensar no contrário, em unir pequenos estados tanto em população quanto em território, para efetivamente enxugar a máquina pública e disponibilizar recursos para necessidades reais da população, ainda que nos parâmetros do estado liberal burguês. Mas dizer qualquer coisa neste sentido, ponderando a dinâmica que adquirem determinadas discussões em nosso país, seria quase o mesmo que tentativa de suicídio! Só para não deixar passar em branco, nossa divisão federativa, especialmente no litoral Atlântico, está ainda fundamentada na divisão em capitanias hereditárias de 480 anos atrás, e os traços autônomos e regionais indiscutivelmente presentes devem-se muito mais ao controle da coroa portuguesa no tocante às comunicações e transportes entre as capitanias (depois províncias) com medo do contrabando e da divulgação do conhecimento, do medo de rebeliões e do risco de perda ou diminuição do seu poder. Mas, enfim... Continuaremos sustentando quase 3 dezenas de Assembleias Legislativas (com seus respectivos cargos e penduricalhos), 3 dezenas de secretariados (com seus respectivos cargos e penduricalhos), além de outros incontáveis departamentos e empresas públicas dividas por estados (com seus respectivos cargos e penduricalhos). Dividir para melhor corromper, dividir para mais onerar, dividir para melhor concentrar o poder.
Aí é que está a questão: dividir um estado em dois, três ou dez é multiplicar o potencial de desvio - posto que a possibilidade de controle e de fiscalização também se divide -, além de permitir que algumas famílias de poder local acentuem a prática do coronelismo moderno, mantendo até mesmo algumas das práticas do coronelismo das oligarquias rurais da Primeira República, o que hoje é possível pelo misto de ignorância e inocência a qual se submete ainda boa parte da população.
Não ao aumento inútil do gasto público.
Não à concentração do poder nas mãos de alguns privilegiados.
Não ao aumento dos corrompidos.
O NÃO para a divisão do Pará foi um NÃO para tudo isso, mesmo que as discussões entre os paraenses tenham corrido em outros termos, mesmo que não tenha sido este o objetivo do NÃO pela maioria dos paraenses.
Carajás e Tapajós o Barbalho!!!!!
04/12/2011
ADEUS AO MAIOR FUTEBOLISTA DE TODOS OS TEMPOS
Eu não falo simplesmente do brilho dentro de campo (e que ele tinha, gigantesco), não falo da capacidade de decidir (quantas vezes ele não foi decisivo?), do número de gols (uns 350 na carreira), de títulos ou de prêmios; é mais abrangente que isso. É sobre o ser humano que ele foi.
Mesmo sendo Pelé incontestavelmente o maior jogador de futebol de todos os tempos, e que ainda tantos outros possam ter jogado um melhor futebol, Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira é o maior futebolista de todos os tempos. Porque, juntando o excepcional jogador que ele foi, o craque que só não brilhou mais porque sabia e defendia com unhas e dentes que a vida era muito mais que tal esporte, o craque que não se preocupava em ser um atleta na estreiteza do aspecto físico, é preciso ainda ponderar o excepcional homem que ele foi. Sabia e queria viver, na plenitude da condição de Homo sapiens sapiens. Cometeu seus abusos e erros, infelizmente, mas até isso serve para mostrar o ser humano completo e por isso complexo que ele foi. Com tudo isso junto, não tenho dúvida, podemos colocá-lo, num conceito mais abrangente, como o maior futebolista de todos os tempos.
Quando jovem, chegou a declarar que, entre futebol e medicina, ficaria com a medicina. Aquele que desenvolveu um jeito de jogar, uma marca registrada com seu calcanhar, para ganhar a massa, a torcida, para alegrar, divertir e fazer do futebol aquilo que acreditava o esporte ser: espetáculo. Um homem que, sem pecha, com transparência e clarividência, defendeu um papel mais positivo do futebol para os jovens, pregando aos clubes não apenas a preocupação em formar atletas, mas também a de pensar em formar homens, cidadãos. Criticava aberta e duramente as grandes estrelas de futebol chamando-as de "crianças" que não sabem o que querem ou sequer o que é melhor para as próprias vidas, reféns de empresários, procuradores, assessores de imprensa, de imagem, disso e daquilo. Afinal, um cidadão, um homem, uma pessoa consciente, teria plenas condições de administrar a própria carreira, tocar a vida.
Sócrates, o Doutor, o gênio não simplesmente com a bola nos pés, mas gênio na vida, e que, maduro, adulto, transformado em completo, ia além de afirmar que ganhar não era a coisa mais importante no futebol: ganhar para ele simplesmente não era importante!
E como tudo começa? Começa num país refém de um sistema político que matou, torturou e "sumiu" com milhares, um regime que condenou o país à ignorância que ainda persiste, amarrando-nos à intolerância e ao extremo (por conta do extremo tamanho do autoritarismo, o fim do período militar nos fez mergulhar no extremo da pura libertinagem a nos consumir). Aí veio ele, com outros companheiros, dentro de um clube de futebol com milhões de adeptos, ensinando que as pessoas têm que ter autonomia, consciência, liberdade, participação, discussão, entender o compartilhamento de decisões, ganhar maturidade. Liderou, organizou e foi o maior expoente da Democracia Corintiana, o mais fantástico movimento no futebol mundial, indo muito além das quatro linhas do gramado. E mesmo assim, ele jogou demais! Um dos 100 maiores de todos os tempos. Não à toa, capitão de um dos maiores esquadrões formados no Brasil, a Seleção Brasileira da Copa do Mundo da Espanha, em 1982.
Foi a maior figura, dentro e fora de campo, de um dos maiores clubes do mundo.
Foi embora deste mesmo clube e do país porque as eleições aqui continuariam indiretas, sem a participação do povo.
Sócrates se foi. Que dia triste, que dia sem graça, que dia cinza!
Sou absolutamente contrário aos "minutos de silêncio" que haverão hoje pelos estádios do Brasil afora. Afinal, sem Sócrates, o futebol infelizmente se tornou absoluta e definitivamente silencioso. Refém da mesmice, do que há de mais estúpido no senso comum e nas concepções fáceis da esmagadora maioria que há muito já se esqueceu qual é a essência da existência da prática esportiva.
O time no qual ele brilhou entra em campo, logo mais, com enorme chance de ser campeão brasileiro: ainda que superando o rival, ainda que dando espetáculo, mesmo que seja uma goleada...
Haverá o que comemorar?
Mesmo sendo Pelé incontestavelmente o maior jogador de futebol de todos os tempos, e que ainda tantos outros possam ter jogado um melhor futebol, Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira é o maior futebolista de todos os tempos. Porque, juntando o excepcional jogador que ele foi, o craque que só não brilhou mais porque sabia e defendia com unhas e dentes que a vida era muito mais que tal esporte, o craque que não se preocupava em ser um atleta na estreiteza do aspecto físico, é preciso ainda ponderar o excepcional homem que ele foi. Sabia e queria viver, na plenitude da condição de Homo sapiens sapiens. Cometeu seus abusos e erros, infelizmente, mas até isso serve para mostrar o ser humano completo e por isso complexo que ele foi. Com tudo isso junto, não tenho dúvida, podemos colocá-lo, num conceito mais abrangente, como o maior futebolista de todos os tempos.
Quando jovem, chegou a declarar que, entre futebol e medicina, ficaria com a medicina. Aquele que desenvolveu um jeito de jogar, uma marca registrada com seu calcanhar, para ganhar a massa, a torcida, para alegrar, divertir e fazer do futebol aquilo que acreditava o esporte ser: espetáculo. Um homem que, sem pecha, com transparência e clarividência, defendeu um papel mais positivo do futebol para os jovens, pregando aos clubes não apenas a preocupação em formar atletas, mas também a de pensar em formar homens, cidadãos. Criticava aberta e duramente as grandes estrelas de futebol chamando-as de "crianças" que não sabem o que querem ou sequer o que é melhor para as próprias vidas, reféns de empresários, procuradores, assessores de imprensa, de imagem, disso e daquilo. Afinal, um cidadão, um homem, uma pessoa consciente, teria plenas condições de administrar a própria carreira, tocar a vida.
Sócrates, o Doutor, o gênio não simplesmente com a bola nos pés, mas gênio na vida, e que, maduro, adulto, transformado em completo, ia além de afirmar que ganhar não era a coisa mais importante no futebol: ganhar para ele simplesmente não era importante!
E como tudo começa? Começa num país refém de um sistema político que matou, torturou e "sumiu" com milhares, um regime que condenou o país à ignorância que ainda persiste, amarrando-nos à intolerância e ao extremo (por conta do extremo tamanho do autoritarismo, o fim do período militar nos fez mergulhar no extremo da pura libertinagem a nos consumir). Aí veio ele, com outros companheiros, dentro de um clube de futebol com milhões de adeptos, ensinando que as pessoas têm que ter autonomia, consciência, liberdade, participação, discussão, entender o compartilhamento de decisões, ganhar maturidade. Liderou, organizou e foi o maior expoente da Democracia Corintiana, o mais fantástico movimento no futebol mundial, indo muito além das quatro linhas do gramado. E mesmo assim, ele jogou demais! Um dos 100 maiores de todos os tempos. Não à toa, capitão de um dos maiores esquadrões formados no Brasil, a Seleção Brasileira da Copa do Mundo da Espanha, em 1982.
Foi a maior figura, dentro e fora de campo, de um dos maiores clubes do mundo.
Foi embora deste mesmo clube e do país porque as eleições aqui continuariam indiretas, sem a participação do povo.
Sócrates se foi. Que dia triste, que dia sem graça, que dia cinza!
Sou absolutamente contrário aos "minutos de silêncio" que haverão hoje pelos estádios do Brasil afora. Afinal, sem Sócrates, o futebol infelizmente se tornou absoluta e definitivamente silencioso. Refém da mesmice, do que há de mais estúpido no senso comum e nas concepções fáceis da esmagadora maioria que há muito já se esqueceu qual é a essência da existência da prática esportiva.
O time no qual ele brilhou entra em campo, logo mais, com enorme chance de ser campeão brasileiro: ainda que superando o rival, ainda que dando espetáculo, mesmo que seja uma goleada...
Haverá o que comemorar?
30/11/2011
ISSO AINDA EXISTE!!
Dois episódios, ontem, fizeram eu recordar que este sítio aqui existe!!!! Então, vamos lá, vamos publicar um a mais, na peneira cada vez mais difícil... Peneira que sempre me põem num sorriso, porque as leituras me trazem frequentemente as lembranças do mote da escrita. Essa foi resultado de um dia de premiação, quando recebi duas medalhas pelas quais não pude dar atenção, então roubada por uma presença, e depois um assomo de coragem interrompido no meio do caminho.
Tudo o que faz lembrar o que fui e, certamente, continua ingrediente do que hoje sou, embora as lembranças, felizmente, sejam apenas lembranças.
Da procura que não faço resultam
duas mágoas, mas a culpa não se espelha
apenas na minha imagem
teus olhos também te acusam e tuas palavras
dissimulam o que guardas no canto mais recôndito
do teu coração.
A divisão que causas, nada sanável, em mim se apresenta.
Fecho os olhos e tento a sorte nos passos seguintes
escuridão não é o que encontro, mas sim ilusão
de que eu esbarre em outro alguém que te
ofusque e que apague definitivamente aquela que me
marca e me persegue e me atormenta desde há tanto tempo,
e me tornando um cofre de sentimentos prestes a explodir,
porque não há escape, alívio, descanso.
Até que estes passos incertos de olhos vendados façam
com que eu caia morto.
Todos pensarão ser teu o disparo, mas a
balística revelará que tua flecha negra foi
atirada com minhas próprias mãos.
Tudo o que faz lembrar o que fui e, certamente, continua ingrediente do que hoje sou, embora as lembranças, felizmente, sejam apenas lembranças.
BALÍSTICA
Da procura que não faço resultam
duas mágoas, mas a culpa não se espelha
apenas na minha imagem
teus olhos também te acusam e tuas palavras
dissimulam o que guardas no canto mais recôndito
do teu coração.
A divisão que causas, nada sanável, em mim se apresenta.
Fecho os olhos e tento a sorte nos passos seguintes
escuridão não é o que encontro, mas sim ilusão
de que eu esbarre em outro alguém que te
ofusque e que apague definitivamente aquela que me
marca e me persegue e me atormenta desde há tanto tempo,
e me tornando um cofre de sentimentos prestes a explodir,
porque não há escape, alívio, descanso.
Até que estes passos incertos de olhos vendados façam
com que eu caia morto.
Todos pensarão ser teu o disparo, mas a
balística revelará que tua flecha negra foi
atirada com minhas próprias mãos.
11/11/2011
Homenageando um amigo...
Nos últimos dias, conversei nas redes sociais virtuais com um amigo das antigas, grande amigo, aliás, um dos que tenho muitas saudades. Discutimos acerca dos acontecimentos na USP e, embora não tenhamos discordado, certamente não convergimos o suficiente - muito embora também não tenhamos alongado a discussão. Pensei muito no meu amigo Tatu, nestes últimos dias, o que me levou a procurar o que vai abaixo. Coisa de vinte anos atrás, um dos textos que, à época, ele claramente demonstrou apreciar. Tem mais um que ainda estou à caça.
Ah, tanto minhas linhas quanto o "apreceio" dele são de adolescentes...
Ah, tanto minhas linhas quanto o "apreceio" dele são de adolescentes...
DESEJOS
Seus olhos, mesmos gelados,
já não me olham mais...
Suas mãos, ainda que crispadas,
já não me tocam mais...
Suas lágrimas, sempre quase sempre secas,
já não caem mais por mim...
Sua voz, insistindo na indiferença,
já não repete mais meu nome...
Seu peito, cada vez mais compassado,
já não tem mais emoção...
Eu sei,
nada disso nunca aconteceu...
Mas, ainda assim, sua visão
ao menos me permite ilusão.
05/11/2011
Muito antiga, quase tudo tão atual...
SEM NOVIDADE
Assim se leva uma vida vazia,
procurando encontrar um tipo de alegria
que nos faça mais reticentes
com o que nos tornou incoerentes.
Sem ter a simples vontade de ser diferente,
caminhamos de encontro ao destino
enfrentando caminhos de puro desatino.
Mas resta sempre esperar uma novidade
que se acaba em cada novo passo;
retorno a encontrar infelicidade
insistindo em entender o que faço
de mim,
pobre, iludido,
esperando mudar-me com o tempo, enfim,
tão perdido.
Só em novos fracassos e decepções
percebo a mensagem das lições
aplicadas enquanto fujo da consciência:
pequenas porções de dor que mostram coerência
e assim farão com que o caminho não
indique a saída antes do fim da ilusão.
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